Hoje em frente aos portões
do Sindicato Rural de Uberlândia, entidade historicamente contrária à Reforma
Agrária e a favor do agronegócio, uma cena inusitada. Trabalhadores rurais Sem
Terra e assentados de Reforma Agrária, insistiam em ser recebidos pelo Ministro Pepe
Vargas do Desenvolvimento Agrário. Precisaram insistir bastante, pois o Ministério que
tem por responsabilidade de atuar na agricultura familiar, no desenvolvimento
territorial, crédito fundiário e na reforma agrária, estava patrocinando e
promovendo um evento nas dependências e junto aos ruralista contrários à sua pasta.
O ministro estava na FEMEC - Feira de Máquinas, Equipamentos, Implementos,
Insumos Agrícolas e Veículos Utilitários, conhecida como o Show do Agronegócio.
O Ministério e a Prefeitura
Municipal de Uberlândia são uns dos que promovem e participam da FEMEC, que
conta com uma Feira da Agricultura Familiar, com apresentação de produtos do
programa do Ministério do Desenvolvimento, o Feirão Mais Alimentos. Contudo, a FEMEC
é um evento dirigido ao agronegócio, no espaço dos representantes do latifúndio Com isso o ministério aponta para os agricultores familiares o que
a eles é antagônico, como o caminho a ser seguido.
O agronegócio se baseia nos
interesses dos grandes proprietários unidos aos de empresas transnacionais,
para dominar e controlar o modo de produzir: insumos, sementes, adubos,
fertilizantes, venenos, máquinas, o comércio agrícola e os preços. A
agricultura familiar é um modelo que parte de outra lógica, que estabelece
sistemas de convivência com a natureza. A prática agrícola familiar busca a
diversidade na produção de alimentos e a
adaptação ao meio natural, possibilitando a criação de sistemas sustentáveis de
produção.
O esvasiamento dos conceitos
e das diferenças e disputas que existem na sociedade mascaram a realidade. Quando
o ministro Pepe Vargas, finalmente, recebeu os sem terra, e foi questionado
pelo fato de que o agronegócio e a agricultura familiar são incompatíveis, ele
respondeu que não via nenhuma incompatibilidade. Afirmou, ainda, que seu
ministério quer aproximar e colocar a
agricultura familiar em eventos do agronegócio. Assim o ministro mistifica e
desagrega as relações sociais, apresentando interesses contraditórios e opostos,
como sendo uma só realidade.
O agronegócio é
insustentável, em termos sociais, economicos e ambientais para o agricultor
familiar. A produção de alimentos, para o mercado interno, sem veneno e transgênicos a segurança e a soberania alimentar, o uso de mão de obra, a
convivência com a natureza, criam condições para a vida das pessoas no meio
rural.
Às organizações e movimentos
de luta pela reforma agrária e pela agricultura familiar cabe denunciar ações
de governo, que buscam através da manipulação, impor um consenso passivo. Não
aceitar a desconstrução do conceito e da realidade de agricultura familiar ou
campesina, acumulado pelos movimentos e por uma enorme luta política da
agricultura familiar.
Frei Rodrigo Péret, ofm
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