sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A terra do futuro cemitério de Uberlândia


No dia 01 de agosto de 2011, três mil famílias eram despejadas de uma área às margens da BR050, próximo ao CEASA, em Uberlândia. A insensibilidade das autoridades locais, em particular da Prefeitura Municipal, era gritante, proibindo às famílias de ficarem até mesmo, em praça pública. Contudo, um mês depois a mesma Prefeitura de Uberlândia, através do DECRETO Nº 12.997, de 30 de agosto de 2011, desapropria, por utilidade pública, parte dessa área, para o novo cemitério da cidade.
Com esse ato a prefeitura já começa a sepultar indícios e denuncias de fraudes cartorárias, que pesam sobre toda aquela área.
No que pese o fato do grande número de moradias populares construídas na cidade, com recursos do governo federal, a necessidade de moradia é uma demanda enorme. As famílias ao ocuparem a referida área, mesmo com toda a polêmica que esse ato possa causar, nos apontaram para a essa realidade. Existe um grande contingente de famílias vivendo em situação de pobreza.
Torna-se cada vez mais urgente incentivar o desenvolvimento de uma nova cultura que fortaleça uma política de respeito e valorização humana. Os corações dos políticos se endurecem, muitas vezes nos processos políticos. A afirmação do poder e a vontade ideológica de criminalizar os conflitos sociais, quando esses se irrompem fora dos planos e projetos de quem governa, leva à insensibilidade e a perda de humanismo por parte de políticos. Humanizar a ação política, resgatar e fortalecer o comportamento ético para se adotar um comportamento que escuta e dialoga com os clamores do povo e valoriza a vida, é necessário.
Sepultar as pessoas é um gesto humano e cristão. O ser humano é sagrado, por isso, popularmente, em nossa cultura, os cemitérios são chamados de Campo Santo. Contudo, não só o ser humano falecido é sagrado, e deve ser honrado e ter um pedaço de chão. Os vivos, que muitas vezes nos incomodam, não deixam a condição de seres humanos, só porque pobres ou por assumirem ações que desafiam nossos planos ou nossas estratégias. O acesso à terra é para todos e não só para o desenvolvimento e fortalecimento de negócios privados.
Esse novo cemitério, em área de conflito, reivindicada por milhares de famílias, que buscam vida digna, e agora desapropriada para negócio privado, nos faz recitar o poema severino:
“Esta cova em que estás com palmos medida / É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo / É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida / É a terra que querias ver dividida.”

Uberlândia 4 de novembro de 2011
Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade - AFES
Comissão Pastoral da Terra - CPT MG

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