domingo, 3 de novembro de 2013

No Peru, camponeses defendem água e a Pachamama, contra mineração.

Uma visita que nos inspira e nos faz acreditar em um mundo melhor, foi a que fizemos às mobilizações populares em defesa das lagoas altoandinas, no Peru. Uma longa luta de povos camponeses e indígenas. A consciência de que a natureza não pode ser destruída, e de que a vida deve ser defendida.
Um acampamento há 4 mil metros de altitude, na região de Cajamarca, norte do Peru, é a forma de luta e resistência que os camponeses locais, encontraram para enfrentar a expansão da mineração nessa área. 

Ali as famílias camponesas se juntaram na defesa da água e da sobrevivência em suas terras. O agressor é o projeto de expansão da mineração de cobre e de ouro: o projeto Conga.
Trata-se do maior projeto de extração de ouro da América do Sul, onde a principal empresa é Yanacocha, cujos capitais são em sua maioria propriedade de Newmont Mining Corporation (51.35% das ações) com sede em Denver, EEUU, a peruana Cia. de Minas Buenaventura (43.65%), bem como a International Finance Corporation (IFC) (5%), tudo isso com recurso dos Banco Mundial.
A ação desse projeto centra-se em Cajamarca, a cerca 800 quilômetros ao nordeste de Lima, a cidade capital, em uma zona limitada por quatro bacias: Quebrada Honda, Rio Chonta, Rio Porcón e Rio Rejo.
As famílias, organizadas no movimento “Rondas Campesinas”, querem impedir que a empresa  Yanacocha, amplie sua mineração de cobre e de ouro na região. 

"Rondas Campesina" é o nome que o povo deu à organização de defesa das suas comunidades. Surgiu de forma independente em áreas rurais do Peru, como uma resposta à falta de proteção estatal aos direitos das populações rurais, em meados dos anos 70 no norte do Peru (Piura e Cajamarca). Nos anos 80 se espalhou no país. Atualmente, no Peru, sua atividade é regulamentada pela Lei n º 27.908, que concedeu o direito de participar na vida política, capacidade de transigir e apoiar na administração da justiça em geral. As rondas têm como principais características serem organizações autônomas, concebidas para a proteção dos direitos em tempo de paz, e com princípios democráticos e participativos em sua organização. Hoje para as "Rondas Campesinas" o maior desafio a enfrentar é a mineração e seus impactos.

Essa região, é parte dos Andes e tem um relevo bastante acidentado, com altitudes de até 4.500 metros. Os picos são morros mais arredondados. A proximidade do equador, exclui a presença de glaciais e neve. A expansão de mineração Yanacocha irá soterrar um enorme vale entre montanhas, com resíduos da mineração já praticada no entorno, e acabar com 27 lagoas.

Os camponeses “ronderos” organizaram sua própria vigilância nas lagoas que serão destruídas. São os chamados "guardiães das lagoas". Eles são líderes e pessoas das comunidades da região de Cajamarca, que armaram barracas nas proximidades dos lagos e se revesam a cada semana, numa vigília de luta.

Os "guardiães das lagoas" mantém uma alerta permanente diante do movimento de maquinaria pesada das empresas mineradoras – principais ou sub-contratistas - colocadas perto das lagoas.

Os agricultores contam que a empresa destruiu as estradas municipais que serviram e servem para as pessoas se comunicarem. Eles também relatam que nos caminhos a mineradora colocou portões, para que não transitam as pessoas, mas só a polícia.

Fomos recebidos por Manuel Ramos Campos, líder rondero de El Tambo. Ele nos disse que, o projeto Conga vai desaparecer com mais de 27 lagoas em 67 hectares de espelhos d’água, incluindo dois importantes rios da região. Manuel é o encarregado de organização da Frente de Defesa de El Tambo e denuncia que a empresa busca substituir as fontes naturais de água das comunidades por reservatórios artificiais.

Os 20 anos de mineração no departamento de Cajamarca, não melhoraram a vida da população local. Os índices falam por si só, 50% da população vive na pobreza extrema, fazendo com que esse seja o departamento do Peru com o maior percentual de mortes maternas em 2011. Isso demonstra que a atividade extrativista, não é uma opção de desenvolvimento para as famílias e  as comunidades locais.

O Estudo de Impacto Ambiental do Conga que foi aprovado em 2010, foi suspenso em novembro de 2011. As comunidades estão contra o projeto, mas governo federal e a mineradora insistem em continuar.

As famílias camponesas que se opõem à mina, e que estabeleceram o acampamento perto do bloco de concessão para assegurar que a empresa não comece o trabalho, que teria um impacto nas 27 lagoas das terras altas da zona, dizem "Nós não queremos violência, mas eles estão usurpando nossas terras e nós chegamos a um acordo para expulsá-los".


A luta deles continua, em setembro passado o acampamento já foi destruído uma vez. Mas eles remontaram o acampamento, onde os membros das famílias, “guardiães das lagoas”, se revezam. Marchas e manifestações estão programadas para acontecer nos próximos dias e semanas.

Os Franciscanos e luta dos camponeses 

Em Cajamarca, dentre muitas pessoas e organizações de apoio, nos encontramos com Frei Isaac Shahuano e Frei Mateus. Ficamos sabendo de como os franciscanos de Cajamarca estão apoiando e se solidarizando com essa luta.

Nos protestos de 2012, em defesa das logoas ameaçadas pela Mineradora Yanacocha, projeto Conga, os franciscanos que briram o convento para receber ronderos e ronderas, feridos nos conflitos, e que não eram aceitos nos hospitais. e 

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