Por se opor a opressão militar, em El Salvador, o arcebispo Dom Oscar Romero foi assassinado, em 1980. Neste dia 14 de outubro de 2018, foi feito
santo da Igreja Católica Romana em uma cerimônia presidida pela Papa Francisco, no Vaticano. Seu assassinato, enquanto celebrava uma missa, se deu a mando da junta militar que governava aquele país.
Romero
era uma das poucas vozes de resistência ao regime militar naquele país, dentro da igreja, e recebia
muitas ameaças por conta da sua atuação crítica e engajada com a sociedade.
A realidade da América Latina a partir de meados
do século XX se tornou dramática, com uma série de golpes de estado, que
instauraram regimes militares, ditatoriais e fascistas. Em 1964, o golpe
militar no Brasil, assim como no Chile e Uruguai, em 1973 e ainda na Argentina de 1976. Em meados da década de 1970 a violência havia
aumentado muito em El Salvador, época em que o governo e o exército começaram a
matar pessoas pobres que defendiam seus direitos. Ao mesmo tempo por todo o continente surgia um clamor por libertação. Quando o exército matou três
pessoas na aldeia de Tres Calles na diocese de Romero, ele consolou as famílias
e escreveu ao presidente protestando contra os assassinatos.
Em 1970, Romero tornara-se bispo auxiliar de San Salvador, a capital
de El Salvador e em fevereiro de 1977, ele foi nomeado para ser o novo Arcebispo de San Salvador. Famílias
ricas ficaram felizes porque achavam que ele impediria os padres de ajudar os
pobres defenderem seus direitos básicos. Mas poucas semanas depois, em março de
1977, o padre Rutilio Grande foi baleado e morto, junto com dois camponeses. No
domingo seguinte, Romero permitiu apenas uma missa em toda a diocese - na
Catedral -, onde ele falou contra os assassinatos.
Esse assassinato, transformou Romero, que
passou a denunciar as injustiças sociais por meio da rádio católica Ysax e
do semanário Orientación. De todas as partes de El Salvador vinhas pessoas para relatar as atrocidades dos militares.
“A missão da Igreja é identificar-se com os pobres.
Assim a Igreja encontra sua missão”
Nos três anos seguintes, o conflito social e político em El Salvador
se intensificou com uma fraude eleitoral que bloqueou a possiblidade de mudança e com protestos
pacíficos sendo recebidos com massacres e assassinatos por esquadrões da morte.
Do púlpito da Catedral, o arcebispo Romero tornou-se a voz dos pobres sem
voz, "A voz dos sem voz". Segundo Romero: “A missão da Igreja é identificar-se com os pobres. Assim a Igreja encontra sua missão”
Ele falou incansavelmente a verdade dos fatos que estavam acontecendo
no campo; denunciou os assassinatos, a tortura e os desaparecimentos de líderes
comunitários; ele exigiu justiça pelas atrocidades cometidas pelo
exército e pela polícia e criou projetos de assistência legal e programas
pastorais para apoiar as vítimas da violência. Quando irrompeu a guerra civil,
ele esforçou-se em promover soluções pacíficas para a crise de seu país. Essa
guerra durou 12 anos (1980 - 1992) e morreram entre 60 mil a 80 mil pessoas.
Dom Oscar Romero foi vilipendiado na imprensa, atacado e denunciado
em Roma por católicos conservadores e das classes abastadas, foi assediado pelas forças de
segurança e contrariado publicamente por vários colegas bispos.
Romero viveu o Cristo,
amou os pobres, deu sua vida pela libertação dos oprimidos
Na
homilia do Sábado de Aleluia, (1979), Dom Romero falou de uma Igreja viva, que
assume a causa dos pobres, defende a justiça, incomoda os grandes e vai ao
encontro dos que sofrem a opressão, ele afirma:
“Graças
a Deus, temos páginas do martírio não somente na história do passado, como
também na hora presente. Há sacerdotes, religiosos, catequistas,
homens humildes do campo assassinados e massacrados que tiveram seus
rostos desfeitos e esmagados, foram perseguidos por serem fiéis ao único Deus e
Senhor”.
E
acrescentou:
“Tenho
sido frequentemente ameaçado de morte. Devo dizer-lhes que como cristão não
creio na morte sem ressurreição. Se me matam, ressuscitarei no meu povo
salvadorenho. Digo isso sem orgulho, com a maior humildade… Como pastor, estou
obrigado a dar a vida por quem amo, que são todos os salvadorenhos, como também
aqueles que vão me matar. Se chegarem a cumprir as ameaças, desde agora ofereço
a Deus meu sangue pela redenção e ressurreição de El Salvador”.
“Se me
matarem, ressuscitarei no meu povo salvadorenho.”
As ameaças de morte se multiplicaram. O Arcebispo Oscar Romero percebeu que
ele ia ser morto. E com serenidade e amor profético não se calou. Às 6h36 do dia 24 de março de
1980, com uma única bala do atirador, celebrando uma missa, ele caiu ao pé do altar.
Ele morreu como Mártir Eucarístico, Mártir da Opção pelos Pobres, Mártir do
Magistério da Igreja, Mártir da Libertação - e agora reconhecido como:
Santo Oscar Romero Mártir da
América Latina.
Rogai por nós!
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