Francisco, em sua vida, fez uma opção de ser menor. Encontrou o
Cristo nos excluídos de seu tempo, no leproso, o pobre dos pobres, na periferia
da cidade de Assis. Este encontro exigiu um abraço e um beijo, que levaram
Francisco a um mundo diferente daquele da loja de seu Pai, comerciante de
panos. Francisco abraçou o mundo dos leprosos, dos lugares pobres e retirados
dos segregados da sociedade de seu tempo. Nascia nele uma lógica diferente
daquela de sua origem, de jovem dos burgos e comerciante, sonhador com a
nobreza. Nascia uma lógica evangélica, que diz: “se queres ser perfeito, vai vende tudo o que tens, dá-os aos
pobres e terá um tesouro nos céus, e vem e segue-me”(Mt
19,21). Esta lógica está presente na regra que deixou para os frades: “E devem
estar satisfeitos quando estão no meio de gente comum e desprezada, de pobres e
fracos, enfermos e leprosos, e mendigos de rua”.
Acredito que é na busca do ser menor, que vamos encontrar o
caminho franciscano para um reencontro entre a humanidade e a natureza.
Francisco está disposto a obedecer a toda humana criatura, porque descobriu o
ser humano em sua dignidade de criatura de Deus: ”Considera, ó homem,
em que sublime condição te colocou o Senhor Deus, porque te criou e te formou à
imagem de seu Filho dileto e a semelhança dele segundo o espírito. E, no
entanto, todas as criaturas que há debaixo dos céus, cada uma delas, a seu
modo, serve e reconhece e obedece a seu Criador, bem melhor que tu o fazes.
Mais ainda, não foram os demônios que o pregaram na cruz, mas tu com eles o
crucificaste, e ainda agora o crucificas quando te deleitas nos vícios e
pecados”, diz ele em uma de suas admoestações .
Em Francisco a visão de fé é que dá a tônica à visão de mundo,
como o lugar onde se realiza a salvação, onde em Cristo surge o homem novo (Ef
2,15) e toda a criação por Cristo e para Cristo se reconcilia (Col 1,15-20). A
criação se torna então um grande hino de amor (Cântico das Criaturas), que
revela Cristo, o irmão, “primogênito de toda criatura”, a natureza
se torna “palavra de Deus”, como afirma São Boaventura.
Reconhecendo a grandeza de Deus veio a consciência de ser menor,
vendo cada ser humano à luz de Deus: “O homem é o que é diante de Deus,
nem mais nem menos” E Francisco via no ser humano a imagem de Jesus Cristo,
particularmente nos mais pobres. Num amor imenso: "Impelido por todas
as coisas ao amor de Deus, ele se rejubilava em todas as obras saídas das mãos
do Criador, e graças a esse espetáculo que constituía sua alegria, remontava
até Aquele que é a causa e razão vivificante do universo. Numa coisa bela sabia
contemplar o Belíssimo e seguindo os traços impressos nas criaturas, por toda
parte seguia o Dileto. De todas as coisas fazia uma escala para subir até
Aquele que é todo encanto. Em cada uma das criaturas, como derivações, percebia
ele, com extraordinária piedade, a fonte única da bondade de Deus e como a
harmonia preestabelecida por Deus entre as propriedades naturais dos corpos e
suas interações lhe parecia uma música celestial, exortava todas as criaturas,
como o profeta Davi, ao louvor do Senhor” relata um de seu biógrafos.
Francisco pode ser proposto ao mundo de hoje como alguém que
conhece a natureza, não como fruto de um conhecimento científico, é bom lembrar
que a visão que temos de ecologia não existia em seu tempo. Porém, Francisco
conhecia a natureza porque participava dela, atento à vida e à relação com
Deus. Como criatura entre outra criaturas, como vida entre outras vidas com
elas louvava o Senhor da vida e se abandonava à providência.
Viveu de forma intensa o conselho do evangelho de Mateus: “Não
fiquem preocupados a respeito de coisas: O que comer, o que beber, e o que
vestir... Olhem os passarinhos! Eles não se preocupam com a comida - eles não
precisão semear, colher, ou guardar comida - pois o Pai celeste de vocês os
alimenta. E para Deus vocês valem mais do que os passarinhos. Será que com
todas as preocupações juntas poderão acrescentar um único momento a vida de
vocês? E porque ficarem preocupados com a roupa? Olhai os lírios do campo! Eles
não se preocupam com isto. Até o Rei Salomão, em toda a sua glória, não se
vestiu tão bem como qualquer um deles. E se Deus cuida tão maravilhosamente das
flores, que hoje estão aqui e amanhã já desapareceram, será que Ele não
vai com toda certeza, cuidar de vocês? Vocês tem uma fé muito fraca” (Mt 6,
25ss)
Em Francisco de Assis temos um caminho muito importante para
esse reencontro da humanidade com a natureza. Um reencontro a partir dura a
vida de milhões de homens e mulheres excluídos, podemos contribuir é para uma
mais justa visão a respeito da sacralidade do planeta e de todas as formas de
vida.
Frei Rodrigo Peret, ofm
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