Representando o SINFRAJUPE - Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia, e participante da delegação internacional franciscana presente no FSM 2013, Frei Rodrigo Péret foi um dos painelistas, no fórum, na Tunísia, da mesa sobre Espiritualidade, Comunidades de Fé, a Mãe Terra e a Militarização do Clima.
Frei Rodrigo falou da criminalização do movimentos sociais, dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, no Brasil. Explicou que essa criminalização tem como pano fundo um conflito de valores. De um lado a vida como valor fundamental e de outro lado a economia e a mercantilização como valores instrumentais do mercado e do lucro. Hoje, disse ele, se afirma a vida como mercadoria. A expansão do capital e de investimentos de grandes corporações sobre o
meio ambiente, tem como resultado a commoditização da vida. A chamada "economia verde", por exemplo, considera todas as interações que acontecem nos ecossistemas, como serviços da natureza, que devem ser valorados economicamente. Tudo se transforma em mercadoria, até mesmo os complexos sistemas e ciclos naturais formados pelas inter-relações entre os organismo vivos e não vivos, passam a ser considerados como ativos econômicos. Isso, significa, uma vez que o capitalismo não é apenas um sistema econômico e político, mas um sistema de valores, que quando os movimentos sociais, os povos indígenas e as comunidades tradicionais buscam viver ou lutam por valores diferentes, esses são tipificados pelo aparato do estado como criminosos.
Falando mais na perspectiva das diversidade das tradições espirituais e menos das religiões, como estruturas históricas, frei Rodrigo refletiu que essas tradições nos convidam a sentir o valor relacional da vida, o valor de existência. A vida não é um bem econômico, como nos quer fazer acreditar o capital. A natureza da qual somos parte e a dinâmica da vida, não podem ser consideradas como ativos econômicos. Nós seres humanos fazemos parte de uma enorme sócio-cultural-biodiversidade, que não pode ser guiada por mercados financeiros ou corporações. A natureza tem direito aos ciclos da vida, e portanto a sustentabilidade, que tanto falamos, deve ser da vida e não da economia.
Em nossa tradição judaico-cristã, a natureza é chamada de criação e todos somos criaturas. São Francisco, em seu senso religioso, via nas criaturas o amor, a sabedoria e o poder de Deus. O encantamento pela natureza expresso no "Cântico das Criaturas", nos coloca como criaturas em meio a outras criaturas, no seio da criação, como espaço de comunhão e comunicação, com Deus e as criaturas. A alteridade das criaturas e seu valor inter-relacional apontam para o fato de que cada elemento da natureza é revestido de dignidade e espírito. A natureza é o espaço de reconciliação, onde todos e tudo somos irmãos e irmãs, na mesma Mãe Terra.
Frei Rodrigo terminou sua fala, dizendo que falar de espiritualidade e meio ambiente, no qual está incluído o clima, numa sexta feira santa, nos leva a refletir sobre nosso Deus, que em Jesus Cristo, quis, por amor, se tornar natureza. O Criador se tornou criatura e viveu em si os limites de uma natureza finita e contingente. O Criador aceitou viver os limites naturais e o ciclo da vida. Assumiu uma condição histórica, dentro da diversidade social, cultural e biológica deste planeta. Buscou a justiça como forma de resgatar a natural dignidade de todos e de tudo. E ao buscar reconciliar tudo em si nos convida, numa linguagem de hoje a viver a justiça ambiental. O direito da natureza à sua complexidade e equilíbrio que permitem a vida. Cabe a nós buscar na espiritualidade o senso de tudo, reler nossas fontes, nos livrarmos das contingencias históricas, que nos levaram a pensar e agir como senhores da natureza, redescobrir o feminino gerador em Deus, nos fazermos irmãos e irmãs de tudo e de todos. No dizer de São Francisco, nos fazermos menores.
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