No
dia 01 de agosto de 2011, três mil famílias eram despejadas de uma área às
margens da BR050, próximo ao CEASA, em Uberlândia. A insensibilidade das
autoridades locais, em particular da Prefeitura Municipal, era gritante, proibindo
às famílias de ficarem até mesmo, em praça pública. Contudo, um mês depois a
mesma Prefeitura de Uberlândia, através do DECRETO Nº 12.997, de 30 de agosto
de 2011, desapropria, por utilidade pública, parte dessa área, para o novo
cemitério da cidade.
Com
esse ato a prefeitura já começa a sepultar indícios e denuncias de fraudes
cartorárias, que pesam sobre toda aquela área.
No
que pese o fato do grande número de moradias populares construídas na cidade,
com recursos do governo federal, a necessidade de moradia é uma demanda enorme.
As famílias ao ocuparem a referida área, mesmo com toda a polêmica que esse ato
possa causar, nos apontaram para a essa realidade. Existe um grande contingente
de famílias vivendo em situação de pobreza.
Torna-se
cada vez mais urgente incentivar o desenvolvimento de uma nova cultura que
fortaleça uma política de respeito e valorização humana. Os corações dos
políticos se endurecem, muitas vezes nos processos políticos. A afirmação do
poder e a vontade ideológica de criminalizar os conflitos sociais, quando esses
se irrompem fora dos planos e projetos de quem governa, leva à insensibilidade
e a perda de humanismo por parte de políticos. Humanizar a ação política,
resgatar e fortalecer o comportamento ético para se adotar um comportamento que
escuta e dialoga com os clamores do povo e valoriza a vida, é necessário.
Sepultar
as pessoas é um gesto humano e cristão. O ser humano é sagrado, por isso,
popularmente, em nossa cultura, os cemitérios são chamados de Campo Santo.
Contudo, não só o ser humano falecido é sagrado, e deve ser honrado e ter um
pedaço de chão. Os vivos, que muitas vezes nos incomodam, não deixam a condição
de seres humanos, só porque pobres ou por assumirem ações que desafiam nossos
planos ou nossas estratégias. O acesso à terra é para todos e não só para o desenvolvimento
e fortalecimento de negócios privados.
Esse
novo cemitério, em área de conflito, reivindicada por milhares de famílias, que
buscam vida digna, e agora desapropriada para negócio privado, nos faz recitar
o poema severino:
“Esta cova em que estás com
palmos medida / É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem
fundo / É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
/ É a terra que querias ver dividida.”
Uberlândia 4 de novembro de 2011
Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade - AFES
Comissão Pastoral da Terra - CPT MG
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