Reflexão de Dom Guilherme Werlang, Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação
Social Transformadora e bispo de Ipameri/GO.
Os que pensam
de forma distinta do que vou apresentar, eu respeito como pessoas e inclusive,
alguns como amigos e sei que tem seus contra-argumentos e alguns com vasta
bibliografia e pesquisa financiada pelos que tem interesse sobre a exploração
do cerrado na forma predatória como está.
Sou também
favorável a ocupação inteligente e o uso de toda a riqueza do cerrado para o
bem da humanidade. Sou apenas contra a depredação e destruição irreversível.
Suas maiores e mais drásticas consequências ainda serão sentidas mais
fortemente daqui a 100 ou 200 anos em diante, quando os aquíferos mais
profundos não tiverem mais águas e aqui for um dos maiores desertos do planeta
terra.
Ainda é muito recente a criação do dia nacional do cerrado e se
foi necessária a criação desta data, certamente é devido a
"guilhotina" que pesa sobre sua cabeça, sobre sua vida.
O Dia Nacional do Cerrado, a ser comemorado no dia 11 de
setembro de cada ano, foi instituído pelo Decreto de 20.8.2003 e assinado pelo
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
O Cerrado é o mais antigo bioma brasileiro. Fala-se que sua
idade é de aproximadamente 65 milhões de anos. É tão velho que 70% de sua
biomassa está dentro da terra.
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul e brasileiro
ocupando uma área de 2.036.448 km2, o que corresponde a 25 % do território
brasileiro, superado apenas pela Amazônia. Estende-se em área contínua por 11
estados brasileiros: Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Rondônia, Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Ceará, Maranhão e Piauí, além do
Distrito Federal, que está totalmente localizado na área nuclear do Cerrado.
Nesta grande crise de água
que afeta a maior parte do brasil e a falta de água em alguns estados
brasileiros, o que era uma verdadeira caixa d’água no coração do brasil em
tempos passados, poderia trazer esperança para a geração de recursos hídricos
do país. Hoje a situação está tão crítica que até nas principais cidades do
centro oeste como Goiânia e Brasília, além de Anápolis, Catalão e tantas outras
também já estão com racionamento de água. O cerrado, considerado o berço das
águas brasileiras, tem uma importância estratégica para o abastecimento e
manutenção de uma rica biodiversidade. Mas esse berço ou como alguns o chamam,
essa caixa de água, está quase vazio.
O cerrado ainda possui grandes reservas subterrâneas de água
doce que abastecem as principais bacias hidrográficas do país: Amazonas,
Tocantins/Araguaia, São Francisco, Paraná e Paraguai. Essa riqueza hídrica tem
um papel fundamental no abastecimento humano, na geração de energia e na
produção agrícola. Ao mesmo tempo, é considerado um hotspot mundial para a
conservação da natureza (alta riqueza de biodiversidade e extremamente
ameaçado).
Nas últimas décadas, de acordo com dados do IBAMA/MMA, houve uma
redução de 48,4% do cerrado. A taxa de desmatamento anual é de 0,69%, maior até
que da Amazônia e dos demais biomas brasileiros. Se o ritmo continuar
acelerado, estima-se um prazo de 40 a 50 anos para o completo desaparecimento
de seus recursos florestais. Atualmente, apenas 3% do cerrado está efetivamente
protegido em unidades de conservação.
O cerrado brasileiro, devido ao seu equivocado manejo e
ocupação está condenado à morte e no tribunal os "juízes" já tomaram
a decisão de não mais ouvir os "advogados de defesa". Já decretaram
sua sentença de lhe aplicar a pena capital. A guilhotina vai cair.
As ameaças que pesam contra o cerrado podem afetar diretamente
mais de 11 mil espécies de plantas, das quais 45% são endêmicas (exclusivas
deste bioma), e 2.500 espécies animais. O Cerrado é biologicamente a região de
savana mais rica do planeta, sendo responsável por 5% da biodiversidade mundial
e 30% da biodiversidade brasileira. Ocupa um quarto do território nacional e é
um importante elo entre outros quatro biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga,
Mata Atlântica e Pantanal).
OS AQUÍFEROS
Outro elemento importante que deve ser considerado como
consequência da degradação do cerrado, se refere aos aquíferos.
Todos sabemos que o cerrado é como uma cumeeira, distribuindo
águas para as grandes bacias hidrográficas do Brasil. Isto ocorre, porque na
área de abrangência do Cerrado, se situam três grandes aquíferos, responsáveis
pela formação e alimentação dos grandes rios do continente: o aquífero Guarani,
associado ao arenito Botucatu e a outras formações areníticas, mais antigas,
que é responsável pelas águas que alimentam a bacia do Paraná. Os aquíferos
Bambuí e Urucuia. O primeiro associado às formações geológicas do Grupo Bambui
e o segundo associado à Formação arenítica Urucuia, que em muitos locais está
sobreposto ao Bambuí e em certos locais, há até o encontro dos dois aquíferos,
apesar de existir entre os dois, uma grande diferença de idade. Os aquíferos
Bambuí e Urucuia são responsáveis pela formação e alimentação dos rios que
integram a bacia do São Francisco, Tocantins, Araguaia e outras, situadas na
abrangência do Cerrado.
Estes aquíferos, que se vem formando durante milhões de anos, de
pouco tempo para cá não estão sendo recarregados como deveriam, para sustentar
os mananciais. Isto ocorre,
porque a recarga dos aquíferos se dá pelas suas bordas nas áreas
planas, onde a água pluvial infiltra e é absorvida cerca de 70% pelo sistema
radicular da vegetação nativa, alimentando num primeiro momento o lençol
freático e lentamente vai abastecendo e se armazenando nos lençóis mais
subterrâneos.
Com a ocupação dos chapadões de forma intensa, que trouxe como
consequência a retirada da cobertura vegetal, sua substituição por vegetações
temporárias de raiz subsuperficial, a água da chuva precipita, porém não
infiltra o suficiente para reabastecer os aquíferos. Consequência, com o passar
dos tempos, estes vão diminuindo de nível, provocando num primeiro momento, a
migração das nascentes, das partes mais altas, para as mais baixas e a
diminuição do volume das águas, até chegar o ponto do desaparecimento total do
curso d’água. Convém ressaltar, que este é um processo irreversível.
Quanto a presença do Homem, sejam indígenas ou caçadores nas
áreas do Cerrado brasileiro é estimado em torno de 11 a 12 mil anos.
Sempre houve uma convivência pacífica e não prejudicial do ser
humano durante todos esses anos no cerrado, até a chegada das "entradas e
bandeiras" portuguesas, mas a grande ameaça de mudanças danosas, trágicas
e de consequências irreversíveis se dá, mais ou menos, a partir dos anos de
1950 a 1960.
Não estou procurando culpados e nem apontando uma categoria
específica, apenas dizendo que estamos condenando à morte o segundo maior bioma
brasileiro. Esta foi uma decisão de governos do Brasil e decisões
internacionais.
AINDA TERÍAMOS TEMPO DE REVERTER PARTE DA MORTE E DO DESASTRE
ANUNCIADO PELA AÇÃO HUMANA ???