Compadre Francisco como vai de glória?
E a comadre Clara e a irmandade toda?
Nós, aqui na Terra, vamos mal vivendo,
que a cobiça é grande e o amor pequeno.
O Amor divino é mui pouco amado
e é flor de uma noite o amor humano.
Metade do mundo definha de fome
e a outra metade de medo da morte.
A sábia loucura do santo Evangelho
tem poucos alunos que a levem a sério.
Senhora Pobreza, perfeita alegria,
andam mais nos livros que nas nossas vidas.
Há muitos caminhos que levam a Roma;
Belém e o Calvário saíram de rota.
Nossa Madre Igreja melhorou de modo,
mas tem cúria de muito e carisma de pouco.
Frades e conventos criaram vergonha,
mas é mais no jeito que por via nova.
Muitos tecnocratas e poucos poetas.
Muitos doutrinários e menos profetas.
Armas e aparelhos trustes e escritórios,
planejam a história, manejam os povos.
A mãe natureza chora, poluída
no ar e nas águas, nos céus e nas minas.
Pássaros e flores morrem de amargura,
e os lobos do espanto ganharam as ruas.
Murchou o estandarte da antiga arrogância.
são de ódio e lucro as nossas cruzadas.
Sucedem-se as guerras e os tratados sobram;
sangue por petróleo os impérios trocam.
O mundo é tão velho que, para ser novo,
compadre Francisco, só fazendo outro…
Quando Jesus Cristo e Nossa Senhora
venham dar um jeito nesta terra nossa.
Compadre Francisco, tu faz uma força,
e a comadre Clara e a irmandade toda.
(D. Pedro Casaldáliga)
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