sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Nota de solidariedade ao Frei Gilberto e à luta contra a mineração na Serra do Brigadeiro (MG)

Mais de 70 organizações, movimentos sociais, populares e sindicais assinam nota em solidariedade ao Frei Gilberto Teixeira, da Fraternidade Santa Maria dos Anjos, franciscano e responsável pela Paróquia de Belisário, que foi ameaçado de morte no último dia 19 de fevereiro, em razão de sua atuação contrária a ampliação dos projetos de mineração de bauxita na da Serra do Brigadeiro em Minas Gerais, distrito de Belisário (Muriaé-MG) A mineração tem à frente a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), pertencente ao grupo Votorantim.
 Por Flávia Quirino/MAM

Nota de solidariedade ao Frei Gilberto
e à luta contra a mineração na Serra do Brigadeiro

 A região da Serra do Brigadeiro, situada na Zona da Mata de Minas Gerais, é conhecida nacionalmente pela sua rica biodiversidade, amplas áreas preservadas de mata atlântica, belezas naturais e uma agricultura familiar e camponesa consolidada com forte matriz agroecológica. Além disso, a região abriga a segunda maior reserva de bauxita do país, o que despertou, desde a década de 80, o interesse de mineradoras em explorar as jazidas minerais objetivando o lucro sem se importar com as consequências nefastas da mineração na região.

Dentre as mineradoras que atuam na região, a principal delas é a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que no último período tem intensificado a pressão nas comunidades para a expansão do empreendimento e exploração dos territórios. Apesar da CBA utilizar inúmeras estratégias de má fé para enganar as famílias, as comunidades não têm aceitado a possibilidade da perda de seus modos de vida para um projeto de mineração que nada tem a oferecer ao bem-estar social local. Nesse sentido, diversas organizações, entre movimentos populares, sindicatos, pastorais sociais, grupos religiosos, ONG’s e pesquisadores tem atuado conjuntamente na defesa do território, construindo lutas e fazendo resistência aos intentos dos interesses do capital mineral em saquear o território.

No último período, diversas ações foram realizadas na região da Serra do Brigadeiro para denunciar e repudiar a atuação da CBA. Estas ações têm gerado cada vez mais a ampliação da consciência das comunidades locais sobre os impactos e riscos da chegada deste modelo de mineração e ao mesmo tempo gerado também reações de coação às lutas e, até mesmo, ameaças aos sujeitos envolvidos na defesa do território.

No último domingo, dia 19 de fevereiro, o companheiro Frei Gilberto, franciscano da Fraternidade Santa Maria dos Anjos do distrito de Belisário (Muriaé - MG), ao finalizar a celebração da missa de domingo foi covardemente abordado por um pistoleiro armado que o ameaçou devido aos seus posicionamentos contrários aos projetos pretendidos pelas mineradoras. O pistoleiro enfatizou em sua abordagem que naquele momento era só um aviso, mas que, se o Frei Gilberto continuasse atuando junto aos movimentos de resistência e se posicionando contra a mineração ele retornaria para matá-lo. Além da ameaça à vida, o pistoleiro ainda sinalizou que Frei Gilberto está sendo monitorado de perto: forneceu informações sobre todas as viagens recentes e ainda sabia conteúdo da fala do Frei em diversos eventos. O que pode significar que o Frei Gilberto está sendo grampeado e seguido em todas suas ações.

Diante do episódio, manifestamos publicamente o repúdio ao tal acontecimento e exigimos dos órgãos responsáveis a garantia de segurança à vida e do direito de lutar pelas causas coletivas. Ao mesmo tempo expressamos nosso total apoio e solidariedade ao companheiro Frei Gilberto e aos sujeitos que se dedicam na luta em defesa do território da Serra do Brigadeiro contra os interesses do capital mineral na região.

Muriaé – MG, 23 de fevereiro de 2017.

1.       Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade (AFES)
2.       Associação Alternativa Terrazul
3.       Associação de Pequenos Agricultores de Miradouro
4.       Associação Franciscana Santa Maria dos Anjos
5.       Brigadas Populares
6.       Cáritas Diocesana de Leopoldina
7.       CASA - Centro de Análise Socioambiental
8.       CDDH da Serra - ES
9.       CEIFAR – ZM
10.    Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini
11.    Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular
12.    Comissão de Justiça e Paz
13.    Comissão Pastoral da Terra (CPT)
14.    Comissão Pró-Índio de São Paulo
15.    Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos - CBDDH
16.    Comitê Estadual (MG) da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
17.    Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração
18.    Consulta Popular
19.    CRESOL Fervedouro
20.    CUT - MG
21.    Escola Família Agrícola da Serra do Brigadeiro (EFASB)
22.    Escola Família Agrícola Dom Luciano
23.    Escola Família Agrícola Puris
24.    Escola Nacional de Energia Popular (ENEP)
25.    FBOMS – Fórum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais para o Meio
26.    FOMENE
27.    Fonasc - Fórum Nacional de Solidariedade Civil na Gestão de Bacias Hidrográficas
28.    Fórum Mudanças Climáticas
29.    GEPSA/UFOP (Grupo de Estudos e Pesquisas Sociambientais da UFOP)
30.    GESTA - Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais - da UFMG
31.    Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS)
32.    Grupo Rede Congonhas
33.    Grupo Tortura Nunca Mais (Bahia)
34.    IBASE
35.    IBEIDS - Instituto brasileiro de Educação Integração e Desenvolvimento Social
36.    Inesc – Instituto de Estudos Socioeconômicos
37.    Instituto Universo Cidadão
38.    Intersindical - Central da Classe Trabalhadora
39.    Justiça Global
40.    Justiça Global
41.    Justiça Social
42.    Kathiuça Bertollo - Professora da UFOP
43.    Levante Popular da Juventude
44.    Mandato Coletivo e Participativo Deputado Federal Padre João
45.    Mandato Deputado Estadual André Quintão
46.    Mandato Deputado Estadual Rogério Correia
47.    Mandato Vereador de Rosário de Limeira Davi Aparecido de Oliveira
48.    Marcelo Leles Romarco de Oliveira, professor Dr. do DER-UFV e Coordenador do projeto de essoria a Comunidades Atingidas por Barragens e Mineração-PACAB
49.    Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
50.    Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST)
51.    Movimento Evangélico Popular Eclesial (MEPE)
52.    Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM)
53.    NEA - Núcleo de Estudos em Agroecologia
54.    NETTE - Núcleo de Estudos em Educação, Tecnologia e Trabalho
55.    Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (NACAB)
56.    Observatório dos Conflitos no Campo (OCCA)/UFES
57.    Pastoral da Juventude Rural (PJR)
58.    Programa de Extensão Mineração do OuTro: Programa Marxista de cultura e Crítica Social'
59.    Projeto de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens e Mineração (PACAB)
60.    REAJA - Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos Projeto Minas-Rio
61.    Rede Ambiental do Piauí-REAPI
62.    Rede Igrejas e Mineração
63.    Rede Justiça nos Trilhos
64.    Rede SAPOQUI
65.    Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia - Sinfrajupe
66.    Serviço SVD de Jupic
67.    Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Barão do Monte Alto, Rosário de Limeira e Muriaé
68.    Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Miradouro
69.    Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Palma
70.    Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Patrocínio de Muriaé
71.    Sindute - MG
72.    Sociedade Maranhense de Direitos Humanos - SMDH
73.    Unaccon - União das Associações Comunitárias de Congonhas

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

VALE: impunidade e lucro

É  de R$ 13,3 bilhões o lucro líquido da VALE em 2016. Anunciou a companhia no dia 23 de fevereiro. Isso significa, segundo ela, que foi revertido um prejuízo de R$ 44,2 milhões de 2015.

Após um ano e três meses do criminoso rompimento da Barragem de Fundão, no município de Mariana, a Vale permanece impune. Dezenove mortos, comunidades inteiras destruídas, o Rio Doce continua morto, a pesca inviabilizada e impactos profundos no modo de produção da região. 

Em vídeo divulgado pela companhia, o diretor financeiro, Luciano Siani diz que esse lucro, em 2016, é fruto de recordes na produção em minério de ferro, níquel, cobre e recorde de produção em Carajás no quarto trimestre daquele ano. O diretor financeiro comemora dizendo: "Com a produção muito forte e a recuperação de preços, previa-se que a Vale teria um trimestre muito forte e fecharia o ano com chave de ouro e de fato isso que aconteceu. Nós tivemos a melhor geração de caixa medida pelo Ebidta na Vale, de 4,8 bilhões de dólares..."

A VALE então, no dizer do diretor financeiro, fechou o ano de 2016 com “chave de ouro”. Um verdadeiro cinismo camuflado por uma linguagem econômico-financeira. Enquanto isso, os atingidos pelo crime por ela cometido, juntamente com a BHP Billinton, continuam desrespeitados e injustiçados. Até agora, ninguém foi responsabilizado pelo crime. O Ministério Público Federal (MPF) em Minas Gerais denunciou 22 pessoas e as empresas Samarco, VALE, BHP Billiton e VogBR pelo rompimento da Barragem de Fundão, sem previsão de julgamento.

Os governos federal e dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo se curvaram e se capitularam diante da SAMARCO (VALE e BHP Billinton). Aceitaram que desde o inicio a VALE controlasse a cena do crime e até os dias de hoje é ela que tem o controle total de tudo que diz respeito ao crime.

A Vale age constantemente para não ser obrigada a pagar multas irrisórias que foram determinadas pela justiça. Recentemente o MPF firmou um Termo de Ajustamento Preliminar com a Samarco (VALE e BHP Billiton), sobre as medidas reparatórias. Nesse acordo, a Justiça Federal suspendeu o prazo processual para o pagamento de R$ 1,2 bilhão, de uma indenização movida logo após a tragédia pelos governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo e por diversos órgãos ambientais.

Inicialmente sob pressão, denuncias e com a ação do Ministério Público, se viu forçada a alugar casas para os moradores dos distritos atingidos, em Mariana (MG). Daí até chegar aos dias de hoje só omissão e promessas. Serão necessárias décadas para a recuperação da bacia do Rio Doce. Não existe nenhum plano concreto para remediar os impactos, nem tão pouco para recuperar a bacia do Rio Doce. Milhares de trabalhadores foram demitidos nos meses que se seguiram ao rompimento criminoso. A luta continua pelo reconhecimento dos direitos das famílias atingidas.

A VALE continua com seu cinismo, vivendo na impunidade e com um verdadeiro escárnio comemora lucro, em cima de vidas humanas e do meio ambiente. Aliás, é para isso que existem as mineradoras: LUCRO A QUALQUER CUSTO. 
Frei Rodrigo Péret, ofm

Em MG - Conflito Mineração: religioso sofre ameaça

Bispo de Leopoldina, em nota, denuncia a ameça que sofreu o Frei Gilberto, por parte de um pistoleiro. O frei participa do  processo de resistência contra o avanço da mineração de bauxita em unidades de conservação existente em Belisário. Segundo o pistoleiro o frei “estaria falando demais sobre a mineradora em suas missas e campanhas“. O pistoleiro também disse a Frei Gilberto que ele “também estaria sendo seguido, e soube descrever a sua agenda semanal com detalhes, inclusive as casas onde o religioso havia passado a noite em viagens a outros municípios, como Ouro Preto e Contagem”. O pistoleiro também exigiu o celular do Frei Gilberto  que não estava com ele no momento. Depois de  fazer uma revista pessoal, o pistoleiro ainda ameaçou assassinar o Frei Gilberto caso  ele deixasse a sala antes de 15 minutos.

A seguir a nota do Bispo de Leopoldina Dom José Eudes Campos Nascimento

No último dia 19 de fevereiro, domingo, o nosso querido Frei Gilberto Teixeira, Administrador Paroquial da Paróquia de Santo Antônio, em Belisário, distrito de Muriaé, sofreu um atentado por ameaça de morte, com a exibição de arma de fogo. Foi abordado quando, encerrada a missa dominical com sua comunidade, entrou, sozinho, na casa paroquial. O bandido fez questão de lhe informar que o acompanha em todos os seus atos e movimentos, nos últimos tempos. Impôs-lhe que se calasse em todos os pronunciamentos sobre os direitos dos seus paroquianos, para não ser morto. E que era o último aviso.

Frei Gilberto, em sua função missionária, como deve ser, vem prestando  assistência e apoio aos pequenos agricultores de sua comunidade, na luta contra a espoliação de suas terras e a degradação das áreas de lavouras familiares. Em nosso País, como temos assistido com muita dor, os ditos “grandes empreendimentos” não suportam argumentação que contrarie seus planos, sabedores de que sempre sairão vitoriosos. Pelo que, ignoram qualquer bem-estar ou direito dos fracos. Se entender necessário, desprezam até mesmo a vida humana dos contraditores.  Irmã Dorothy é uma das nossas mais recentes e dolorosas memórias…

Diante deste monstruoso atentado, a Diocese de Leopoldina não pode nem vai se calar, enquanto a questão for a segurança, o direito e o bem-estar de nosso Clero e das nossas comunidades. Frei Gilberto fazia o que toda a nossa Diocese faz e fará sempre. Temos compromisso com o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, na sua milenar opção pelos mais sem-voz e sem-vez e, nestes últimos tempos, acompanhando o Santo Padre, o Papa Francisco, no “Cuidado com a Casa Comum”, na recomendável leitura de sua Carta “Laudato SÌ”. A vida de nosso povo e o meio-ambiente saudável não são questão secundária para a nossa Igreja. “Que todos tenham vida e a tenham em abundância” – como o Senhor Jesus proclamou.

Tornamos público que todas as medidas necessárias à segurança pessoal de Frei Gilberto estão sendo tomadas e que as autoridades foram devidamente acionadas para que se investigue e que o autor, e o mandante se for o caso, sejam criminalmente responsabilizados.

Assim, esperamos que o mandante retire suas sentenças e que as autoridades constituídas venham em socorro imediato daquelas comunidades, para que se assegurem os sagrados direitos às suas pequenas propriedades, à proteção aos saudáveis e ricos mananciais de água potável de extraordinária qualidade que ali nascem. E, por fim, que os serviços de evangelização e expressões religiosas não venham  jamais  ser amordaçados. E que nunca o valor econômico-financeiro se sobreponha ao sagrado valor da vida humana!
 Leopoldina,23 de fevereiro de 2017

Dom José Eudes Campos do Nascimento  – Bispo Diocesano
Pedro Lopes  Lima – Chanceler  do Bispado

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

NOTA: MTST sobre Violência da PM em Pernambuco e criminalização do movimento


O caso mais grave foi o de Vitória Regina Silva Rodrigues Pena, que teve sua perna atravessada por um projétil de armamento letal e precisou ser socorrida no Hospital da Restauração.

Às 14h desta terça-feira (21) centenas de militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST Pernambuco) realizaram ato em frente à Companhia Estadual de Habitação e Obras (CEHAB), que foi cancelada. Policiais militares repreenderam os sem teto com bombas de efeito moral e balas de borracha, e utilizaram também munição letal. Uma manifestante foi ferida à bala e encaminhada ao Hospital da Restauração (HR), na região central do Recife. As informações são de que, durante a ação policial, os sem-teto correram para o Campo do Onze, perto da secretaria, e lá a jovem Vitória Regina Silva Rodrigues Pena, de 22 anos, foi atingida. A sem-teto, segundo o HR, foi internada com ferimento na parte inferior do ombro direito. 10 sem teto foram presos e vários ficaram feridos. Leia a nota do MTST

NOTA DO MTST BRASIL SOBRE A VIOLÊNCIA DA POLÍCIA NA CEHAB E A CRIMINALIZAÇÃO DO MOVIMENTO
O dia 21 de fevereiro de 2017 ficará marcado como um dia de total descontrole do Estado de Pernambuco no que diz respeito à Segurança Pública. Se a população assistiu horrorizada os desdobramentos do assalto milionário a uma empresa de segurança pela manhã, não foi menos desesperador o campo de guerra criado pela polícia durante a tarde em frente a Companhia Estadual de Habitação de Obras de Pernambuco (CEHAB), no bairro de Campo Grande.

Esperando ser recebido para dar continuidade às negociações em relação à ocupação Carolina de Jesus, que já conta com mais de 1.000 famílias acampadas no terreno do Governo do Estado ao lado do Terminal de Integração do Barro, o MTST viu um debate de política virar caso de polícia.

Após desmarcar a reunião injustificadamente, o MTST decidiu permanecer no prédio da CEHAB e exigir que a agenda fosse cumprida, exigindo respeito às várias famílias que haviam se deslocado da ocupação até o local. Após um pequeno tensionamento, a Polícia decidiu realizar um verdadeiro espetáculo de violência. Com a utilização de bombas de efeito moral, balas de borracha e até armamento letal, disparou ostensivamente contra os manifestantes, deixando dezenas de feridos, dentre elas vários idosos e crianças. O caso mais grave foi o de Vitória Regina Silva Rodrigues Pena, que teve sua perna atravessada por um projétil de armamento letal e precisou ser socorrida no Hospital da Restauração.

Além do saldo de feridos, vários militantes do movimento foram detidos acusados de associação criminosa, dano qualificado ao patrimônio público, tentativa de incêndio e resistência à prisão. Dentre eles, está um advogado do Centro Popular de Direitos Humanos, que foi atingido na perna por balas de borracha e o fotográfo Um dos detidos foi agredido até ter a costela fraturada e sofrer hemorragia interna. Há relatos também de agressões contra uma mulher detida. Todos eles serão levados amanhã para exame de corpo de delito no IML e posteriormente seguirão para Audiência de Custódia no Fórum Joana Bezerra.

Convocamos a todas e todos a se fazerem presentes amanhã, a partir das 9h no Fórum Joana Bezerra.

Lutar não é crime!
Liberdade aos nossos presos políticos!
Criar poder popular!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O governo Temer prepara MP para a venda de terras a estrangeiros

Na contramão da opinião de parte das Forças Armadas, o governo Michel Temer estuda publicar uma Medida Provisória para regulamentar a venda de terras para estrangeiros.
O objetivo da gestão peemedebista é abrir o mercado rural a investidores de outros países, numa tentativa de reverter a crise econômica.
A pedido da Casa Civil, a Advocacia-Geral da União elaborou nos últimos dias o texto dessa MP, que pode ganhar força imediata de lei se for publicada pelo presidente da República, o que tornaria a medida válida em todo território nacional na mesma data.
O Palácio do Planalto só não bateu o martelo quanto à publicação do texto por conta das pressões exercidas por militares e de negociações com parlamentares da base aliada, que têm sugerido alternativas.
A reportagem de CartaCapital teve acesso ao texto da MP, encomendado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. O braço direito de Temer é o principal entusiasta da ideia de “tratorar” por Medida Provisória, para atrair capital externo o mais breve possível.
Um dos pontos que mais chama atenção no texto é o que indica a possibilidade do presidente da República, por decreto, estabelecer os “limites quantitativos globais” das propriedades que poderiam ser adquiridas por estrangeiros.
“A aquisição de direito real e o arrendamento de imóvel por pessoa natural residente ou jurídica estrangeiras autorizada a funcionar no País não poderá exceder os limites quantitativos globais e por operação dispostos em regulamento”, diz o trecho.
O texto preparado pela AGU também não impõe limites à soma de áreas rurais que uma empresa brasileira controlada por estrangeiros, direta ou indiretamente, pode adquirir em uma mesma cidade.
Com isso, as empresas controladas por capital externo ficariam sujeitas apenas ao limite estabelecido por decreto presidencial. Isso porque, para cidadãos estrangeiros, a área máxima não poderia ser superior à quarta parte de um território municipal.
As reuniões para tratar do assunto se intensificaram no Palácio do Planalto nos últimos dias. Foram ao menos três encontros para discutir o tema desde sexta-feira 10, e envolveram principalmente integrantes da Casa Civil e do Ministério da Defesa.
Um dos principais focos de resistência ao projeto é dos militares lotados na Defesa. Ainda assim, a publicação via MP era dada como certa até terça-feira 13, tanto que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, chegou a afirmar que o assunto seria “liberado em 30 dias”, sem explicar como. “Foi tomada essa decisão porque o Brasil precisa de investimento”, disse.
A possibilidade de o governo recuar em relação à publicação do projeto via MP se deu, na quarta-feira 15, com o auxílio do deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG), relator do PL 4059/2012 na Câmara.
O parlamentar sugeriu à cúpula da Casa Civil que poderia utilizar parte do texto elaborado pela AGU para a Medida Provisória em um substitutivo de sua autoria, o que evitaria o atropelo do Congresso. Para isso, o deputado submeteu minutas de sua autoria à AGU para serem incorporadas à redação final.
“Eu acredito que a conversa foi de muito bom acordo, a AGU está muito engajada nesse processo. Uma MP seria contraproducente. Estamos conversando com o governo para isso. A palavra de ordem é segurança jurídica, os investidores não podem ficar à mercê [de uma medida provisória]”, afirma.
Um dos temores manifestados pelos servidores da Defesa, nas reuniões no Planalto, é justamente esse: o imbróglio gerado no período de 120 dias no qual a MP ficaria em vigor, até que o Congresso tomasse uma decisão definitiva sobre a pauta.
Para generais envolvidos na discussão, se a possível MP fosse rejeitada pelos parlamentares ao fim do prazo de tramitação, isso provocaria um cenário de insegurança jurídica, por conta dos negócios que possivelmente seriam feitos no período de vigência da medida.
Além disso, os militares têm defendido que o projeto, por MP ou não, coloca em risco a soberania nacional ao abrir a possibilidade de empresas e cidadãos estrangeiros controlarem parcelas do território consideradas estratégicas para a defesa de um País.
Esse ponto de visto havia sido manifestado publicamente no ano passado, em audiência pública na Câmara que tratava de projeto de lei 4059/2012, sobre o mesmo assunto.
“Dentre todas as orientações constantes na Política Nacional de Defesa, sobressaem aquelas que regem a necessidade de o País dispor de meios, com capacidade de exercer o controle do seu território”, disse na ocasião o capitão de mar e guerra e assessor no Ministério da Defesa, Paulo Cezar Garcia Brandão.
Para o deputado federal Patrus Ananias (PT-MG), ex-ministro do Desenvolvimento Agrário da gestão Dilma Rousseff, a proposta marca um período de entrega de patrimônios e riquezas sem precedentes.
“Historicamente, o Brasil nunca foi plenamente zeloso com a sua soberania, embora o governo Lula tenha avançado bastante nesse sentido nos últimos anos”, explica. “Isso está sintonizado com outra questões postas hoje: a entrega do pré-sal, da Base de Alcântara...é um processo de entreguismo. Eu penso que nesse nível de entrega não existe precedentes [na história brasileira]”.
FONTE: CARTA CAPITAL

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Parabéns Dom Pedro Casaldáliga: 89 anos

Dom Pedro Casaldáliga completa 89 anos de vida, hoje 16 de fevereiro. Nunca se calou diante das injustiças. Com mais de metade de sua vida dedicada à atuação em Mato Grosso, é bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia (cidade a 1.159 km de Cuiabá), da qual foi seu primeiro bispo

Casaldáliga, batizado como Pere, natural da Catalunha, na Espanha, foi ordenado bispo em 1971. Desde 1968, no entanto, vive no Brasil ajudando os pobres, como a defesa de direitos dos povos indígenas e contra a violência dos conflitos agrários. Ele foi um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário, na década de 70, e também da criação da Comissão Pastoral da Terra. Foi perseguido pela ditadura com ameaças de extradição e sofreu diversos atentados (leia mais aqui). Defensor da Teologia da Libertação que prega a igreja voltada para os pobres.

Acometido da doença de Parkinson vive em São Féliz, quase toda vida dedicada aos mais pobres. Disse certa vez que “não basta ser crente, também há que ser crível”.

No ano passado, Dom Pedro Casaldáliga assinou documento com seu atual sucessor Dom Adriano Vasino e pelos agentes pastorais da Prelazia, criticando o golpe e denunciando atual situação brasileira.  “No Brasil, a conjuntura atual é caracterizada por uma profunda crise política institucional, que ameaça as conquistas democráticas, rompendo com o pacto social realizado nas últimas décadas, bem como com o respeito aos valores humanos básicos”.

 Canção da foice e o feixe*
- Colhendo o arroz dos posseiros
    de Santa Terezinha,
    perseguidos
    pelo Governo e pelo Latifúndio. 

Com um calo por anel,
monsenhor cortava arroz.
Monsenhor “martelo
e foice”? 

Me chamarão subversivo.
E lhes direi: eu o sou.
Por meu Povo em luta, vivo.
Com meu Povo em marcha, vou. 

Tenho fé de guerrilheiro
e amor de revolução.
E entre Evangelho e canção
sofro e digo o que quero.
Se escandalizo, primeiro
queimei o próprio coração
ao fogo desta Paixão,
cruz de Seu mesmo Madeiro. 

Incito à subversão
contra o Poder e o Dinheiro.
Quero subverter a Lei
que perverte ao Povo em grei
e ao Governo em carniceiro.
(Meu Pastor se faz Cordeiro.
Servidor se fez meu Rei.) 

Creio na Internacional
das frontes alevantadas,
da voz de igual a igual
e das mãos enlaçadas...
E chamo a Ordem de mal,
e ao Progresso de mentira.
Tenho menos paz que ira.
Tenho mais amor que paz. 

... Creio na foice e no feixe
destas espigas caídas:
uma Morte e tantas vidas!
Creio nesta foice que avança
- sob este sol sem disfarce
e na comum Esperança - 
tão encurvada e tenaz!


Antologia Retirante – poemas
Dom Pedro Casaldáliga
Editora Civilização Brasileira – edição 1978