Submeter
a reparação de um crime à vontade daqueles que o cometeram é imoral e
ao mesmo tempo se trata de perpetrar um outro crime. O acordo
firmado em cerimônia realizada no Palácio do Planalto, nesta quarta
feira dia 2 de março, dá poderes de decisão à Samarco, Vale e BHP
Billinton sobre as vítimas.
O
acordo (ajuste de conduta) firmado extrajudicialmente é vergonhoso. As
partes, Governo Federal, o Estado de Minas Gerais e o Estado do Espírito
Santo, o Ministério Público Federal, os Ministérios Públicos dos
Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, além de diversos órgãos
federais e estaduais de fiscalização, regulação e monitoramento
ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama), o Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM) e a Agência Nacional de Águas (ANA) se revelam subservientes e
controladas pelo capital corporativo.
A população e as comunidades indígenas atingidas não foram consultadas. Tudo foi feito às portas fechadas. Só
se revelou alguma coisa, quando a Agência de Reportagem e Jornalismo
Investigativo - Agência Pública, na semana passada, fez uma denuncia a
partir de uma minuta do acordo por eles obtida.
O
acordo cria uma Fundação de direito privado, gerida pelas empresas
(Vale, BHP Billinton, Samarco) com poder de decisão sobre os atingidos. O
acordo, ainda, extingue a ação civil pública movida contra as
mineradoras, e permite que elas negociem individualmente as diversas
violações de direitos humanos. Será a Samarco Vale e BHP Billiton, quem
acertará o valor da indenização com cada atingido.
É
importante repetir: Submeter a reparação de um crime à vontade daqueles
que o cometeram é imoral e ao mesmo tempo se trata de perpetrar um
outro crime. O acordo dá poderes de decisão aos criminosos sobre as
vítimas.
O
governo deveria, sim, enfatizar um regime que coloca ênfase na
responsabilidade legal das empresas, em relação às violações de direitos
por elas cometidas. Deveria, criar instrumentos que dão poder e
permitam às vítimas exigirem uma reparação, incluindo compensação,
restituição e reabilitação dos danos sofridos. A reparação não pode
depender dos negócios e oportunidades das empresas em causa.
O
acordo permite a negociação no varejo das diversas violações de
direitos humanos, sociais, econômicos e ambientais, fragmentando as
comunidades atingidas e enfraquecendo a força coletiva.
O
governo de Minas, uma das partes do acordo, não possui credibilidade
para realiza-lo. Não só porque não consultou os atingidos e os
movimentos sociais que os representam, mas porque é corresponsável, ao
menos subsidiariamente, no que tange à sua omissão histórica em relação à
fiscalização e negligência nos processos de licenciamentos que foram
concedidos à Samarco (Vale e BHP Billinton). A conduta do executivo
mineiro desde os primeiros momentos do rompimento da barragem é
questionável: deixou o controle da cena do crime nas mãos da Samarco; o
governador concedeu sua primeira coletiva de imprensa sobre o desastre
dentro das dependências da empresa; e como se não bastasse, o secretário
de Desenvolvimento Econômico do Estado classificou a Samarco como
vítima do rompimento de sua barragem. Além disso em meio aos impactos do
desastre o governador aprova lei que flexibiliza o licenciamento
ambiental, no Estado de Minas Gerais.
Os
que defendem o acordo usam o argumento de que se trata de conciliação,
uma forma de solução mais breve do que a lentidão dos tribunais. No
entanto, a eficácia da lei não se baseia somente nos processos
judiciais, mas também no poder de incentivar uma cultura de cumprimento e
de combate à impunidade.
É importante ressaltar ainda, uma recente denuncia do Comitê em Defesa dos Territórios Frente à Mineração: “A
Vale, uma das maiores financiadoras de campanhas eleitorais no país,
teve grandes benefícios na construção desse acordo. O Financiamento
privado de campanhas eleitorais é a raiz de toda a corrupção. A Vale,
empresa que controla a Samarco doou um total de R$ 88 milhões na
campanha de 2014. Desses, R$ 48,85 milhões a comitês financeiros e
diretórios na campanha de 2014. E doou também para candidaturas
específicas, do Congresso à Presidência. Isso soma mais R$ 39,32 milhões
de reais drenados da Vale para políticos do governo e da oposição
Essas cifras se referem às doações eleitorais de seis empresas ligadas à
Vale: Vale Energia, Vale Manganês, Vale Mina do Azul, Minerações
Brasileiras Reunidas, Mineração Corumbaense Reunida e Salobo Metais
(segundo TSE).”
Esse
acordo é um claro exemplo de captura corporativa, em sua forma mais
forte. Níveis diferentes de governo à serviço dos interesses
corporativos. A Vale e a BHP Billinton minam as políticas e práticas que
se destinam a garantir os direitos humanos e o meio ambiente. Governos
federal e estaduais atentam contra o interesse público e o direito.
O
Ministério Público Federal, de Minas e do Espírito Santo questionaram
esse acordo. O Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente à
Mineração e a Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela
Vale repudiaram o acordo.
Uberlândia, 2 de março de 2016
As mineradoras destrói tudo e a comunidade do território atingido fica na lama sem nada...!
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