A Via Campesina na Rio+20:
Os povos disseram NÃO à Economia Verde e construíram propostas para a resistência e a construção das lutas
Durante uma semana, no marco da Cúpula dos Povos, a Via Campesina se mobilizou no Rio de Janeiro para dizer “Não à Economia Verde” e para dinamizar um processo de construção de novas alianças baseadas nos eixos debatidos nas plenárias e assembleias dos povos e na mobilização nas ruas, para mostrar quais são as verdadeiras necessidades e aspirações dos nossos povos.
Com alegria voltamos às nossas lutas cotidianas com a satisfação do dever cumprido, com o compromisso de fortalecer os espaços construídos nestas jornadas e com o desafio de seguir dando corpo em nossas realidades locais às reflexões e agendas de ações propostas nas plenárias e Assembleias dos Povos.
Os dias de convivência entre as centenas de companheiros e companheiras da Via Campesina, vindos e vindas de toda a América Latina e do mundo junto aos milhares de integrantes da Via Campesina Brasil, foram fortalecidos com as mobilizações diárias que nos levaram a participar de marchas massivas, seja acompanhando as mulheres em luta ou repudiando as grandes corporações multinacionais representadas neste caso pela mineradora Vale. Cada amanhecer viu como as mulheres e homens da Via Campesina se somaram a outros movimentos para acompanhar as comunidades atingidas por megaprojetos, “escrachar” os repressores ou denunciar as corporações do agronegócio e os agrotóxicos, personificadas neste caso pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Tudo isso culminou na grande marcha unificada do dia 20 de junho, na qual mais de 80 mil pessoas marcharam para coroar de ouro a Cúpula dos Povos.
E antes ou depois de cada mobilização todos e todas convergimos e contribuímos nos debates das cinco plenárias, nas quais centenas de vozes foram tecendo as denúncias sobre as causas estruturais e as falsas soluções que o capitalismo, agora maquiado de verde, quer nos oferecer para não enfrentar as verdadeiras causas das múltiplas crises que o mesmo capitalismo tem provocado. Mas, como povos, já temos nossas propostas e também as compartilhamos e enriquecemos com outras e outros que chegaram com o mesmo objetivo. Assim foi que nossas soluções e as propostas de uma agenda para seguir construindo no futuro ocuparam a segunda parte das nossas plenárias.
Desde a plenária de Soberania Alimentar, a denúncia ao sistema capitalista patriarcal, discriminador e racista ressoou com ecos que se multiplicaram com as vozes das outras plenárias, de maneira a deixar claras as verdadeiras causas dos problemas que hoje colocam a humanidade à beira do abismo. E também, desde aí, a denúncia ao agronegócio como responsável pela destruição da natureza, a exclusão dos povos, a mercantilização da vida e principal responsável pela crise climática e a perda da biodiversidade se expressou de maneira contundente.
A Via Campesina propôs, há 16 anos, a Soberania Alimentar como caminho político para transformar nossa sociedade a partir dos camponeses e camponesas do mundo. Em nossas Assembleias foram centenas de organizações que se somaram a este caminho com claridade e firmeza. Tal como levantou o documento da plenária, “os governos e as corporações trabalham com grande sintonia pela apropriação dos bens comuns da vida e de nossos direitos. Convocamos os povos a se unir e levantar na luta por uma nova sociedade e na construção da soberania alimentar e popular. Não é possível a soberania alimentar no capitalismo.”.
A Cúpula oficial também ocupou nossa atenção e ali estivemos compartilhando nossas propostas e esperando que os governos mostrassem maturidade para assumir compromissos e deixar de serem fantoches das corporações. Lamentavelmente não foi assim e todos os temores que tínhamos se confirmaram em um documento pobre, carente de compromissos e no que “O futuro que queremos” (o nome do documento oficial) aparece cada vez mais obscuro e excludente. Se bem não se alcançou impor a Economia Verde como novo “paradigma” do sistema capitalista, sua menção repetida página a página do documento é por si só uma denúncia de seu verdadeiro espírito.
A Cúpula Oficial da Rio +20, tal como vínhamos denunciando os movimentos sociais, foi um GRANDE FRACASSO, pois 20 anos depois não avançou em nada. No lugar de acertos tivemos retrocessos agora materializados na proposta de economia verde, na maquiagem verde do capital, que pretende mercantilizar a vida. Mas, ainda sim, para os movimentos sociais convocados na Cúpula dos Povos, foi um momento de profunda discussão e de construção de novas alianças, de mobilização e também de formação que nos permitiu entender melhor o modelo que nos tentam impor. As jornadas de resistência e mobilização no marco da Cúpula dos Povos levaram às ruas meninos, meninas, mulheres, homens, todos e todas com o objetivo de construir uma capacidade de mobilização baseada na solidariedade, internacionalismo e a integração dos povos do mundo para converter nossas lutas em realidade.
As infinitas cores, as múltiplas vozes, a diversidade de povos, os cantos nas ruas e as múltiplas vestes, artesanatos e culturas presentes na Cúpula são um reflexo do mundo que, desde a Via Campesina, estamos construindo junto a todos os povos do mundo que optaram por não trilhar este caminho de morte que o capitalismo tenta impor. Agora, o desafio é continuar a atravessá-lo coletivamente rumo à dignidade.
Fonte: CPT
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