por Sakamoto
Proibidos de fazer
greve, policiais militares paralisaram as atividades no Espírito Santo após
suas esposas e famílias bloquearem saídas de quartéis. Eles reivindicam
reajustes atrasados e melhores condições de trabalho. O medo disparou nas
ruas do Estado.
No
Rio de Janeiro, a Polícia Militar novamente disparou bombas contra funcionários
públicos que protestavam contra o pacote de reajuste fiscal do governo do Rio
de Janeiro. Do lado dos servidores, coquetéis molotov e fogos foram lançados.
O
Espírito Santo gabava-se de ser um exemplo na melhoria da segurança
pública até que uma demanda represada dos profissionais da área eclodisse e
manchasse essa vitrine internacional. O Rio de Janeiro é um Estado
quebrado, menos por conta dos direitos pagos a seus funcionários e mais
pela farra dos subsídios e facilidades dados a empresas, setores
econômicos e megaeventos. Lá o risco do movimento capixaba se repetir é grande.
Considerando
que a retomada da geração de empregos tem sido lenta e que boa parte da
''confiança'' que o governo Temer tem obtido entre investidores é devido a
reformas que transferem a conta da crise apenas para o bolso dos trabalhadores
mais pobres e protegem os mais ricos, a pergunta é: estamos vendo uma
amostra, nesses dois estados, do que será o Brasil nos próximos anos? Com
protestos de trabalhadores, convulsão social, fragilidade institucional,
insegurança e medo. Lembrando que o Rio não é o único estado que
está quebrado e o receituário nacional para sair da crise tem
passado por corte de empregos e de direitos.
Apesar
de Michel Temer dizer que está desarmando uma bomba-relógio, as principais
reformas que ele vem conduzindo é que são as bombas-relógio em si. Algumas
programadas para estourar quando ele já estiver longe do Palácio do Planalto.
Outras, com explosão quase que imediata.
A
Reforma da Previdência (que vai elevar a idade mínima para 65 anos, o tempo
mínimo de contribuição para 25 anos e a idade mínima para aposentadoria rural
a 65 anos), a nova emenda constitucional que limitou o crescimentos de
gastos em áreas como educação e saúde públicas nos próximos 20 anos e a reforma
do ensino médio (fruto de um processo imposto e sem discussão com a sociedade)
vão se fazer sentir daqui a alguns anos.
Já
a Reforma Trabalhista proposta por ele (que não envolve apenas o pacote
apresentado, mas todas as leis que mexem com direitos e vêm sendo discutidas no
Congresso Nacional na surdina) terá efeito imediato em muitas categorias de
trabalhadores.
Se
o trabalhador do setor privado perceber que suas perspectivas futuras são um
chulé fedido e sua vida atual uma desgraça que não melhora nem com reza brava,
a chance de protestos e greves aumenta. O que retardará a retomada econômica
prometida.
E,
quanto aos servidores públicos: por mais que o Supremo Tribunal Federal tenha
decidido por limitar o direito (constitucional) à greve dos servidores
públicos, cortando o ponto dos que cruzaram os braços, o brasileiro é criativo
e consegue dar um jeito.
As
barricadas nas portas dos quartéis no Espírito Santo são uma amostra disso, uma
vez que os policiais afirmam que o movimento não é deles, mas de suas famílias.
Diante da mudança nas aposentadorias e cortes causados pela agora aprovada
PEC do Teto, quantas categorias de servidores públicos (principalmente as que
ganham pouco, como professores, enfermeiros, policiais, entre outros) não
irão às ruas como última saída, dando uma banana para o corte de ponto?
Há,
por certo, uma questão de timing. A bomba explodirá no colo de Temer e aliados
ou numa próxima gestão, uma em que o projeto de governo
for democraticamente eleito?
É
claro que com a quantidade de sindicatos e sindicalistas subservientes ao poder
político e econômico; com uma população mal informada e porcamente consciente
sobre seus direitos; com o entorpecimento trazido pelo bombardeio na
TV, que faz você acreditar que quem faz greve em nome da própria
dignidade é um bosta; e pelo cansaço extremo de uma população pobre que, quando
chega em casa, é incapaz de refletir sobre sua própria condição antes de cair
morta na cama, fica mais difícil de imaginar que isso aconteça em massa no
curto prazo. Mas não é impossível.
Em
evento na Caixa, nesta quinta (9), Temer afirmou que seu governo conseguiu
fazer em poucos meses as reformas que ele imaginava que levariam dois anos para
acontecer. E falou das reformas citadas neste post, que tungam direitos dos
mais pobres.
Fico
com receio do que isso significa. Pelo que tudo indica, ele vai querer fazer
mudanças tributárias para facilitar a vida das pessoas jurídicas, mas sem
mexer, é claro, com o fato ridículo de que a classe média paga
proporcionalmente mais imposto de renda do que os mais ricos – dividendos
recebidos de empresas não são taxados. Noves fora, os subsídios às próprias
empresas. Mas se sobrar tempo, ele fará o quê? Fim do voto feminino? Fim da
República? Revogação da Lei Áurea?
Institucionalmente,
a chance de que essas reformas que reduzem o mínimo de Estado de bem-estar
social que temos sejam interrompidas é a Operação Lava Jato transformar a
governabilidade de Temer no rascunho do mapa do inferno (o que, acredito,
apesar dos escândalos diários, não está perto de acontecer) ou o Tribunal
Superior Eleitoral de Gilmar Mendes resolver decidir pela cassação da chapa (o
que está mais distante ainda). Principalmente porque uma parcela grande do PIB
sorri com as reformas que estão sendo realizadas.
Mas
eu ficaria de olho para ver se o que está acontecendo no Espírito Santo e
no Rio são prenúncio de algo maior ou apenas coisa isolada. Se for a primeira
opção e a população resolver ir à ruas por conta das tungadas de curto, médio e
longo prazo, o país entra em nova fase.
Se
melhor (com a população sendo protagonista de sua vida) ou pior (com a chegada
de um ''salvador'' que, não se engane, podará direitos ao invés de
garanti-los), como diria a Glória, não sou capaz de opinar.
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