O segundo dia de trabalhos do terceiro Encontro Mundial dos Movimentos Populares, começou com um reconhecimento e homenagem a todos aqueles que perderam suas vidas por causa de suas lutas e causas justas. Neste sentido, estava muito presente a ativista Berta Cáceres, morta por sua defesa ambiental em Honduras, e que participou da primeira edição deste encontro. Em seguida, começou o painel "Território e Natureza".
Neste painel participaram Dra. Vandana Shiva, de Navdanya Trust (Índia); Rosalina Tuyuc, da Coordenação Nacional das Viúvas (Guatemala); Monica Crespo, da Federação das Cartoneros e Recicladores (Argentina) e Te Ao Pritchard, da Rede Pacific Panthers (Nova Zelândia). A coordenação deste painel foi conduzida por Nohra Padilla, da Associação de Recicladores de Bogotá (Colômbia) e Ana de Luco, de Sure We Can (EUA).
Ao introduzir o debate, Ana de Luco citou as palavras de Francisco para sublinhar a principal tarefa: a defesa da Mãe Terra. A este respeito, o Painel tem como objetivo discutir os diferentes aspectos e perspectivas na recuperação, respeito e cuidado da Terra.
Na primeira intervenção, Dr. Vandana Shiva, conhecida eco-feminista, observou que "todos aqueles que defendem a natureza e os direitos dos povos são perseguidos." Com esta dificuldade acrescida, Schiva destacou a importância de "viver conforme pede o Altíssimo, respeitando a terra e criação". Cada um de nós "somos a Terra. Nós não estamos separados dela. Os poderosos construiram uma separação, o que eu chamo ecoapartheid: em nossa consciência e realidade, criando pessoas sem-teto e sem-terra. A revolução é voltar à nossa "casa comum", a Terra, como diz o Papa. Mas, uma vez em casa devemos respeita-la."
Shiva continuou a fazer uma dissertação sobre o papel a ser desempenhado pela ciência, economia, tecnologia de hoje para concluir que é prioritário o respeito e o cuidado da criação. Neste sentido, denunciou a destruição de espécies por parte da indústria comercial em mais de 35% nos últimos anos, "nós fizemos da agricultura uma arte de vender veneno", disse ela. Em seu discurso, ela apontou um desafio: "As igrejas e instituições confessionais devem se converter no santuário das sementes". Manifestou-se contra os acordos de TTIP e CETA ao considerae que "arruinam a vida." E, finalmente, ela fez uma aposta na agro-ecologia, "a Terra nos é dada para que vivamos nela, pois vivamos bem."
Seguindo o painel, interveio Rosalina Tuyuc para "falar da Mãe Terra, da mãe natureza é pensar na vida" em sua integralidade, em toda a sua globalidade. Pensar sobre a vida, nos leva à "necessidade de defender e responder a qualquer ameaça." Para Tuyuc, o papel das mulheres nesta tarefa "protetora" é fundamental que não pode ser moeda de troca ante às "ofertas de crescimento e desenvolvimento" feitas pelas empresas. Nossos povos acrescenta Tuyuc- não aceitam nenhuma oferta em troca da morte: "somos continuidade da vida, por isso a necessidade de ver que a água, o solo e as sementes são elementos de vida e não de mercado e de morte. Quando os filhos da Mãe Terra formos atacados, devemos trabalhar em unidade. "
Em seguida, foi a vez da intervenção Te Ao Pritchard, apresentando o grupo chamado "As Panteras do Pacífico", que incorpora as populações nativas e de migrantes, entre gerações, daquelas latitudes, para dialogar sobre temas distintos, mas com um denominador comum: o cuidado da criação. A experiência de Ao é fundamentalmente de ação, "nos prepararmos para responder ao problema do comércio de armas, também com a solidariedade e a colaboração de outros povos indígenas, desenvolvemos inúmeras ações. Nós também incorporamos a defesa da soberania alimentar nas nossas atividades. Nós temos navios de guerra em nosso território que afetam nossas águas. Nós vamos manifestar com os nossas embarcações tradicionais para fazer valer os direitos dos povos indígenas. Eu pertenço a uma tribo e temos de agir também junto com tribos vizinhas. Quero salientar a importância da formação dos jovens e combater suas vulnerabilidades. Dizemos a eles que não devem esgotar-se em uma última ação, mas seguir em frente e dialogar para fora, mas principalmente com igualdade definir uma posição comum ", disse ele.
A última intervenção, fez com que a catadora de papel argentina Monica Crespo, em nome de seus companheiros e companheiras, apresentasse o trabalho que estão realizando e "as conquistas que ganharam através da luta. Nossos companheiros também são perseguidos e deslocados. Somos um povo que não aprendeu que a reciclagem é importante para cuidar do planeta, como diz o Papa ".
Esta experiência mostra que "conseguimos que o Estado apoie o nosso trabalho e que o serviço de reciclagem e seja feito pelos catadores não pelas empresas. Um reconhecimento muito importante para o trabalho e a melhoria das condições, com salários, transporte, etc. "Essa constância na defesa dos direitos dos trabalhadores, levou-os a fazer uma proposta concreta como “a lei da embalagem", uma iniciativa que visa promover a reciclagem no âmbito das empresas, assim também uma forma de cuidar da casa comum, "seria garantir que trabalhadores e trabalhadoras tenham melhorias nas condições de trabalho". Neste sentido, os catadores e catadoras demonstraram capacidade para atender a essa necessidade de reciclagem na sociedade. "Somos trabalhadores e trabalhadoras que saímos faça sol ou chuva para reciclar e cuidar da Mãe Terra (...) Nos alegra ver que em vários países se está lutando pela reciclagem, pela não-contaminação. Para ajudar neste processo, é importante que sejam perseguidos os trabalhadores da reciclagem, porque eles são os cuidadores do meio ambiente ".
O painel terminou com Nohra Padilla, fazendo uma chamada para "estabelecer uma soberania alimentar, uma soberania de trabalho, uma soberania popular. Se você quer algo, lute e você vai tê-lo."
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