sábado, 18 de julho de 2015

Mensagem do Papa Francisco aos Atingidos pela Mineração

O Papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes do encontro do Conselho Pontifício de Justiça e Paz, com representantes de comunidades atingidas pela mineração, que acontece em Roma, nos dias 17 - 19 de julho.  O Encontro discute os problemas da mineração, violações de direitos humanos e impactos ambientais.

Na mensagem, o Papa disse que "é a partir da dignidade humana que se cria a cultura necessária para enfrentar a crise atual". O papa indica que uma das finalidades do encontro é "para que se escute o grito de muitas pessoas, famílias e comunidades que sofrem direta ou indiretamente, às causa das conseqüências muitas vezes negativas das atividades de mineração".O Papa diz que todo o setor minerário é "chamado a fazer uma mudança de paradigma para melhorar a situação em muitos países".

Leia na integra a mensagem do Papa


Mensagem do Santo Padre para o Encontro com os Atingidos pela Mineração
Ao Venerável Irmão
Cardeal Peter Turkson
Presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz

Eminência,

Tenho o prazer de transmitir as minhas saudações e o meu encorajamento aos participantes da reunião de representantes de comunidades afetadas por atividades de mineração, organizado pelo Conselho Pontifício Justiça e Paz em colaboração com a rede latino-americana Iglesias y Mineria sobre o tema "Unidos em Deus ouvimos um grito. "

Vindes de situações diferentes e de maneiras diferentes experimentais os efeitos das atividades de mineração, sejam esses conduzidos por grandes empresas industriais, por artesãos ou operadores informais. Vós quisestes reunir em Roma, nesta jornada de reflexão que está ligada a uma passagem da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (ver n. 187-190), para que se escute o grito de muitas pessoas, famílias e comunidades que sofrem direta ou indiretamente, às causa das conseqüências muitas vezes negativas das atividades de mineração. Um grito pelas terras perdidas; um grito pela extração das riquezas do solo que, paradoxalmente, não produz nenhuma riqueza para a população local que permanece pobre; um grito de dor em reação às violências, às ameaças e à corrupção; um grito de indignação e de ajuda pelas violações dos direitos humanos, de forma discreta ou descaradamente pisoteados no que diz respeito à saúde das pessoas, condições de trabalho, às vezes pela escravidão e tráfico de seres humanos que alimenta o fenômeno trágico da prostituição; um grito de tristeza e de impotência pela poluição da água, do ar e do solo; um grito de incompreensão pela falta de processos inclusivos e de apoio por parte das autoridades civis, locais e nacionais, que têm o dever fundamental de promover o bem comum.

Os minerais e, em geral, as riquezas do solo e do subsolo são um dom precioso de Deus, que a humanidade utiliza durante milhares de anos (cfr Gb 28,1-10). Os minerais, de fato, são fundamentais para muitos setores da vida e da atividade humana. Na Encíclica Laudato si eu quis fazer um apelo urgente pela colaboração no cuidado de nossa casa comum, para contrastar as dramáticas consequências da degradação ambiental nas vidas dos pobres e excluídos, e avançar para o desenvolvimento integral, inclusivo e sustentável ( cf. n. 13). Todo o setor da mineração é, sem dúvida, chamado a fazer uma mudança radical de paradigma para melhorar a situação em muitos países. Para isso podem dar sua contribuição os governos dos países de origem das empresas multinacionais e daqueles em que elas operam, os empresários e os investidores, as autoridades locais que supervisionam a realização de operações de mineração, os trabalhadores e os seus representantes, as cadeias abastecimento internacional com seus vários intermediários e aqueles que trabalham nos mercados desses materiais, os consumidores de produtos para os quais esses minerais forma utilizados. Todas essas pessoas são chamadas a adotar um comportamento inspirado no fato de que nós formamos uma única família humana, “que tudo está inter-relacionado, e que o genuíno cuidado de nossa própria vida e de nossa relação com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros” (ibid., 70).

Encorajo as comunidades representadas nesta reunião a considerar como interagir construtivamente com todos os demais atores envolvidos, num diálogo sincero e respeitoso. Espero que esta ocasião contribua para uma maior consciência e responsabilidade nestes temas: é a partir da dignidade humana que se cria a cultura necessária para enfrentar a crise atual.

Peço ao Senhor que o vosso trabalho nesses nos dias seja rico de frutos, e para que esses frutos possam ser compartilhados com todos aqueles que os necessitam. Vos peço, por favor, de rezarem por mim e com afeto vos abençoo, assim como as vossas comunidades e vossas famílias.

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