da Rádio Vaticano
O Pontifício Conselho para a Cultura instituiu uma Consultoria Permanente formada somente por mulheres. O organismo reuniu-se pela primeira vez na última terça-feira. Nossa colega do Programa alemão, Gudrun Sailer, entrevistou o Cardeal Gianfranco Ravasi sobre os objetivos da nova e inédita iniciativa.
“Os objetivos são, substancialmente, de dois gêneros: por um lado – e este é o fundamental – convidar as mulheres a oferecer, com o seu olhar e interpretação pessoal, um juízo sobre todas as atividades do dicastério. Portanto, não se trata de uma consultoria decorativa. A segunda dimensão a que nós queremos chegar é a de ter, por meio das mulheres, a sugestão de levar-nos além, em terras incógnitas, isto é, em novos horizontes... Pois, aqui somos todos homens, não temos um oficial que seja mulher e as mulheres têm somente funções do tipo administrativo e de secretaria. Justamente por este motivo, queremos pedir às mulheres para indicar também percursos que nunca tenhamos percorrido”.
RV: Então, se poderia dizer que seja realmente inovadora a instituição de uma consultoria voltada ao feminino...
“É inovadora justamente neste sentido, porque não quer simplesmente ter também vozes femininas. Eu sou substancialmente cético sobre a tese da 'cota rosa'. Estou mais convencido de que seja absolutamente necessária uma presença, e uma presença relevante, que não somente dê vagamente uma cor, mas que entre, pelo contrário, no mérito das questões, também com a sua capacidade crítica”.
RV: Vimos este núcleo, este primeiro núcleo que reuniu-se pela primeira vez aqui na sede do dicastério. Quais são os passos seguintes?
“Eu gostaria um pouco de descrever esta primeira reunião, que ocorreu naturalmente a partir de uma manifestação de todas as mulheres presentes, que – justamente por meio desta apresentação, não meramente biográfica – já deram uma mexida em nós que assistíamos, mas também nelas mesmas, pois cada uma se recontou, não somente do ponto de vista profissional, mas também do ponto de vista humano. Portanto, esta já é uma contribuição também para nós: ouvir, isto é, as experiências existenciais. Eu propus um exemplo a partir do qual se poderia iniciar. Eu tenho ao menos sete, oito atividades dentro de meu dicastério que gostaria que fossem julgadas, interpretadas, apoiadas pelas mulheres. Uma destas, a primeira, é talvez, aparentemente, somente aparentemente, marginal: a do esporte. O esporte, de fato, tornou-se uma espécie de ‘esperanto dos povos’ e é também um dos fenômenos nos quais mais se reflete a figura do homem e da mulher, do bem no jogo, na riqueza, na fantasia, mas também na degeneração. Pensemos o que é o doping, a corrupção, a violência nos estádios, o racismo e assim por diante. Este, portanto, foi o primeiro exemplo. Nós gostaríamos agora de continuar, de etapa em etapa, com dois percursos: de um lado, ampliar este grupo, e de outro, solicitar o juízo delas sobre uma série de outros temas que temos já prontos”.
RV: As componente do grupo devem ser todas católicas?
“Atualmente a totalidade, acredito, seja de mulheres católicas. Na verdade, justamente o tema, que apareceu de imediato, foi não somente o da dimensão ecumênica, mas também o da dimensão inter-religiosa. E eu coloquei uma terceira dimensão: não somente os fieis, os diversamente crentes, mas também os não-crentes. Eu tenho intenção, portanto, de introduzir também mulheres que não tenham nenhuma fé religiosa explícita”.
RV: Seria pensável formar grupos deste gênero, de consultoria feminina, em outros dicastérios da Cúria romana?
“Isto eu pensaria como um desejo, porque o Papa Francisco insistiu sobre isto, fez frequentes declarações nesta linha, reconhecendo que a presença das mulheres na Cúria vaticana é ainda muito exígua. Isto deve ocorrer, na minha opinião – como disse uma vez o Papa Francisco – não somente na via funcional, isto é, não segundo a mentalidade clerical, para a qual a presença é somente se tu consegues ter uma função do tipo sacerdotal, do tipo dicasterial, ou seja, funções que sejam substancialmente ainda aquelas que foram codificadas pelos homens. Seria preciso ter grande criatividade e eu espero que sejam criados ministérios, funções, responsabilidades que sejam primorosamente femininas. Devemos recordar também, como frequentemente citado pelo Papa Francisco, que a figura de Maria é mais relevante do que aquela dos Cardeais e aquela dos próprios bispos. Por este motivo, eu acredito que deva vir uma revolução, uma evolução em nível teórico, antes de tudo, isto é, de mentalidade, de teologia e, em nível prático, certamente, tendo presente, porém, sempre esta observação: que não devemos considerar o modelo masculino, que até agora construiu, também legitimamente, as funções, os ministérios dentro da Igreja, como o modelo a ser imitado, o único exclusivo”. (JE)
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