O governo de Minas Gerais emitiu decreto
concedendo à Samarco autorização para construção do Dique S4. Esta medida
garante os interesses da empresa e restringe o acesso das famílias, vítimas do
crime, às suas próprias terras.
Na manhã desta quarta-feira (21) Fernando Pimentel,
Governador de Minas Gerais, assinou o decreto de requisição administrativa de
terrenos no distrito de Bento Rodrigues em Mariana, para que a mineradora
Samarco construa o Dique S4 no distrito.
O Movimento do Atingidos por Barragens (MAB) acredita que
este decreto só simboliza um Estado refém dos interesses privados das
mineradoras transnacionais. A construção do Dique S4 em Bento Rodrigues só
acarreta na consolidação de uma nova barragem no distrito, destruindo a memória
do crime e o alagamento de um patrimônio cultural e histórico.
Para o MAB o dique S4 é mais uma manobra das empresas para
garantir o futuro da expansão minerária e o Governo de Minas Gerais se mostra
empenhado a assegurar os privilégios da Samarco.
O documento autoriza a Samarco a “promover todas as medidas
necessárias à construção e implantação emergencial do dique no distrito.” E
informa que os proprietários devem viabilizar a entrada da equipe técnica da
Samarco em seus terrenos.
A família dona de parte do terreno onde está prevista a
construção do dique S4 já se manifestou contrária ao empreendimento. “Permitir
construção do dique S4 é compactuar com esse crime contra uma comunidade que
merece ter sua memória viva” conta Lucimar Muniz, uma das proprietárias do
terreno onde a empresa quer construir o dique.
Tragédia anunciada
Antes do rompimento da Barragem de Fundão a Samarco já
demonstrava interesse em ampliar as barragens na região. Moradores de Bento
Rodrigues relataram que a empresa realizava estudos sobre a população do
distrito, visando à expansão das construções.
O indício se confirma, pois a empresa é proprietária das
terras ao entorno da comunidade, faltando somente o povoado para consolidar sua
nova barragem. A mina ainda possui uma reserva para 100 anos de
exploração, portanto a Samarco precisaria de um novo depósito de rejeitos, já
que as barragens de Fundão, Germano e Santarém estavam com sua capacidade
máxima.
“A empresa quer se apropriar desse território para
construção de uma nova barragem. Ela sempre buscou afastar os moradores de
Bento Rodrigues para dominar o distrito e ampliar seus grandes depósitos de
rejeitos”, disse Lucimar.
Outro indicativo é o seguro da barragem de Fundão. Segundo
estudos realizados pela seguradora, caso o rompimento da barragem acontecesse,
os rejeitos chegariam “somente” em Bento Rodrigues.
Passado quase um ano do crime, as famílias seguem lutando
por reparações. Porém a Samarco pouco ou nada fez para resolver os problemas de
forma definitiva.
Com esta decisão, as localidades que antes pertenciam às
famílias de Bento Rodrigues, poderão se tornar propriedade privada da Samarco.
Moradores já começam a desconfiar os reais motivos do ocorrido. Primeiro a lama
desalojou as famílias, após foi proibido seu retorno mesmo às famílias sendo os
verdadeiros donos e agora a localidade se transformará em uma obra pertencente
ao complexo de negócios da Samarco.
FONTE: MAB
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