Nota da ABRA (Associação Brasileira de Reforma Agrária) sobre a matéria do JN sobre desmatamento nos assentamentos da Amazônia. Não foi enviada antes pois tentamos até ontem , sem sucesso, espaço no Jornal
A edição do Jornal
Nacional da Rede Globo do dia 05 de julho de 2012 veiculou matéria na qual identificou
os assentamentos de reforma agrária como os grandes vilões do desmatamento da
Amazônia, supostamente respondendo pela taxa acumulada de 30% da área desmatada.
A matéria teria sido baseada
em dados fornecidos pelo Ibama, Inpe e, especialmente, pela ONG Imazon. Tais
informações serviram de fundamento para ação ajuizada contra o Incra por membro
do Ministério Público Federal, no Pará, por meio da qual foi demandada, entre
outras medidas, a proibição de novos assentamentos naquela região do país.
A despeito da recorrência
dessa mistificação pelos setores conservadores, a ABRA empreendeu iniciativas com
o intuito de contestar a notícia. De início, solicitou a contextualização do
caso ao Imazon, que assumiu o assessoramento dado ao Ministério Público.
Um dos seus
pesquisadores informou que a ação judicial contra o Incra objetivou chamar a
atenção para a falta de assistência técnica aos assentados, o que seria a causa
central do desmatamento sem controle observado nas áreas correspondentes. Acusamos
a estranheza de se pressionar o Incra pela melhoria nesses serviços por via judicial
e, ainda mais, recorrendo ao Jornal Nacional para criminalizar os assentados. O
representante do Imazon creditou ao repórter da TV Globo as manipulações da
matéria, especialmente por não esclarecer que, em grande medida, o desmatamento
nos assentamentos, bem como nas áreas indígenas, quilombolas e unidades de
conservação, resulta da intrusão, arbitrária, ou por vezes consentida, de
madeireiros, grandes fazendeiros e grileiros em geral.
Tentamos convencer o
departamento de jornalismo da Globo sobre as inconsistências da matéria e sobre
a necessidade da sua correção, mas sequer foi aberta a possibilidade de
enviarmos os dados e argumentos.
Os fatos:
1.
A iniciativa do Ministério Público, com
o apoio do Imazon, empareda ainda mais uma política estruturante, estratégica
para o país, na melhor das hipóteses, já sob ‘modo vegetativo’;
2.
Ressalvados os números, a matéria do
Jornal Nacional, não os qualificou e, assim, desinformou a opinião pública,
pois contabilizou área de colonização entre os assentamentos responsabilizando,
ainda, os assentados, por ações de desflorestamento conduzidas por terceiros;
3.
O Imazon publica desde o ano de 2008, o
Boletim da Transparência Florestal (www.imazon.org.br). Neste, consta o item
chamado Geografia do Desmatamento no
qual a ONG ‘identifica’ os níveis do desmatamento nos assentamentos de reforma
agrária, TIs, UCs, e “áreas privadas, posses & devolutas”. No mínimo é
curioso que a Geografia do Desmatamento do Imazon não especifique os dados do desmatamento
nos grandes imóveis rurais;
4.
Não obstante, os dados do desmatamento
nos assentamentos publicados nesse Boletim não respaldam a participação divulgada
pelo Jornal Nacional;
5. Abaixo,
‘colamos’ parte das figuras copiadas do mencionado Boletim, desde 2008, na
posição de maio (por ser o dado mais recente no presente ano), com o propósito
de oferecer uma amostragem desse
processo e dos seus protagonistas.
MAIO DE 2008: (figura colada do Boletim
Transparência Florestal do mês/ano correspondente)
MAIO DE 2009: (figura colada do Boletim Transparência Florestal do
mês/ano correspondente)
MAIO DE 2010: (figura colada do Boletim Transparência Florestal do
mês/ano correspondente)
MAIO DE 2011: (figura colada do Boletim Transparência Florestal do
mês/ano correspondente)
MAIO DE 2012: (figura colada do Boletim Transparência Florestal do
mês/ano correspondente)
As figuras acima
demonstram, de forma cabal, a absoluta inconsistência da matéria do Jornal
Nacional.
Seria de se esperar
argumentação do Imazon de que os dados do PRODES - Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal, que
supostamente serviram de substrato para a ação do MP e para a matéria da Globo,
são mais precisos que as do SAD (Sistema de Alerta do Desmatamento), que alimentam
o Boletim da Transparência Florestal. Neste caso, só aumentaria as dúvidas
sobre os procedimentos da entidade, à medida que estaria utilizando dados não
confiáveis para mensurar o desmatamento nos assentamentos.
Portanto, a ABRA, ao
tempo em que lamenta o jornalismo eticamente duvidoso da TV Globo, pois reativo
ao contraditório, não poderia deixar de condenar mais uma recidiva de setores
conservadores contrários à reforma agrária, notadamente num contexto de graves adversidades
institucionais para iniciativas dessa natureza.
Brasília,
08 de julho de 2012
A
DIRETORIA ABRA
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