Manhã
do dia 4 de abril. Na agenda do Papa um singelo encontro com o presidente do Cimi, D. Erwin
Kräutler e o assessor teológico do Cimi, Paulo Suess. Na
pauta do encontro, a questão indígena no Brasil. Na conversa é apresentada a
situação candente de povos violentados em seus direitos, suas vidas, e suas
almas. Realidades que o Cimi vem denunciando há mais de quatro décadas, mas que
infelizmente persistem.
De
acordo com Dom Erwin
Kräutler, o Papa Francisco demonstrou
atenção, preocupação e sensibilidade para com as questões levadas até ele pelo
Cimi, organismo vinculado a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Vaticano, 4 de abril – O presidente do
Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Bispo do Xingu, Dom Erwin Kräutler,
foi recebido nesta sexta-feira, às 12 horas, horário de Roma, Itália, pelo
Santo Padre Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco.
A audiência ocorreu no
gabinete papal e tratou das violações aos direitos indígenas no Brasil,
promovidas pelo capital privado em aliança com o governo federal. Esteve
presente no encontro o assessor teológico do Cimi, Paulo Suess. Nesta quinta,
03, Kräutler e Suess se reuniram também com o prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé, Gerhard Ludwig Müller.
“Grupos políticos e
econômicos relacionados com a agroindústria, a mineração e construtoras, com
apoio e participação do governo brasileiro, tratam de revogar os direitos
territoriais dos povos indígenas”, diz trecho do documento entregue ao Papa
Francisco – leia na íntegra abaixo.
Durante a audiência, os
representantes do Cimi levaram a Francisco casos de violências a que estão
submetidos os povos indígenas e seus aliados. Destacaram a questão Guarani e
Kaiowá no Mato Grosso do Sul, onde “o confinamento (45 mil indígenas) em área
tão pequena traz consigo mortes, suicídios e sofrimento atroz e permanente”.
A truculência do governo
brasileiro contra os Tupinambá, no sul da Bahia, que hoje têm em suas terras
uma base do Exército, incêndio de casas, como a de um agricultor aliado dos
Kaingang, no Rio Grande do Sul, e os ataques do agronegócio contra o Cimi e
demais organizações indigenistas foram outros pontos abordados.
Dom Erwin relatou a situação
dos povos indígenas do Vale do Javari, que sofrem sem assistência médica a
surto de hepatite que já percorre décadas, além da intenção do governo
brasileiro de explorar petróleo nestas terras, o que o governo do Peru já vem
fazendo do outro lado da fronteira e impactando de forma contumaz populações
indígenas com ou sem contato.
Sobre os grandes
empreendimentos, o bispo lembrou que 519 empresas hoje, no Brasil, causam
impacto em 437 terras pertencentes a 204 povos indígenas, conforme relatório
produzido pelo Cimi com base também em outros estudos.
Destaque para o
mega-empreendimento da Usina de Belo Monte, no Pará, cuja construção ocorre
desrespeitando leis nacionais e convenções internacionais, caso da Convenção
169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Entre os povos afetados por
tais projetos, estão grupos em situação de isolamento voluntário: “Muitos deles
se encontram em grande risco de destruição por causa de projetos hidrelétricos,
de mineração e desflorestamento causado pela criação de gado e plantação de
soja”.
Na Amazônia brasileira vivem
cerca de 90 grupos em situação de isolamento, livres, sendo que no mundo esta é
a região com a maior quantidade de povos ainda sem contato com a sociedade que
os envolve.
Paralisação das demarcações
Dom Erwin e Paulo Suess
afirmaram ao Papa Francisco que o governo da presidenta Dilma Rousseff,
contrariando a Constituição brasileira, paralisou a demarcação das terras
indígenas incentivando ainda mais a violência contra os direitos dos povos
tradicionais.
“A paralisação da demarcação
é uma das principais causas de conflito e violência que sofrem os povos
indígenas”, diz outro trecho do documento recebido por Francisco. Os
representantes do Cimi entregaram ao Papa publicações e estudos aprofundando as
denúncias que levaram ao Vaticano.
De acordo com Dom Erwin
Kräutler, o Papa Francisco demonstrou atenção, preocupação e sensibilidade para
com as questões levadas até ele pelo Cimi, organismo vinculado a Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
FONTE: CIMI, IHU
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