A expansão
da mineração no Brasil nos últimos 10 anos foi gigantesca. O valor total da
produção cresceu 550%. Em volume, esse crescimento também foi significativo, a
extração de zinco cresceu 648%, a de cobre 598% e a de ferro 88%. O setor
mineral brasileiro está entre os recordistas em lucratividade e a arrecadação
dos royalties da mineração, através da CFEM, saltou de R$ 326 milhões em 2004
para 835 milhões em 2012. Esse boom do mercado mineral brasileiro fez com que
se reacendessem os interesses em torno da modificação do marco legal da
mineração no Brasil.
Infelizmente,
essas enormes cifras e cifrões, escondem o rastro de destruição que a expansão
da mineração vem deixando nos territórios. Porque os lucros da mineração não
vem da valorização de papéis nas bolsas de valores. O aumento do lucro da
mineração vem da ampliação da extração de uma quantidade cada vez maior de bens
naturais das entranhas da terra a um custo cada vez menor. Quanto mais
invisíveis forem os impactos às comunidades e ao meio ambiente, maiores serão
os lucros. Por isso, em geral, prefere-se fingir que a mineração ocorre no
espaço vazio, sem pessoas, sem natureza, sem comunidades.
A mineração
consumiu mais de 5 quatrilhões de litros de água em 2012 e o setor foi
recordista no crescimento de pedidos de outorgas para uso d'água. Ao mesmo
tempo, poluiu uma série de rios e águas subterrâneas. O crescimento da
mineração também redundou no aumento do número de mortes, mutilações e
adoecimento dos trabalhadores da mineração, apenas em 2013, cerca de 20
trabalhadores já morreram trabalhando. Além disso, centenas de comunidades por
todo Brasil vem sofrendo cotidianamente com os impactos da mineração e de sua
logística, que muitas vezes inviabilizam seus modos de viver e conviver nos
territórios. Além disso, conforme se duplica ou triplica a extração mineral no
país, cenários apontados pelo governo no Plano Nacional de Mineração 2030, o
tempo das reservas é diminuído pela metade ou em sua terça parte. Trata-se de
bens naturais finitos e não renováveis.
Após todo
um processo de sigilo antidemocrático em torno da proposta de novo código, o
que vemos é que ela fecha os olhos e se cala diante desses problemas. Não há
qualquer menção aos impactos às comunidades e à água, por exemplo. As menções
feitas ao meio ambiente são genéricas e pouco efetivas. Não temos dúvidas em
afirmar: a proposta de novo código apresentada pelo governo, em relação às
salvaguardas socioambientais, é pior do que o Código em vigor. Representa um
retrocesso. O artigo 54 do Código do General Castello Branco afirma que os
titulares das concessões de lavra terão que se responsabilizar por “danos e
prejuízos causados a terceiros”, “promover a segurança e a salubridade das habitações
do local”, “evitar a poluição do ar, ou da água” e “proteger e conservar as
fontes de água”. A proposta apresentada sequer cita estas questões.
A mineração
não é apenas um negócio, ela traz consigo uma série de dimensões associadas. Se
o código se mantiver como está será um código do mercado da mineração, do
negócio mineral e não da atividade mineral em seu conjunto. Parece que a
ditadura militar brasileira teve mais sensibilidade para estes aspectos
relacionados aos impactos da mineração do que o governo atual. Esperamos que o
Congresso Nacional faça as modificações necessárias para corrigir esta que
seria uma desmoralização da democracia brasileira. Esperamos que os direitos
das comunidades sejam respeitados, que os direitos dos trabalhadores sejam
respeitados e que o direito ao meio ambiente ecologicamente saudável e
equilibrado também seja respeitado. Queremos um código que não se omita diante
dessas questões.
Para isso,
nós do Comitê Nacional sugerimos 7 pontos que devem ser incorporados ao projeto
de lei, são eles:
1 –
Garantir democracia
e transparência na formulação e aplicação da política mineral brasileira
2
– Garantir o direito de consulta, consentimento e veto das comunidades locais
afetadas pelas atividades mineradoras
3
- Respeitar taxas e ritmos de extração
4
– Delimitar e respeitar áreas livres de mineração
5
– Controlar os danos ambientais e garantir Planos de Fechamento de Minas com
contingenciamento de recursos
6 – Respeitar e proteger os Direitos dos Trabalhadores
7 –
Garantir que a Mineração em Terras Indígenas respeite a Convenção 169 da OIT e
esteja subordinada à aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas.
Sem a
incorporação destas perspectivas o novo código da mineração a mudança na
legislação que proposta, representará um retrocesso e não um avanço.
Lista de
Organizações que aderiram
Assinam essa nota:
Associação
dos Guardiões da Rainha das Águas – Guará
4
Cantos do Mundo (MG)
Ação Franciscana de
Ecologia e Solidariedade – AFES
ADEA
Ibaiti
Articulação
Antinuclear Brasileira
Articulação
Antinuclear do Ceará
Articulação
dos Atingidos pela Mineração do Norte de Minas (MG)
Articulação
dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
Articulação
Internacional dos Atingidos pela Vale – AV
Articulação
Popular São Francisco Vivo - APSFV
Associação
Alternativa Terrazul
Associação
Brasileira de Reforma Agrária - ABRA
Associação Cerrado Vivo
para Proteção da Biodiversidade – CERVIVO
(MG)
Associação
de Defesa do Meio Ambiente de Araucária – AMAR
Associação
de Preservação do Meio Ambiente e da Vida – APREMAVI (SC)
Associação
de Proteção ao Meio Ambiente - APROMAC
Associação
de Saúde Ambiental – TOXISPHERA
Associação
do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental de Belo Vale - APHAA-BV (MG)
Associação
Para a Recuperação e Conservação Ambiental - ARCA AMASERRA (MG)
Associação para Gestào
Socioambiental do Triângulo Mineiro – ANGÁ
(MG)
Associação
PRIMO - Primatas da Montanha (MG)
Brasil
Pelas Florestas
Caminhos da Serra
Ambiente, Educação e Cidadania
Campanha
contra o Mineroduto da Ferrous (MG)
Cáritas
Diocesana de Sobral (CE)
Centro de Ecologia Integral de Betim – CEIB (MG)
Centro
de Estudos e Defesa Ambiental de Morretes
CEPASP
(PA)
Comissão
de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de MG
Comissão
Pastoral da Terra – CPT
Comitê de Solidariedade do Instituto Santo Tomás de Aquino
Conlutas
Conselho
Indigenista Missionário – CIMI
Conselho
Pastoral dos Pescadores
Consulta
Popular
Coordenação
Nacional das Comunidades Quilombolas – CONAQ
Educafro Minas (MG)
FADA
Força Ação e Defesa Ambiental
FASE
FBOMS
Fórum
Carajás
Fórum
Mudanças Climáticas e Justiça Ambiental
Fórum
Paraná - Fórum do Movimento Ambientalista do Paraná
Frente de Luta pelos
Direitos Humanos
Fundação
ANINPA Brasil
Fundação
Esquel (DF)
Greenpeace
Grupo Ecológico Maitan
Grupo de Estudos em
Temáticas Ambientais - GESTA/UFMG
Grupo
de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente da UFMA - GEDMMA
Grupo
de Trabalho Amazônico - GTA
Grupo Pesquisador em
Educação Ambiental, Comunicação e Arte - GPEA/UFMT
Henfil
- Educação e Sustentabilidade (SP)
Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – IBASE
Instituto Caracol - iC
Instituto
Cidades Sustentáveis - ICS
Instituto
de Estudos Socioeconômicos – INESC
Instituto
de Políticas Alternativas para o Cone Sul – PACS
Instituto
de Proteção Ambiental de Cascavel
Instituto
ORGANOS Paraná
Instituto
Redecriar (SP)
Instituto
Socioambiental - ISA
Justiça
Global
Justiça
nos Trilhos (MA e PA)
Juventude
Atingida pela Mineração (PA e MA)
Juventude
Franciscana do Brasil – JUFRA
Levante
Popular da Juventude
MAE
Movimento de Ação Ecológica
Marcha
Mundial de Mulheres -MMM
Mater
Nature - Instituto de Estudos Ambientais (PR)
Movimento
Artístico, Cultural e Ambiental de Caeté - MACACA (MG)
Movimento
dos Atingidos por Barragens - MAB
Movimento
dos Pequenos Agricultores - MPA
Movimento
dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra - MST
Movimento
Nacional pela Soberania Popular frente à Mineração - MAM
Movimento
Paulo Jackson – Ética, Justiça e Cidadania
Movimento
pela Preservação da Serra do Gandarela (MG)
Movimento
pelas Serras e Águas de Minas – MovSAM
(MG)
Movimento
Xô Mineradoras
Nos
Ambiente
Núcleo
Amigos da Terra/Brasil
Observatório
Metropolitano Ambiental de Curitiba
Observatórios
de Controle Social do 3º Setor
ONG
Bandeira Verde
ONG
Campos Gerais
OSCIP
Guarany
Pastorais
Sociais / CNBB
Pastoral
da Juventude Rural (GO)
Pedra
no Sapato
Rede Axé Dudu
Rede
Brasileira de Ecossocialistas
Rede
Brasileira de Justiça Ambiental
Rede
Causa Comum
Rede
Cearense de Juventude pelo Meio Ambiente – RECEJUMA
Rede Mato-Grossense de
Educação Ambiental – REMTEA
Serviço Franciscano de Justiça, Paz e Integridade da Criação -
JUPIC
Serviço
Franciscano de Solidariedade – SEFRAS
Serviço
Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia
– SINFRAJUPE
Sindicato
dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas do Estado do Paraná –
SINDIQUÍMICA
Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Canaã dos Carajás (PA)
Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Porteirinha (MG)
Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Simonésia (MG)
Sindicato
Metabase Inconfidentes (MG)
Sindicato
Unificado da Orla Portuária - SUPORT (ES)
Sociedade
Brasileira de Sustentabilidade SBS
SOS Serra da Piedade (MG)
SOSMAR
Valor
Natural
VIVAT
International
Dep. Estadual Durval Ângelo
– PT-MG
Dep. Federal Alfredo Sirkis
– PV – RJ
Dep. Federal Chico Alencar
– PSOL-RJ
Dep. Federal Domingos Dutra
– PT – MA
Dep.
Federal Ivan Valente – PSOL – SP
Dep.
Federal Jean Wyllys – PSOL – RJ
Dep. Federal Padre João –
PT-MG
Dep.
Federal Ricardo Tripoli
– PSDB – SP
Dep.
Federal Walter Feldmann – PSDB – SP
Partido Socialismo e
Liberdade – PSOL
Rede Sustentabilidade