“Três interesses convergiram para a derrocada de Fernando Lugo: os interesses das transnacionais do agronegócio e do setor financeiro; os da oligarquia fazendeira, aliada ao capital transnacional, e os dos partidos políticos de direita. Todos apadrinhados pelos Estados Unidos”, escreve Idilio Méndez Grimaldi, jornalista e pesquisador, em artigo publicado no jornal mexicano La Jornada, 25-06-2012. A tradução é do Cepat.
Idilio Méndez Grimaldi é autor do livro Los Herederos de Stroessner e membro da Sociedade de Economia Política do Paraguai, SEPPY.
Eis o artigo.
Três interesses convergiram para a derrocada de Fernando Lugo: os interesses das transnacionais do agronegócio e do setor financeiro; os da oligarquia fazendeira, aliada ao capital transnacional, e os dos partidos políticos de direita. Todos apadrinhados pelos Estados Unidos.
Os objetivos estratégicos são: a reinstalação de uma democratura sob a regência exclusivamente da direita, com o apoio dos Estados Unidos e alguns países europeus como nos tempos da guerra fria; a marginalização e a criminalização da esquerda e dos movimentos sociais; o avanço da produção meramente extrativista agroexportadora, com a postergação indefinida da industrialização do país; a consolidação violenta do processo de descampesinização do campo.
No campo geoestratégico, o Paraguai se converte aceleradamente em um problema cada vez mais grave para o Brasil e as possibilidades da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), e tende a se consolidar como uma importante base de operações dos Estados Unidos no processo de disputa pelo controle da América do Sul.
A União de Grêmios de Produção (UGP), formada pelos produtores mecanizados do país, mas que na prática serve de refúgio para os fazendeiros, especuladores e rentistas da terra, armou toda esta trama contra Lugo. Quando a transnacionalMonsanto teve inconvenientes para impor sua semente transgênica de algodão e de milho por descumprimento de normas legais, começou a aumentar a pressão da UGP. A Monsanto faturou – sem pagar impostos – cerca de 30 milhões de dólares, apenas em 2011, em regalias por sua soja transgênica, sem contar o faturamento pela venda de sementes. Parte dessa quantia é distribuída anualmente entre os tecnocratas da UGP.
Este grêmio pressionou primeiro pela destituição de Miguel Lovera, um técnico que dirigia a instituição de controle e uso de sementes e agroquímicos no país. Depois ameaçou com um protesto nacional, denominado de tratoraço, consistente no fechamento de rodovias com máquinas agrícolas, e por último pressionou pelo julgamento político de Lugo.
A UGP é dirigida por Héctor Cristaldo, empresário estreitamente ligado ao grupo empresarial dos Zuccolillo.
Este grupo é sócio da Cargill, outra transnacional do agronegócio. O grupo Zuccolillo também tem a seu favor o jornal ABC Color, dirigido pelo proprietário Aldo Zuccolillo. A linha editorial deste jornal está esfestada de incitações e provocações às Forças Armadas e aos partidos políticos para derrubar Lugo desde o começo de seu governo.
Em janeiro deste ano, Aldo Zuccolillo se reuniu com o político do Partido Colorado, o também agroempresário Horacio Cartes. O senador colorado Juan Carlos Galaverna manifestou que Cartes saiu deslumbrado da conversa comZuccolillo. Segundo os documentos do Wikileaks, publicados pelo próprio Zuccolillo no ano passado, Cartes foi envolvido pela DEA, a agência antidrogas dos Estados Unidos, no narcotráfico e na lavagem de dinheiro. O Departamento de Estado obranqueou.
Chamativamente, no último estágio do governo de Lugo, Cartes foi o principal propulsor dentro de seu partido para o julgamento político de Lugo, apoiado pelo jornal ABC de Zuccolillo. Finalmente, Cartes arrastou o seu partido – que havia sido derrotado por Lugo em 2008, depois de 60 anos no poder – para efetuar a destituição do presidente.
Isto aconteceu após os sangrentos acontecimentos de Curuguaty, no dia 15 de junho passado, onde morreram seis policiais e 11 camponeses, numa desocupação de um latifúndio de propriedade do ex-presidente do Partido Colorado, Blas Riquelme. Estas mortes serviram de principal desculpa para acelerar a queda de Lugo.
Num giro de 180 graus, o Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) abandonou o cogoverno com Lugo e por meio de seu presidente, Blas Llano, também aderiu ao julgamento político impulsionado pelo Partido Colorado, pelo jornal ABC Color e pela UGT.
Atualmente, restam ao PLRA, no poder depois de 70 anos de planura, com Federico Franco como presidente do Paraguai, pouco mais de 13 meses para governar e deverá fazer o trabalho sujo de reprimir os seus ex-aliados no governo: a esquerda e os movimentos sociais, que iniciarão uma sistemática resistência ao governo liberal, destruindo qualquer possibilidade de vencer as eleições do próximo ano. Horacio Cartes, pré-candidato pelo Partido Colorado, sorri e vê melhorar suas chances com o apoio do ABC Color, da Embaixada dos Estados Unidos e da UGP.
Finalmente, nestes dias, Lugo e seus assessores deverão reconhecer que cometeram um grave erro: pensaram que podiam cogovernar com o imperialismo, com a oligarquia feudal e com os partidos de direita, tributários dos poderes de fato e traidores da pátria. Como disse Atilio Borón, é um erro crer que um governo timidamente progressista, como foi o deLugo, pudesse prosperar transigindo com os interesses oligárquicos e imperiais, sem articular os movimentos sociais e os partidos de esquerda.
FONTE ADITAL
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