sábado, 10 de fevereiro de 2018

A Cidade do Cabo ensina: crise de água é mais que falta de chuvas.

Segunda cidade mais populosa da África do Sul, a Cidade do Cabo, está a caminho do dia em que não haverá mais água para abastecer a cidade.  O chamado “Dia Zero”, está previsto para o dia 16 de abril. Haverá então o corte de água corrente. As torneiras estarão sem água corrente, que passará a ser distribuída em pontos de controle racionados. Os residentes terão que ir para cerca de 200 pontos de coleta espalhados pela cidade. As pessoas terão apenas 25 litros de água por dia, para beber, banhar-se, lavar banheiros e lavar as mãos.

Como se chegou a isso (longo período de seca agravado pelas mudanças climática)

O ano de 2015 marcou o início de uma seca que dura três anos, a maior seca em 100 anos. Para uma cidade cujo abastecimento abastecimento de água depende quase totalmente da água da chuva isso se tornou um desastre. A Cidade do Cabo obtém mais de 99% do suprimento de água de barragens que dependem da chuva.

A Cidade do Cabo sempre lidou com as secas através de um sistema de alerta que inicia quando os níveis das barragens ficam mais baixos do que o normal durante um período específico. Em 2004-2005 os níveis ficaram muito baixos.

 Em 2007, o Departamento Nacional de Água e Saneamento emitiu um aviso sobre o abastecimento de água da Cidade do Cabo, dizendo que a cidade precisaria de novas fontes de água até 2015. Uma estratégia de gerenciamento foi implantada rapidamente , incluindo substituições de medidores de água, gerenciamento de pressão, detecção de vazamentos e reparos de encanamento gratuitos para famílias indigentes.

Isso reduziu o consumo de água empurrando o prazo de para ocorrer uma crise no sistema para 2019, com base na precipitação e uso normais de água.

A seca é só uma parte da história (mal gerenciamento, poder do agronegócio e disputas políticas)

Os problemas de água da África do Sul também refletem uma combinação de uso excessivo e sub investimento em infraestrutura para o tratamento e transporte de água.

Outro agravante estrutural, por trás da atual crise hídrica é o plano de desenvolvimento nacional da África do Sul. O mesmo exige a expansão das terras agrícolas sob irrigação em 500 mil hectares, sem dizer de onde virá a água.

Em 2015, a cidade de Cape Town recebeu 60% da água do sistema de abastecimento de água da Província do Cabo Ocidental. Quase todo o resto foi para a agricultura, particularmente culturas de longo prazo, como frutas e vinhos, bem como gado. As províncias não têm o poder de fazer alocações de água para a agricultura. Isso é feito pelo governo nacional.

Quando iniciou a seca o Departamento Nacional de Água e Saneamento não tomou medidas para reduzir o uso agrícola da água. Existem evidências de que esse Departamento acabou por aumentar o consumo de água à agricultura no Western Cape. Isso impulsionou a demanda por água além da capacidade do sistema de abastecimento e consumiu o limite de segurança da Cidade do Cabo de 28 mil megalitros.


A Província do Cabo Ocidental é a única do país administrada pelo partido oficial da oposição, a Aliança Democrática. O Congresso Nacional Africano da África do Sul governa o resto. Isso significa que a relação entre o governo nacional e a Província Cabo Ocidental é complicada, como mostra a crise da água.

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