Surpreendidos por uma postagem no facebook do prefeito de Uberlândia, nos resta refletir. Mais uma vez o esvaziamento de conceitos,
diferenças e disputas que existem na sociedade mascaram a realidade. O Prefeito Gilmar Machado
não compreende que a agricultura familiar e o agronegócio são incompatíveis. Ao
convidar o Ministro do Desenvolvimento Agrário para participar da edição deste
ano da Feira do Agronegócio do Estado de Minas Gerais (Femec), que será
realizada em Uberlândia, no Sindicato Rural, no mês de março, fica clara essa incompreensão.
Segundo o prefeito o convite é para que o MDS participe desta feira do
agronegócio com o programa do governo federal, Mais Alimentos, que atende a agricultura familiar. (foto: facebook Gilmar Machado)
Ora, a FEMEC é a feira do agronegócio. Os interesses do agronegócio são antagônicos
aos da agricultura familiar e da reforma agrária. O agronegócio se baseia na
monocultura extensiva, no uso intensivo de venenos agrícolas (agrotóxicos), na exploração
do trabalho, na eliminação alarmante de empregos, no aumento da concentração do
mercado e na apropriação da ciência e tecnologia para coloca-las o serviço do
capital. O agronegócio, ainda, se apropria de todos os recursos naturais, com
práticas que causam grandes impactos ambientais. Infelizmente esses processos, apoiados e movidos a partir de esferas de poder, vide Katia Abreu como Ministra da Agricultura Pecuária e Abastecimento, desenvolvem uma política e
ideologia que reforçam o agronegócio como a única uma realidade inquestionável.
A agricultura familiar, por sua vez, é mais que um
pacote de tecnologia, insumos, capital e mercado. É acima de tudo uma forma de organização da
vida nos territórios. A agricultura familiar estabelece sistemas de convivência
com a natureza. A prática agrícola familiar trabalha com sistemas mais diversificados na produção de
alimentos, utiliza o mínimo de insumo externo, integra lavoura e pecuária, e busca a adaptação ao meio natural, possibilitando a criação de
sistemas sustentáveis de produção.
A FEMEC é uma das expressões mercadológicas do agronegócio. Ela conjuga interesses
das indústrias, de equipamentos, de insumos agrícolas, de transgenia, com os da
indústria transformadora das matérias-primas agrícolas, todos esses setores são amplamente
dominados pelas grandes multinacionais, basta conferir a lista de confirmação
de empresas expositoras já confirmadas.
O agronegócio favorece a insegurança alimentar e atenta contra a
soberania alimentar. No setor de grãos, por exemplo, apenas cinco empresas
controlam toda a cadeia, desde as sementes e insumos ao mercado internacional,
entre elas a Monsanto, a Cargill e a Bunge. Se aprofundarmos, um pouco mais, vamos ver que
Monsanto, Bunge, Cargil, ADM, Basf, Bayer, Sygenta, Novartis, Nestlé e Danone,
controlam praticamente toda a produção agrícola, de agrotóxicos, de sementes
transgênicas e o comércio agrícola de exportação.
O Sindicato Rural de Uberlândia representa o agronegócio e os interesses
do latifúndio. Trata-se de uma entidade de classe historicamente contrária à Reforma Agrária.
O agronegócio articula os interesses dos grandes proprietários
de terra, do capital financeiro e de empresas transnacionais. Ele especula com
o preços das commodities agrícolas. O agronegócio avança sobre territórios,
produz para o mercado internacional, concentra os investimentos públicos,
contamina o meio ambiente, inviabiliza a agricultura familiar.
Como acreditar que não existe uma contradição e um desrespeito, ao se
levar para uma feira do agronegócio, uma política de governo voltada para
a agenda da agricultura familiar? O agronegócio brasileiro é alinhado ao
capitalismo global e utiliza as mais modernas tecnologias e métodos de
produção, para especular com as commodities agrícolas, mantendo práticas arcaicas
e violentas, como a formação de milícias armadas, o desrespeito aos direitos
trabalhistas e a prática de crimes ambientais.
Esperamos que a feira do programa Mais Alimentos seja realizado em um contexto que reforce e privilegie os valores éticos, econômicos e culturais dos agricultores familiares. Onde a sustentabilidade, a ética, a produção de alimentos e a cidadania sejam compromissos fundamentais. Lamentamos o desrespeito à luta pela agroecologia, a segurança alimentar, a soberania alimentar e pela reforma agrária.
Frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, ofm
Que aula que vc deu ao prefeito!Separar o "joio do trigo" e essencial para o gestor público.
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