quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Nos Caminhos de Francisco de Assis

Francisco, em sua vida, fez uma opção de ser menor. Encontrou o Cristo nos excluídos de seu tempo, no leproso, o pobre dos pobres, na periferia da cidade de Assis. Este encontro exigiu um abraço e um beijo, que levaram Francisco a um mundo diferente daquele da loja de seu Pai, comerciante de panos. Francisco abraçou o mundo dos leprosos, dos lugares pobres e retirados dos segregados da sociedade de seu tempo. Nascia nele uma lógica diferente daquela de sua origem, de jovem dos burgos e comerciante, sonhador com a nobreza.  Nascia uma lógica evangélica, que diz: “se queres ser perfeito, vai vende tudo o que tens, dá-os aos pobres e terá um tesouro nos céus, e vem e segue-me”(Mt 19,21). Esta lógica está presente na regra que deixou para os frades: “E devem estar satisfeitos quando estão no meio de gente comum e desprezada, de pobres e fracos, enfermos e leprosos, e mendigos de rua”.

Acredito que é na busca do ser menor, que vamos encontrar o caminho franciscano para um reencontro entre a humanidade e a natureza. Francisco está disposto a obedecer a toda humana criatura, porque descobriu o ser humano em sua dignidade de criatura de Deus: ”Considera, ó homem, em que sublime condição te colocou o Senhor Deus, porque te criou e te formou à imagem de seu Filho dileto e a semelhança dele segundo o espírito. E, no entanto, todas as criaturas que há debaixo dos céus, cada uma delas, a seu modo, serve e reconhece e obedece a seu Criador, bem melhor que tu o fazes. Mais ainda, não foram os demônios que o pregaram na cruz, mas tu com eles o crucificaste, e ainda agora o crucificas quando te deleitas nos vícios e pecados”, diz ele em uma de suas admoestações .

Em Francisco a visão de fé é que dá a tônica à visão de mundo, como o lugar onde se realiza a salvação, onde em Cristo surge o homem novo (Ef 2,15) e toda a criação por Cristo e para Cristo se reconcilia (Col 1,15-20). A criação se torna então um grande hino de amor (Cântico das Criaturas), que revela Cristo, o irmão, “primogênito de toda criatura”,  a natureza se torna “palavra de Deus”, como afirma São Boaventura.

Reconhecendo a grandeza de Deus veio a consciência de ser menor, vendo cada ser humano à luz de Deus: “O homem é o que é diante de Deus, nem mais nem menos”  E Francisco via no ser humano a imagem de Jesus Cristo, particularmente nos mais pobres. Num amor imenso: "Impelido por todas as coisas ao amor de Deus, ele se rejubilava em todas as obras saídas das mãos do Criador, e graças a esse espetáculo que constituía sua alegria, remontava até Aquele que é a causa e razão vivificante do universo. Numa coisa bela sabia contemplar o Belíssimo e seguindo os traços impressos nas criaturas, por toda parte seguia o Dileto. De todas as coisas fazia uma escala para subir até Aquele que é todo encanto. Em cada uma das criaturas, como derivações, percebia ele, com extraordinária piedade, a fonte única da bondade de Deus e como a harmonia preestabelecida por Deus entre as propriedades naturais dos corpos e suas interações lhe parecia uma música celestial, exortava todas as criaturas, como o profeta Davi, ao louvor do Senhor” relata um de seu biógrafos.

Francisco pode ser proposto ao mundo de hoje como alguém que conhece a natureza, não como fruto de um conhecimento científico, é bom lembrar que a visão que temos de ecologia não existia em seu tempo. Porém, Francisco conhecia a natureza porque participava dela, atento à vida e à relação com Deus. Como criatura entre outra criaturas, como vida entre outras vidas com elas louvava o Senhor da vida e se abandonava à providência. 

Viveu de forma intensa o conselho do evangelho de Mateus: “Não fiquem preocupados a respeito de coisas: O que comer, o que beber, e o que vestir... Olhem os passarinhos! Eles não se preocupam com a comida - eles não precisão semear, colher, ou guardar comida - pois o Pai celeste de vocês os alimenta. E para Deus vocês valem mais do que os passarinhos. Será que com todas as preocupações juntas poderão acrescentar um único momento a vida de vocês? E porque ficarem preocupados com a roupa? Olhai os lírios do campo! Eles não se preocupam com isto. Até o Rei Salomão, em toda a sua glória, não se vestiu tão bem como qualquer um deles. E se Deus cuida tão maravilhosamente das flores, que hoje estão aqui e amanhã já desapareceram, será que Ele não vai com toda certeza, cuidar de vocês? Vocês tem uma fé muito fraca” (Mt 6, 25ss)


Em Francisco de Assis temos um caminho muito importante para esse reencontro da humanidade com a natureza. Um reencontro a partir dura a vida de milhões de homens e mulheres excluídos, podemos contribuir é para uma mais justa visão a respeito da sacralidade do planeta e de todas as formas de vida.
Frei Rodrigo Peret, ofm

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