Os solos são essenciais para os ecossistemas, são base para o desenvolvimento socioeconômico das sociedades e sem os solos não temos como sustentar a vida no planeta.
Por outro lado, esta iniciativa da ONU para despertar para uma maior conscientização sobre a relevância do solo, acontece quando o debate sobre as mudança climáticas está sendo incorporado pelos interesses do capital, através de falsas soluções propostas pelas grandes corporações transnacionais, como uma saída para a crise do capitalismo. Ao invés das mudanças climáticas serem vistas como uma oportunidade para mudarmos o paradigma do desenvolvimento baseado no crescimento infinto e na apropriação, exploração e consumo desenfreado dos bens comuns da natureza, existe todo um movimento para a implantação de novos mercados, baseado no capitalismo climático.
Na realidade os acordos das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas têm legitimado e intensificado atividades destrutivas como as de mineração, petróleo e gás, as monoculturas florestais e o agronegócio, entre outras.
Um dos exemplos dessas falsas soluções está na chamada "agricultura climaticamente inteligente", conceito criado em 2010, pela FAO, e lançado na Cúpula da ONU sobre o Clima, organizada pelo seu secretário geral, em setembro de 2014. Essa agricultura é apresentada como uma nova solução para resolver o problema das mudanças climáticas. Um dos grandes problemas desse tipo de agricultura é o de não diferenciar os efeitos negativos da agricultura industrial e as soluções reais da agricultura camponesa e tradicional. Um dos pilares dessa "agricultura climaticamente inteligente" é a do fortalecimento do mercado de crédito de carbono, através de títulos de sequestro de carbono, no solo. Uma vez que uma das funções do solo é absorção e fixação de gás carbônico. Por essa função, o capital está medindo e quantificando a quantidade de carbono nos solos, para dar valor de mercado à essa função muito importante do . A "agricultura climaticamente inteligente" visa a medição e a mercantilização do carbono do solo, que seria então vendido e comercializado em mercados de carbono.
Reagindo contra essa tendência, durante a COP 20 (Conferência das Nações Unidas) realizada em em Lima, em outubro de 2014, organizações e movimentos da sociedade civil internacional, reunidos na Cúpula do Povo lutam pela ideia, resumida no slogan: "Mudemos a Sociedade e não o Clima".
Para esse ano de 2015 os documentos e informes da ONU, falam em adaptação às mudanças climáticas. Nós acreditamos na necessidade e importância da preservação e manutenção dos solos saudáveis e protegidos. Como diz a própria campanha da FAO, o "solo é essencial para um planeta saudável e para o bem estar humano".
É momento de repensarmos nossa matriz agrícola, combater o agronegócio, fortalecer a agricultura familiar e modos de produção tradicionais, onde a convivência com o meio ambiente é a base do processo.
No Brasil temos, por exemplo, entre 20 e 40 milhões de hectares de áreas de pastagens em algum estágio de degradação, um reflexo da criação de gado em escala industrial. Outra questão é a do uso intensivo de fertilizantes sintéticos na monocultura. Esses fertilizantes são responsáveis pela mais emissão de gases de efeito estufa na atmosfera do que fertilizantes orgânicos. A produção global de fertilizantes sintéticos, sozinha, é responsável por 1% das emissões globais de gases.
Temos que lutar por políticas, instrumentos e financiamentos que levem à proteção da segurança e soberania alimentar dos impactos das mudanças climáticas. Solos saudáveis estão na base da agricultura familiar, são fundamentais para a produção de alimentos e na luta contra a fome. Solos saudáveis são na verdade reservatórios da biodiversidade.
Outro aspecto importante que temos de levar em consideração, quando falamos em preservação, proteção e manutenção saudável do solos é combatermos os impactos no solo provocados pela mineração. Essa degradação e destruição do solo depende do volume, do tipo de mineração e dos rejeitos produzidos.
A luta pelos solos é parte da luta em defesa dos territórios frente aos impactos da mineração.
Frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, ofm
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