Tentaram nos enterrar. Mal sabiam
que éramos sementes.
Prezada sociedade uberlandense,
Nós, estudantes secundaristas, viemos, por meio desta
nota, comunicar e esclarecer fatos que têm sido divulgados pela mídia de
maneira desonesta.
No dia 03 de novembro, mais uma vez fomos surpreendidos
por uma entrevista do promotor de justiça da vara da infância e da juventude, o
Sr. Jadir Cirqueira de Souza, em que ele afirmou que somos manipulados pelo
superintendente de educação, Jakes Paulo. Gostaríamos de esclarecer que muitos
movimentos sequer tiveram contato com o superintendente e que essa acusação é
absurda. Cada movimento é autônomo, independente um do outro, apesar de
dialogarem por terem objetivos em comum. Não é aceitável que o promotor nos
chame de farsa.
Desde sexta-feira, dia 28 de outubro, estamos buscando,
por nós mesmos, diálogo com o promotor Jadir, entretanto, tudo indica que ele
prefere dialogar com aqueles que são contrários ao movimento. Tentamos o
diálogo para entregar algumas de nossas reivindicações na segunda-feira, 31 de
outubro, mas o promotor não foi localizado. Tentamos novamente o diálogo na
terça-feira, pela manhã (8 horas) e à tarde (13 horas), mas o promotor negou-se
a receber nossas reivindicações, alegando “perda” de prazo.
Nos causa estranheza que nessa mesma data, quando ainda
tínhamos prazo para negociar com a promotoria, o Sr. Jadir já estivesse em
coletiva de imprensa alegando que o movimento das ocupações não havia aceitado
dialogar. Acreditamos que o compromisso maior é conosco, e não com a mídia.
O Sr. Promotor apenas recebeu nossas propostas na terça,
ao fim do dia, após a audiência com nossos pais, e por pedido destes. A
resposta que o promotor dá é a proposta de fim das ocupações e o uso da polícia
contra nosso movimento, já que, nessa mesma coletiva de imprensa, o promotor
garantiu o retorno das aulas para a segunda-feira seguinte, 07/11/2016.
Trata-se de uma posição arbitrária e autoritária do
promotor, uma vez que não há acordo de desocupação pacífica das escolas e não
há pedidos de reintegração de posse expedidos que nos obriguem a desocupar
nossas escolas.
Pedimos ao prezado promotor que respeite nosso
movimento. Temos capacidade para entender que não estamos brincando nessas
ocupações e que nossos pedidos, encaminhados para a sua promotoria, são sérios.
Queremos a atuação do Sr. Jadir pelas nossas reivindicações, e não que ele nos
chame de manipulados.
Gostaríamos também de dizer que não assinamos procuração
para que nenhum advogado nos representasse. Pedimos orientação jurídica para
advogados quanto a nossos direitos, mas não estamos formalmente representados
por nenhum. Temos a certeza de que, para que o promotor nos escute, não é
necessária formalidade jurídica, uma vez que é obrigação dele atuar pelos
jovens, sem exigências desnecessárias, como ele tem feito.
A convocação que o promotor faz para o retorno das
aulas, sem acordo com as ocupações e sem o pedido de reintegração de posse, de
maneira unilateral, estimula possíveis confrontos entre os ocupantes e os
contrários aos movimentos. Dessa forma, no nosso entendimento, quem deve ser
responsabilizado por qualquer violência que ocorra a esses estudantes é o
próprio Promotor.
O promotor também alega que, no último dia quatro,
participantes do movimento, em participação de um ato público e pacífico em
defesa da escola pública, o ameaçaram de morte e o impediram de sair do Fórum
Abelardo Pena, ameaçando violentamente a proposta de desocupação pacífica das
escolas. Repudiamos esse pronunciamento e reafirmamos o caráter pacífico do
movimento, não nos responsabilizando por possíveis atos violentos individuais e
isolados.
À sociedade, às nossas famílias e companheiros, queremos
ressaltar mais uma vez a importância e a legitimidade do nosso movimento.
Reforçamos que essa luta é por todos nós, pelo nosso presente e futuro! Nosso
inimigo não são vocês, opositores ao movimento, mas sim a PEC 55, a MP 746 e a
o Projeto Escola sem Partido!
Os alunos aqui presentes tem plena consciência do porquê
estamos lutando e são completamente capazes de argumentar por si próprios sobre
as decisões inconsequentes tomadas pelo governo!
Estamos aqui há quase três semanas, e nesse tempo
tivemos muitos desafios, fomos obrigados a ouvir que somos delinquentes e
vagabundos. Porém, como já foi explicado através de diversas notas, todos os
dias são organizados "aulões" de diversas matérias, pois acreditamos
que as escolas são locais de troca de conhecimento, sendo assim, interromper a
mesma desconstruiria o movimento pelo qual lutamos, mas mesmo assim, a mídia
persiste em passar informações equivocadas sobre o que acontece aqui dentro e
não nos dá voz para passarmos o nosso lado!
Estamos tomando nosso futuro para nós, lutando pelos
nossos direitos, apesar de todas as dificuldades! Não decidirão nada sobre nós
sem nos consultar!
Queremos dizer que as ocupações são vários movimentos
independentes, e que não marcamos audiência de conciliação. O que exigimos é
uma audiência pública, com participação de toda a sociedade, para que o
promotor nos escute e para que possamos propor a ele ações.
Esclarecemos à toda a sociedade que o promotor nos
ignorou ao não considerar essa proposta e, assim, não pode justificar o uso da
força para nos retirar das ocupações. Repudiamos essa forma de agir com nosso
movimento e exigimos imediatamente que todas as ações do Sr. Jadir Cerqueira
sejam repensadas, e que seja realizada a audiência pública com representantes
de todas as escolas para que estes possam ser, de fato, escutados.
No mais, dizemos que desocuparemos as escolas por nossa
decisão ou com a decisão judicial, não por decisões autoritárias. Agradecemos
todo apoio e compreensão,
Escolas Ocupadas de Uberlândia-MG,
07
de novembro de 2016