Dos 21 deputados
federais indicados como membros titulares, ou seja, com direito a voto, para a
comissão especial que tratará da PEC 215, ao menos 15, perto de 72%, são
membros ou aliados da Frente Parlamentar Agropecuária. Entre os demais
deputados, apenas cinco certamente farão frente ao pleito ruralista de
transferir do Executivo para o Legislativo a aprovação ou não das demarcações e
homologações de terras indígenas, quilombolas e áreas de conservação ambiental.
Em sessão
tumultuada nesta quarta, 11, a comissão definiu como presidente o deputado
Afonso Florence (PT/BA) e na relatoria o deputado Osmar Serraglio (PMDB/PR),
que já relatou a PEC 215 quando ela ainda tramitava na Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ), dando parecer de admissibilidade à proposta. Todos os demais
integrantes da mesa são da bancada ruralista – três vice-presidentes e o
relator substituto. Outros 21 deputados são indicados como suplentes.
Confira a
lista completa aqui.
O número de parlamentares alinhados aos
ruralistas pode ser ainda maior, caso posições regionais de alguns deputados se
mantenham na comissão. Geraldo Simões (PT/BA), um dos titulares, do mesmo
partido da presidente Dilma Rousseff, que já se declarou contra a PEC 215, faz
oposição às demarcações de terras tradicionais no sul da Bahia e apresentou na
Câmara Federal Projeto de Lei (PL) para alterar o procedimento demarcatório no
país.
Os ares desta
comissão podem ser sintetizados pelos episódios desta quarta. Na notícia da
Agência Câmara sobre a definição da mesa diretora da comissão especial (leia
aqui), comentário escrito pelo leitor Luiz Baú diz: “Verifiquem as terras já
demarcadas, e como estão sendo usadas pelos bugres”.
Bugres.
Talvez tenha sido o tratamento pejorativo mais comum utilizado por um grupo,
paramentado com camisas da Confederação nacional da Agricultura e Pecuária
(CNA), contra os indígenas que chegavam à Câmara Federal para participar da
sessão. Xingamentos, intimidação física e demonstração de racismo foram
despejados sobre os indígenas às portas da chamada 'Casa do Povo' (foto acima).
“Uma mulher me chamou de lixo. Não respondi. O
que se diz para alguém assim?”, lamentou um jovem indígena Munduruku. Um dos
principais alvos, cacique Babau Tupinambá foi impedido de entrar na Câmara pelo
grupo da CNA. “Não adianta aceitar provocação. Se não entra por aqui, entra por
outro lado”, disse. A Polícia Legislativa conteve os mais exaltados na busca
por confusão com os indígenas.
A sessão
A sessão transcorreu de forma rápida por conta
dos intensos protestos do movimento indígena. Em decisão conjunta, as bancadas
do PT, PCdoB, PSB, PSOL e PV decidiram pela indicação de nomes à comissão. Os
indígenas distribuíram também um documento contra hidrelétricas na Amazônia, em
inglês e espanhol, utilizado no Fórum Internacional de Direitos Humanos, que
acontece no Centro Internacional de Convenções, em Brasília, como denúncia aos
jornalistas e órgãos de direitos humanos da América Latina e do mundo.
No término
dos trabalhos, o deputado ruralista Luiz Carlos Heinze (PP/RS) partiu para cima
dos indígenas com xingamentos, ofensas racistas e tentativas de agressão, porém
foi contido pela Polícia Legislativa.
FONTE: CIMI (por Renato Santana DF)
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