quarta-feira, 20 de junho de 2012

Economia Verde - Comoditização da Vida

Por Frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, ofm
     A Economia Verde é uma grande estratégia, quem vem sendo construída pelo capital, como saída para a crise (financeira, energética, de alimentação, climática), na qual o mundo se encontra. Desde 2007, quando na reunião do G8 +5 países emergentes, na Alemanha, se encomendou um estudo sobre "a importância econômica da perda global da diversidade biológica". Esse estudo ficou sob a responsabilidade do Programa Ambiental das Nações Unidas – PNUMA, com vários relatórios, que lançaram a chamada Economia dos Ecossistemas e sua Biodiversidade (com a sigla em inglês: TEEB).
Uma série de outros documentos busca elaborar uma base conceitual, ainda não definida e polêmica, para a economia verde.
   Em fevereiro de 2009, o PNUMA, lançou um conjunto de propostas políticas visando combater o aquecimento global e a crise financeira, com o título: “A Global Green New Deal”[1] (Um Novo Acordo Global Verde), inspirado no programa social e econômico, lançado pelo então Presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, durante a depressão de 1929. Em junho de 2009, ministros de 34 países, assinaram a “Declaração sobre Crescimento Verde”[2]. Nessa declaração eles atestam que: “A recuperação econômica e ambientalmente e socialmente sustentável de crescimento econômico são os principais desafios que todos os países estão enfrentando hoje”. Para eles não existe incompatibilidade entre o verde e o crescimento. Esses ministros encarregaram a OCDE[3] (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) que criasse uma estratégia para o crescimento verde. Essa estratégia foi publicada no documento, “A Caminho do Crescimento Verde” [4], em maio de 2011. Em dezembro de 2009, o UNDESA (Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas) lançou uma nota técnica, na linha do PNUMA, com o título “A Global Green New Deal” for Climate, Energy, and Development”[5] (Novo Acordo Global Verde para o Clima, Energia e Desenvolvimento). Em 2010, o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, cuja sigla em inglês é WBCSD, publicou um relatório chamado "Visão 2050 - uma nova agenda para os negócios" , que foi assinado por 29 grandes corporações que fazem parte deste organismo internacional. A Visão 2050 foi proposta como uma ferramenta para a formulação de políticas públicas e tomada de decisões para os próximos 40 anos. Em 2011, o PNUMA lançou um relatório, "Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza", que traça um caminho de crescimento econômico até 2050, e está na base do que se pretende com a Rio +20..
    Durante todo esse período de lançamento desses documentos, o PNUMA se aproximou cada vez mais do mundo empresarial, das grandes corporações e de seus interesses, com parcerias e realização de vários eventos.
   O que todos esses documentos têm em comum é a busca de uma estratégia de novas políticas econômicas, de investimentos, de incentivos e de inovações tecnológicas conjugadas com políticas ambientais, para que a economia se recupere, novos empregos sejam criados, para manter o crescimento e a acumulação de capital.
    O PNUMA através do “Global Green New Deal”, sugere que para a recuperação econômica mundial, é necessário uma combinação de ações políticas, que enfrentem as “ameaças imediatas colocadas pelas alterações climáticas, a insegurança energética, a crescente escassez de água doce, a deterioração dos ecossistemas e, sobretudo, o agravamento da pobreza mundial. O caminho é a redução da dependência de carbono, a proteção dos ecossistemas e dos recursos hídricos e a redução da pobreza, o seu impacto na prevenção de crises futuras serão de curta duração.
    Aliar o verde ao crescimento e à economia, não é uma novidade. Em realidade o capitalismo já vem buscando se “ecologizar” desde a Rio92. Na Eco 92 o capital adjetivou de sustentável o desenvolvimento, para poder continuar se reproduzindo. Assumiu como mercado as chamadas certificações verdes e criou a responsabilidade socioambiental, como instrumento de marketing.
    Para a crítica à economia verde, eu me utilizarei de uma citação, de um trecho do romance Grande Sertão: Veredas - de Guimarães Rosa.
"O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo Jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucúia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá - fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniões... O sertão está em toda a parte." 
     Um primeiro aspecto, que a economia verde ignora, e que de forma ilustrativa podemos encontrar nesta citação de Grande Sertão Veredas é que, as unidades naturais da paisagem nas quais aplicamos os conceitos de Ecologia para a conservação e manejo, no caso do texto citado, o sertão, são uma construção social, econômica e cultural, que vai além de sua dimensão biótica. Se considerarmos a atividade humana da agricultura familiar[6], por exemplo, a convivência do ser humano com a natureza é vital. Essa convivência levou ao desenvolvimento de sistemas para a realização da atividade agrícola, como por exemplo, o sistema de preparo do solo para o plantio, como o de roça de toco, ou o sistema de plantio propriamente dito, consorciado onde o milho, o feijão e a abobora, cumprem funções diferenciadas. O agricultor familiar, nessa convivência com a natureza, está acostumado a viver com restrições ambientais em relação à sua atividade agrícola. A agricultura familiar praticada no, o bioma do Cerrado, por exemplo, convive com duas grandes modificações sucessivas, que acontecem na paisagem. Isso porque o bioma do Cerrado está condicionado a duas estações climáticas bem definidas, invernos secos e verões chuvosos. A prática agrícola familiar, em geral, busca se estabelecer no o meio natural através de sistemas de convivência com a natureza que promovam uma exploração a mais adaptada possível. Em vista da sobrevivência a agricultura familiar tende a buscar a diversidade e a adaptação, possibilitando a criação de sistemas sustentáveis de vida.
    Por outro lado, podemos considerar uma outra perspectiva de fazer agricultura, a de negócio de mercado. O agronegócio estabelece outra construção social e cultural, em relação a biota. Diferente da agricultura familiar, o agronegócio não estabelece um sistema de convivência com a natureza. O  que seria, por exemplo, o Cerrado, na perspectiva do agronegócio?  Fui buscar uma resposta emblemática, lá no início da chamada modernização da agricultura no Cerrado. Quando da implantação de programas de revolução verde, nesse ecossistema, o então Ministro do Planejamento, Reis Veloso, do governo do General Geisel, no período da ditadura militar, ao pronunciar-se sobre o POLOCENTRO, definiu a ideia de cerrados, que acabou se impondo: "...o cerrado não gosta de agricultura tradicional e sim de agricultura empresarial, com inteligência. Gosta de fertilizantes, de tecnologia avançada e de mecanização. É uma oportunidade que temos de modificar a estrutura da exploração agrícola no Brasil[7].
     Fica assim claro que é necessário desvendar sob qual construção social, econômica e cultural, estamos aplicando os conceitos de Ecologia para a conservação e manejo da natureza.  A relação do ser humano, que é também natureza, com a natureza externa a ele é sempre mediada por relações sociais. Uma coisa é considerar a atividade agrícola, somente como um pacote econômico e tecnológico de insumo – produto – mercado. Outra coisa é considerar a agricultura antes de tudo como uma base de vida e de organização social, em um território, em um meio ambiente. A dinâmica social, cultural e a forma de ocupação do território estão no cerne da sustentabilidade.
    A utilização e a gestão eficiente dos recursos naturais, como prega economia verde, são inócuas se mantivermos relações sociais, econômicas e culturais inerentes ao capitalismo. Acreditar que uma mudança tecnológica e a apropriação da natureza como capital, resolveriam as crises é o mesmo que acreditar que uma suposta vontade e responsabilidade ambiental do mercado automaticamente promoveria o crescimento econômico estável, sustentabilidade ambiental e por si realizaria a melhoria dos padrões de vida para todos.
     No caso da agricultura, que é o exemplo que estamos utilizando, a sustentabilidade está ligada à questões como agricultura camponesa, às comunidades tradicionais e aos povos indígenas, que há muito estabeleceram sistemas de vida e convivência com a natureza. Tem a ver também com a reforma agrária, soberania alimentar, agroecologia e economia solidária. A sustentabilidade tem a ver ainda com a defesa da vida e dos bens comuns, com a afirmação de direitos ameaçados, como o direito à terra e ao território, o direito à cidade, os direitos da natureza e das futuras gerações com o livre acesso às sementes, com a distribuição de renda, etc.
     A terra e o território são ao mesmo tempo espaço físico, meio ambiente, ecologia, mas também espaço social, cultural, histórico e religioso. Por isso se fala hoje em justiça ambiental de forma mais ampla, não podendo separá-la da justiça social.
    A economia verde não aponta para uma nova relação entre as culturas humanas e a natureza, a Mãe Terra. A economia não questiona e não supera o paradigma da era moderna, produção/ consumo, desenvolvimento/crescimento, propriedade/lucro/acumulação.
   Outro aspecto que a “economia vede” não questiona, é a visão utilitarista da natureza. Considera a natureza como um bem economico, como capital, lhe qualifica como capital natural.
    Consideramos até aqui, que a nossa relação de seres humanos com a natureza externa a nós, é permeada pelas relações sociais. Vimos que os territórios, além de serem espaços físicos e bióticos, são também construções sociais e culturais. Refletimos que os conceitos de “economia verde” desenvolvidos, nos documentos, que a norteia, desconsideram uma crítica mais profunda e a superação das relações sociais, e das construções sociais e culturais, que estão na base da degradação ambiental e das crises em que vivemos. O modelo hegemonico de sociedade e de cultura, na qual vivemos, o capitalismo, não é colocado em xeque, mas sim recondicionado, agora de verde, para manter seus valores e princípios. Isso fica mais claro, quando os conceitos e propostas da economia verde trabalham a questão das interações que ocorrem dentro dos ecossistemas. Para a economia verde a apropriação da dinamica da vida como ativo economico é uma solução para nossas crises.
     Para melhor entendermos, vejamos: Na natureza tudo se relaciona. Todas as formas de vida e de matéria do planeta estão em relação. Se pensarmos numa floresta, a árvore, por exemplo, produz seu proprio alimento através da fotossíntese. Ela sintetiza sua biomassa através de elementos inorgânicos dissolvidos, de dióxido de carbono e da captação de energia solar. Usa a energia da luz do sol, a água, o solo, sais minerais e o gás carbonico, ela produz então a seiva que faz crescer a planta e aumenta sua matéria viva. A planta libera algumas substâncias, como o oxigênio, que é muito importante para a vida. Mas a planta também morre, em parte ou totalmente, no fim de sua vida. Os animais, por sua vêz, consomem essa matéria ogânica criando a base de uma cadeia alimentar. O oxigênio e a massa, seja aquela viva ou morta da planta, são úteis para outros seres vivos, e geram, em última instância, condições para mais vida. A matéria orgânica morta seja a vegetal ou animal entra em decomposição e se mineraliza pelos microrganismos.
     Como podemos notar, com essa descrição simples e bastente resumida, uma floresta natural, para a sua existência, depende de um ciclo biogéoquimico. Um ciclo que processa energia e regenera nutrientes, através dos organismos vivos e do ambiente físico, no qual os organismos vivos interagem. A floresta se expande sem empobrecer o meio ambiente, onde está. Ela nunca produz uma super quantidade de resíduos, que não possa ser absorvido pelo ambiente, o próprio ambiente a impede.
     A Economia Verde considera que os ciclos naturais que permitem a vida, como esse que acabamos de descrever, seriam serviços que a natureza presta, dos quais os seres humanos se servem para sua sobrevivância e bem estar. Esses serviços, segundo a ideia da economia verde, deveriam ser revestidos de um valor economico, como forma de se garantir um adequado gerenciamento da sustentabilidade. Já não basta mais mercantilização da parte material da natureza, mas se quer a mercantilização dos processos e funções da natureza via o comércio dos serviços dos ecossistemas.
    Na pratica, na economia verde o capital quer se apossar das intereções que ocorrem dentro dos ecossistemas. Fazer com que os complexos sistemas e ciclos naturais formados pela interrelação dos organismos vivos (plantas, animais, microorganismos) com os organismos não vivos (água, ar, solo, vento) sejam considerados como um ativo economico. Assim temos o capital se apropriando da dinâmica da própria vida. Transformando a vida em mercadoria.
     A economia verde, por sua vez, é um dos resultados da chamada “economia dos ecossistemas e sua biodiversidade”, que desenvolveu a idéia de que as sociedades, o bem estar da humanidade e as atividades economicas dependem dos serviços ambientais, que derivam do funcionamento dos ecossistemas. Os economistas verdes propõem então que para preservar os ecossistemas é necessario valorar o fluxo desses serviços. A natureza então passa a ser vista como capital natural. Os ecossistemas passam a ser vistos como estoques de capital natural, cujo valor é definido pelos fluxos de renda futura, que no caso são os serviços ambientais (ecossistemicos). O valor de todo estoque de capital é dado pelo valor presente dos fluxos de renda futura por ele gerado. A valoração econômica é trabalhada principalmente com preços de mercado, mesmo que se busque associa-la às dimensões ecologica e social.
     Aqui fica mais claro o que se pretende com a economia verde, a apropriação, pelo capital, da dinâmica da vida. Uma nova formação de acumulação de capital.
     Cabe aqui aprofundar nossa reflexão. O ser humano diferente de outros seres vivos pode ir além dos limites de equilíbrio da natureza e dos ciclos naturais. A agricultura, só para continuarmos no exemplo, através dos chamados pacotes tecnológicos, da indústria quimíca, com a bioengenharia, os transgênicos e outras técnicas como as de produção artificial de fertilidade do solo, rompe com equilibiros e limites naturais, e salta etapas dos ciclos naturais. O que possibilita isso ou não, é como as forças de mercado impõem a a maneira de nós humanos usarmos nosso conhecimento técnico e cientificio. Aqui entramos além da luta pelas correlações de forças, de projetosd de sociedade, numa discussão do campo ético e moral.
     Em primeira instância, quer dizer que o problema não está em produzir, mas sim no modo de produção. Nossa civilização atual se baseia hegemonicamente no sistema capitalista, esse sistema rompeu com os ciclos naturais e não se deixa limitar pelo equilíbrio ambiental.  O capitalismo é um sistema econômico, social e político baseado na propriedade privada, que se apropria de tudo na natureza, como um meio para produzir e distribuir bens de consumo e serviços para acumular e obter lucro.
    Assim a Mãe Terra é para o capitalismo uma fonte de matérias primas e os seres humanos força de produção e consumidores, que valem pela sua utilidade e não pelo que são. A natureza é, portanto mercadoria. O capitalismo explora a natureza como recurso, produzindo bens, para perpetuar o consumismo e o materialismo.
   Esses bens produzidos precisam ser permanentemente desvalorizados e descartados, para poder continuar a produzir novos bens para substituí-los, aumentando, assim, o consumo e a produção. Para isso criam-se novas demandas por matérias primas extraídas da natureza.
     A publicidade é usada como uma força que nos leva a mudar as demandas. O consumidor está a serviço da produção. É o consumidor que tem de ir se adaptando às exigências da tecnologia de produção. A tecnologia de produção está a serviço do consumo. O consumidor é, então, essencial para a sociedade capitalista se perpetuar e, assim, reproduzir e manter a sua desigualdade e seus mecanismos de dominação.
    Não contente em extrair a riqueza de recursos do planeta, o capital busca mercantilizar a própria natureza, para o lucro e lazer. Assim, nossos territórios, como terras, montanhas, rios, desertos, água, animais e florestas, até o nosso póprio corpo, tudo vira mercadoria, se transforma em produto, para o mercado.
    O modo de produção capitalista se alimenta do mundo natural, necessário para ele em escala cada vez maior e, portanto mais mercantilizado.
      O aumento em escala da produção, circulação e comercialização de bens causam impactos enormes, no trabalho e na natureza. Para sobreviver às suas crises, o modo de produção capitalista impõe aos trabalhadores uma maior exploração, como a redução e flexibilização de direitos, gera insegurança institucionalizada, demissões e migração. Os impactos na natureza geraram a poluição, o desmatamento, a interrupção dos ciclos da vida em territórios, mudanças climáticas, o empobrecimento, a superprodução de resíduos.
     O capitalismo, sistema hegemônico em nosso planeta, seja ele em sua forma clássica ou renovada não é apenas um sistema econômico e político. Trata-se de um sistema de valores que assumimos em nosso dia a dia.  Podemos dizer de uma forma mais simples, que nós vestimos, comemos, sonhamos, enfim vivemos “valores” do capitalismo. Por isso a sustentabilidade não pode estar simplesmente ligada a questões do campo da economia e do desenvolvimento. Não basta dizer que se quer verde a economia, apresentando como solução, para nossas crises, novas tecnologias e mercados para que continue o nosso processo de apropriação da natureza e de desenvolvimento. É necessário questionar e buscar novos paradigmas para nosso viver, questionar nossos hábitos de vida, o nosso cotidiano, as nossas maneiras de nos relacionarmos com os outros, em nossas sociedades e com a natureza da qual fazemos parte.
     Nessa perspectiva se fala, hoje, na importância de se buscar novas lógicas sociais e culturais, resgatar conhecimentos e praticas das comunidades tradicionais e dos povos indígenas. A busca do “comum” (“commons”, como se diz em inglês) a partir do fortalecimento dos atores sociais em suas ações e reflexões, é um tema cada vez mais proposto, na busca de novos paradigmas. O comum vivido como uma nova forma de regulação, que parte das comunidades e que possa abranger a sociedade como um todo. O comum estabelece uma ética diferente, que supera a ética do direito individual e aponta para sistemas sociais, instituições, e ambientes que se articulam de forma a beneficiar a todas as pessoas e a natureza. O comum visto como um bem, mas não um bem no sentido de valor econômico. Esse bem comum que não é só da humanidade, mas da natureza, da Mãe Terra.
     A crise ecológica é uma realidade. Todos os dias, somo bombardeados pelos meios de comunicação, que querem nos convencer de que somos nós, a humanidade como um todo, os responsáveis por essa crise, que ameaça a nossa sobrevivência. Mas será isso verdade?
      O que eles não revelam é que não somos todos nós os responsáveis e culpados pela degradação ambiental. Mas sim uma pequena parte da humanidade. Uma minoria de cerca de 20% da humanidade que consome cerca de 80% desses recursos, produzindo ao mesmo tempo cerca de 80% da poluição e da degradação ambiental que ameaçam a vida no planeta como um todo.
     Se os 7 bilhões de habitantes do planeta consumissem o mesmo que os países desenvolvidos do Ocidente, faltariam muitos planetas como o nosso para satisfazerem todas as suas necessidades.
Portanto, a responsabilidade pela destruição não é igual para todos, Não é igual o poder de destruir e muito menos o acesso aos chamados recursos do planeta. É uma minoria que superexplora a natureza e a mão-de-obra dos trabalhadores para acumular lucros.
     Nos últimos vinte anos, desde a Rio92, temos presenciando o crescimento da influência das grandes corporações e empresas transnacionais, e de seus lobistas, no sistema das Nações Unidas. Essa influência se sobrepõem as posições dos estados, nas negociações multilaterais, e acabam por dominar os espações de discussões dos organismos das Nações Unidas. Assim, uma série de instrumentos financeiros está sendo criados. Esses instrumentos visam reforçar as necessidades do mercado, como os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, os REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), os TEEB (Economias dos Ecossistemas e Biodiversidade).
     A economia verde é mais do que o “esverdeamento” do capitalismo, mas sim a proposta de um novo paradigma. O de assumir a dinâmica da própria vida como ativo financeiro.
     O mercado de carbono, através das REDD cria novos títulos de propriedade. Títulos de propriedade relativos ao dióxido de carbono não emitido, e títulos de propriedade relativos às áreas de florestas imobilizadas. Criam-se assim, novas propriedades, novos títulos e novas mercadorias, tendo como lastro o capital que se baseia na natureza. Temos aí então uma nova forma de acumulação do capital.
     As cosmovisões dos povos tradicionais, bem como as cosmovisões tradições das religiões nos convidam a perceber que a vida tem um valor em si, e não no sentido econômico. A natureza à qual nós pertencemos e a dinâmica da vida, não podem ser consideradas como ativos econômicos. A diversidade biológica e a diversidade social e cultural formam uma mega “sociocultubiodiverdidade”, que não pode ser guiada pelo mercado financeiro e pelas corporações. A natureza tem direito aos ciclos da vida. A sustentabilidade é da vida e não do desenvolvimento, da economia e dos mercados.


[3] A OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico é uma organização internacional de 34 países que aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado, com sede em Paris.
[6] A agricultura familiar exerce um papel central na sustentabilidade da vida em nosso Brasil. Ela corresponde à 10 % do PIB brasileiro, além de contribuir para a geração de emprego, respeito o meio ambiente, além de gerar trabalho e renda, ela é a principal fornecedora de alimentos básicos para a polpulação brasileira[6]. A maior parte do número de ocupações na agricultura, encontra-se na agricultira familiar: 74,4% do total de ocupações. Isso corresponde a um total de 12,3 milhões de pessoas ocupadas. Ou seja, de cada dez ocupados no campo, sete estão na agricultura familiar, que emprega 15,3 pessoas por 100 hectares. Enquanto na agricultura não familiar temos somente 4,2 milhões de pessoas ocupadas, empregando 1,7 pessoas a cada 100 hectares. Em 2006, conforme o Censo do IBGE, estavam ocupadas nas atividades da agricultura familar um número 2 vezes superior aos da ocupação do setor da construção civil. Em 2006, era responsável por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café (parcela constituída por 55% do tipo robusta ou conilon e 34% do arábica), 34% do arroz, 58% do leite (composta por 58% do leite de vaca e 67% do leite de cabra), 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo. A cultura com menor participação da agricultura familiar foi a soja (16%).
[7] CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, COMISSÃO EPISCOPAL DE PASTORAL - Pastoral da Terra - 2: posse e conflitos (Estudos da CNBB, 13), São Paulo, Ed. Paulinas, 1976, pág. 132.

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