sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Votação criminosa aprova a volta da Samarco/Vale:BHP

Desconsiderando um relatório inédito da Controladoria-Geral de Minas Gerais mostrando que a barragem da Vale em Brumadinho funcionou sem licença até 2008, obteve autorização para alteamento posteriormente mesmo sem documentos obrigatórios e licenças ambientais foram concedidas sem levar em conta o comprometimento da estrutura. E também uma série de irregularidades no processo e click here
apontadas no parecer de vistas do Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas (Fonasc). Por 10 votos favoráveis, 1 abstenção e apenas 1 voto contrário, o Conselho de Política Ambiental do Estado de Minas Gerais, por meio da Câmara Especializada de Atividades Minerárias (CMI-Copam), aprovou na tarde desta sexta (25) a volta das atividades da Samarco, controlada por Vale e BHP Billiton, em Mariana. Uma votação criminosa. 
É chocante perceber que o Sistema Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais (SISEMA), bem como a Superintendência de Projetos Prioritários (SUPRI) e quase todos os concelheiros da Câmara Minerária do Conselho de Política Ambiental (CMI-Copam)* nada aprenderam a partir dos crimes ocorridos em Mariana e Brumadinho. Mais ainda se tornam coniventes com essas mineradoras, verdadeiras organizações criminosas, que além de matar centenas de pessoas, impactar de forma irreversível o meio ambiente, mantém seus interesses e se expandem através do terror de áreas por elas agora controladas, devido ao risco de várias barragens se romperem. Trata-se de um Estado capturado pelo interesse do lucro a todo custo, imposto pelas corporações minerarias. A quase 4 anos do crime em Mariana e a 9 meses do crime em Brumadinho, o crime continua, num macabro cotidiano de desrespeito às populações atingidas e de total subserviência das autoridades, em todos os níveis do Estado. 
A CMI é composta pela SEMADE, SEDE, SEDESE, SEGOV, Codemig, ANM, Ibram, Sindiextra, Federaminas, Fonasc, Cedt e CREA.


Segue um texto e Maurício Angelo, no site Observatório da Mineração
Estado de Minas Gerais aprova a volta das atividades da Samarco/Vale/BHP

Por 10 votos favoráveis, 1 abstenção e apenas 1 voto contrário, o Conselho de Política Ambiental do Estado de Minas Gerais, por meio da Câmara Especializada de Atividades Minerárias (CMI-Copam), aprovou na tarde desta sexta (25) a volta das atividades da Samarco, controlada por Vale e BHP Billiton, em Mariana.

A expectativa da Samarco é retomar as atividades em um ano.

A autorização acontece em um momento bastante simbólico: há exatos 9 meses a barragem da Vale em Brumadinho rompia, deixando 252 mortos e 18 desaparecidos até o momento. E no próximo dia 05 de novembro o rompimento da barragem da Vale em Mariana completará 4 anos.

 “Como é possível que a Secretaria de Meio Ambiente permita e seja favorável à retomada da Samarco apesar da empresa não ter realizado a totalidade das reparações e recuperação do passivo ambiental deixado pelo rompimento em 2015 e com diversas inconsistências no processo de licenciamento, inclusive em relação à barragem de Germano, com alteamento a montante, e à Cava de Germano que também contém rejeitos, que já apresentavam riscos antes de 2015?”, pergunta o Profº Dr. Klemens Laschefski, do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (GESTA-UFMG).

parecer de vistas do Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas (Fonasc), único voto contrário na reunião da CMI, aponta uma série de irregularidades no processo. A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) optou pela abstenção.

A Superintendência de Projetos Prioritários (SUPPRI) foi responsável pelo parecer técnico favorável à concessão da licença para a retomada e embasou a decisão dos conselheiros da CMI-Copam.

“O fato de a SUPPRI, mais uma vez, apresentar no seu parecer uma argumentação burocrática absurda sobre as estruturas com rejeitos só prova que sistema de gestão ambiental de Minas Gerais é que é o verdadeiro desastre. É totalmente inaceitável que a Samarco queira retomar suas atividades no complexo minerário sem eliminar completamente qualquer risco às pessoas e ao meio ambiente na bacia do Rio Doce tão castigado. E a Vale, que sempre afirmou que suas barragens de rejeitos eram seguras e não iriam romper, já demonstrou que além de incompetente na gestão dessas estruturas é criminosamente negligente”, diz a ambientalista Maria Teresa Corujo.

A barragem de rejeitos de Germano e diques associados (Sela, Selinha e Tulipa) têm quase 130 milhões de metros cúbicos de rejeitos acumulados – o equivalente a mais de duas barragens de Fundão e a 10 barragens de Córrego do Feijão em Brumadinho – além de um barramento com 163 metros de altura. É uma das maiores barragens alteada a montante de que se tem conhecimento em Minas Gerais e no Brasil.

Maria Teresa lembra que esse complexo está situado ao lado da barragem de Fundão, que se rompeu em 2015, em região de falhas geológica e caracterizada como foco da maior quantidade de sismos de toda a região do Quadrilátero Ferrífero.

“Além disso, os relatórios sobre as barragens da Samarco são marcados por falhas de informações a exemplo dos dados sobre volume de rejeitos registrados pelo Governo de Minas Gerais entre 2011 e 2014. Todas essas questões não foram tratadas no parecer da SUPPRI, o que é muito grave considerando o ocorrido em Mariana (2015) e Brumadinho (2019)”, afirma Teca.

Com a Licença de Operação Corretiva (LOC) garantida, a promessa da Samarco é construir uma planta de filtragem que vai separar a parte líquida da sólida dos rejeitos. As obras devem durar 12 meses. Com isso, a previsão de voltar a operar em 2020, feita anteriormente pelos executivos da empresa, se cumpre.

Em nota, a Samarco afirmou que “este passo importante demonstra o compromisso da empresa em reiniciar suas operações de forma segura e sustentável”. Em vídeo, o prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), comemorou a decisão do COPAM.

Controladoria-Geral de Minas Gerais coloca em xeque o licenciamento no Estado

A aprovação também ocorre na mesma semana em que um relatório inédito da Controladoria-Geral de Minas Gerais mostrou que a barragem da Vale em Brumadinho funcionou sem licença até 2008, obteve autorização para alteamento posteriormente mesmo sem documentos obrigatórios e licenças ambientais foram concedidas sem levar em conta o comprometimento da estrutura.

O relatório da CGE aponta ainda a ineficiência de gestão do estado de Minas Gerais na avaliação das recomendações de segurança das barragens de rejeito, a existência de fragilidades quanto à instrução e análise pela Secretaria de Meio Ambiente (Semad) dos processos de licenciamento ambiental e fragilidades também em ações após a emissão das licenças, como, por exemplo, no monitoramento das condicionantes.

Todo esse comprometimento estrutural do licenciamento em Minas Gerais, comprovado não só pelo relatório da CGE mas por dezenas de matérias investigativas, as CPI’s em curso no Senado, no Congresso e na Assembleia Legislativa de MG e as investigações oficiais da Polícia Federal não foram suficientes para impedir a aprovação do retorno da Samarco.

CMI segue servindo as mineradoras

Há apenas 11 meses, a mesma CMI licenciou, com parecer favorável do Estado e um único voto contrário (também do FONASC), a continuidade das minas Feijão e Jangada da Vale, local de rompimento da barragem em Brumadinho, apesar de todas as denúncias de que a mineradora não cumpria condicionantes, havia falhas no processo de licenciamento e o complexo minerário era uma ameaça à região. 

A CMI é composta sobretudo por representantes do governo estadual e do chamado “setor produtivo”: SEMAD, SEDE, SEGOV, SEDESE, Codemig, ANM, Ibram, Sindiextra, Federaminas, Fonasc, Cefet e Crea.

Assim, a aprovação do retorno da Samarco não é exatamente surpresa.
Apenas um projeto minerário foi barrado na CMI-COPAM em 40 reuniões realizadas entre fevereiro de 2017 e janeiro de 2019, quando a barragem de Brumadinho rompeu. Os fatos mostram que a CMI segue servindo exclusivamente às mineradoras e que as decisões da Câmara são, no mínimo, questionáveis.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Nota Inter-Franciscana Sobre a Situação No Chile


NOTA INTER-FRANCISCANA SOBRE A SITUAÇÃO DO CHILE

“A desigualdade não afeta apenas os indivíduos mas países inteiros, e obriga a pensar numa ética das relações internacionais”.Papa Francisco

Nós do SINFRAJUPE (Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia) expressamos nossa solidariedade ao povo Chileno, que nestes dias saem às ruas, em justa e histórica luta contra as políticas neoliberais do governo Sebastián Piñera. O Chile vive uma situação complexa e preocupante, que exige atenção e apoio de todos os países e nações, pois é resultado de um projeto econômico desenvolvido sob a destruição dos pactos internacionais dos direitos humanos, sociais e ambientais.

A população não suporta o descaso e as medidas adotadas nestes últimos anos pelo Governo na Educação, Assistência Social e na Previdência Social, que culminam com uma onda massiva de endividamento da população, que vive uma situação de permanente empobrecimento. Atrelado a este quadro o sistema político e militar envolvido em constantes casos de corrupção.

Para além da situação dos transportes públicos, que muitas das vezes é posta como cerne do problema, o sistema econômico, com ações de privatizações, apresentado como solução pelos economistas e grupos de interesses capitais, é o principal fator para o descontentamento e protestos, que se refletem em situações alarmantes vividas pela população. Dentre elas:

Os baixos índices salariais da classe trabalhadora chilena;  Doze mil pessoas morrem por ano devido à falta de assistência médica, e o alto preço de medicamentos; Grande parte das famílias têm suas casas hipotecadas por priorizarem a educação de seus filhos e filhas. Parte da população chilena se individa para paga suas refeições. Os idosos são um dos grupos mais vulneráveis com suas baixas pensões, correm o risco de perder até suas casas por não arcarem com os impostos devidos. A falta de políticas públicas de moradia, aumenta acampamentos e moradias improvisadas. No âmbito ambiental, a privatização do direito à água e a deterioração do meio ambiente, entre muitos outros fatores, levam ao desespero da população.

Nesse cenário, de falta de diálogo do Governo com a população foi a falência um modelo de Estado a serviço dos interesses de grupos hegemônicos e donos de grandes riquezas. A vida de qualquer pessoa e ser vivo não deve ser oprimida pela falta de acesso à serviços e bens, ou reduzida pelo ciclo do consumo pelo consumo.

Enquanto isso no Brasil, o governo Bolsonaro, propagandeia o modelo chileno como um exemplo de estabilidade econômica na América Latina e Paulo Guedes vem implementando essa agenda econômica falida.

Nós franciscanos e franciscanas denunciamos e repudiamos ações militarizadas nas ruas, a violência repressiva imposta pelo Estado chileno contra as manifestações, e a falta de respeito e de compaixão que quer sufocar as legítimas e necessárias reivindicações deste povo. Reafirmamos a importância do diálogo e da revisão de medidas que atendam os interesses de todos e todas, em especial, os mais vulneráveis.

Convocamos Movimentos, Coletivos, Organizações, iniciativas religiosas e pastorais, para que assumam o compromisso de articulação e de mobilização frente a vida e os direitos das pessoas e da “Casa Comum” não só se solidarizando com nossos irmãos e irmãs chilenos e chilenas, mas resistindo para que o cenário não seja exemplo para outras nações.
São Paulo, 24 de outubro de 2019
Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia







domingo, 20 de outubro de 2019

Pacto das Catacumbas pela Casa Comum - Sínodo da Amazônia

A Igreja renova, no mesmo lugar e com o mesmo espírito, o forte compromisso assinado em 16 de novembro de 1965, poucos dias antes do encerramento do Concílio Vaticano II. Foi o dia em que 42 padres conciliares celebraram a Eucaristia nas catacumbas de Domitilla para pedir a Deus a graça de "ser fiel ao espírito de Jesus" no serviço aos pobres. Foi assinado o documento "Pacto por uma Igreja serva e pobre": o compromisso assumido foi o de colocar os pobres no centro da pastoral. O texto, também conhecido como "Pacto das Catacumbas", teve a adesão de mais de 500 padres conciliares.
Passos do Concilio e novos caminhos
Depois de 54 anos, a herança dos Padres conciliares foi assumida por um grupo de participantes no Sínodo dos Bispos para a região pan-amazônica, focalizado no tema: "Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral". O espírito daquele dia vivido em 1965 nas Catacumbas de Domitilla foi renovado. Na manhã deste domingo, na presença de dezenas de pessoas – entre os quais mais de 40 padres sinodais -, o cardeal Claudio Hummes, relator-geral do Sínodo para a Amazônia, presidiu a Santa Missa no mesmo lugar, o maior e mais antigo cemitério subterrâneo de Roma. E foi precisamente nas Catacumbas de Domitilla, estabelecendo uma forte ligação com o documento assinado em 1965, que foi assinado um documento intitulado "Pacto das Catacumbas pela Casa Comum". A novidade é que não foram somente os padres sinodais a assinar o documento, mas todos os participantes – sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos – afirmando a sua adesão ao Pacto em prol da Casa Comum. Presentes também representantes da Igreja Anglicana e da Assembleia de Deus.

Cardeal Hummes: É preciso crer fortemente na oração

Durante a missa o cardeal Hummes no início da sua homilia falou desse "momento comovente e significativo". Depois de recordar que a Santa Missa é uma memória sacramental, mémoria de Jesus Cristo e que as Catacumbas eram cemitérios antigos dos romanos e dos primeiros cristãos que enterravam seus mártires, afirmou que todos os presentes se encontravam numa terra santa, “essa que nós pisamos aqui é verdadeiramente terra santa”.
O cardel Hummes continuou afirmando que as Catacumbas nos recordam os primeiros tempos da Igreja, da comunidade de discípulos e discípulas de Jesus em Roma. “Tempos difíceis, de perseguição, mas também de muita persistência, de muita fé, de muito testemunho. Por isso muitos morreram, por causa de seu testemunho. Tudo isso nos deve dar força, nos deve inspirar, pedindo para que Deus nos fortaleça, como ele fortalecia os cristãos daquela época”.
A Igreja sempre vai se reformando através dos tempos – sublinhou -; ela deve sempre voltar às suas raízes que estão aqui e em Jerusalém, para se inspirar em qualquer tipo de reforma. Também as reformas que o Papa Francisco quer fazer e está fazendo, - disse o pururado -, devem se inspirar e se inspiram,  certamente, nos tempos primitivos da Igreja. O Papa sempre diz isso, que é preciso purificar a Igreja das coisas que são meramente culturais de uma época que já passou, são coisas históricas, para de novo redescobrir aquilo que é o grande fulcro da mensagem de Jesus e encarná-lo no nosso tempo, na nossa cultura, nas nossas aspitações, na nossa maneira de vivermos a fé.
Depois de recordar que as leituras do dia falam principalmente da oração, da pregação da Palavra sem medo, “com profunda fé, devemos nós mesmos nos deixar invadir por essa Palavra e proclamar essa Palavra à qual aderimos”. É preciso crer fortemente na oração, afirmou. “Que essa missão continue, principalmente lá na Amazônia, e leve pouco a pouco a Igreja a se desenvolver nestas regiões. Neste Sínodo pedimos novos caminhos, melhores condições para podermos realizar a nossa missão, a missão de proclamar a Palavra”.
Insistir, disse dom Cláudio, de modo oportuno ou inoportuno, porque às vezes devemos falar de modo inoportuno. Para aqueles que se opõem ao Reino de Deus, o que mais se opõe ao reino de Deus é o dinnheiro e o desejo de acumular riqueza, às custas dos outros, às custas da natureza. “Todas as grandes maldades do mundo são por causa do dinheiro; é a corrupção, é o roubo, guerras, conflitos, são mentiras. Tudo para juntar dinheiro, para ganhar dinheiro às custas de qualquer coisa. O dinheiro é o grande inimigo de Jesus, pois você não pode servir a Deus e ao dinheiro”.
A Igreja deve ser sempre orante – voltou a dizer o cardeal Hummes - , em certas épocas mais do que em outras. Nós aqui devemos acreditar na oração por esse Sínodo, na força da oração. “Não somente estar aqui para discutirmos, debatermos e depois chegarmos a uma grande comunhão ao redor do texto final, mas rezar, pedir a Deus luzes, pedir a Deus adesão à sua inspiração, ao seu Espirito. Escutar o Espírito, escutar os nossos povos da Amazônia, escutar os gritos da terra. Termos essa abertura. A oração nos prepara para isso. Deus atende as orações”.
Dom Cláudio pergunta, recordando o texto do Evangelho sobre o juíz iníquo, sobre a realidade dos pobres: será que Deus vai fazê-los esperar, será que Deus vai fazer esperar os pobres e sofridos? Deus irá fazer esperar os nossos indígenas? Não, diz Jesus, Deus não os fará esperar. Na oração devemos ter essa certeza de que Deus não os fará esperar: “eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa”. Jesus nos dá essa convicção. Devemos ter essa convicção. Mas somos nós que devemos acolher, preparar o povo para acolher aquilo que Deus prepara, que é o seu caminho, que é o seu Reino.
"Eu tenho certeza que esse Pacto das Catacumbas - afirmou o cardeal -,  é algo que nos vai ajudar muito para estarmos unidos neste trabalho todo".
Concluiu recordando que ele estava usando a estola que pertenceu a Dom Hélder Câmara. “Uma relíquia, que eu me sinto muito emocionado de estar usando. Dom Hélder nos dá esse grande exemplo, nos lembra do Vaticano II e toda obra que o Vaticano II fez. Nós sabemos que esse Sínodo é produto do Vaticano II, ele é o fruto do Vaticano II, é um levar a efeito o Vaticano II. Isso é muito importante a gente ver essa referência, essa relação que tem: são os frutos, são as formas como o Vaticano II já nos indicava. Certamente temos também as nossas assembleias latino-americanas e outras também, mas é o Vaticano II que está ai. E ai temos a figura de Dom Hélder no Vaticano II recordando sempre que a Igreja não pode se esquecer dos pobres.
Dom Cláudio concluiu recordando uma entrevista recente do superior dos lefrevianos que dizia para aqueles que eram contra o Sínodo: “vocês não podem ser contra o Sínodo, o que é isso. Como é que vocês são contra o Sínodo, porque o Sínodo é um fruto legítimo do Vaticano II. Nós não. Nós somos contra porque éramos contra o Vaticano II, mas vocês não podem ser contra”. Devemos dar graças a Deus por esse fruto belo do Vatino II, conclui dom Cláudio.
FONTE: VATICAN NEWS

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Carta Aberta da Rede Igrejas e Mineração - Minas Gerais

Nós, agentes de pastoral, participantes do Curso de Formação da Rede Igrejas e Mineração – Minas Gerais, reunidos de 15 a 18 de outubro de 2019, refletimos sobre a situação das comunidades atingidas pelo setor minerário e seus impactos sobre a Casa Comum. Em comunhão com o Sínodo da Amazônia nos inspira, a partir da Ecologia Integral, a lançar um olhar sócio-ecológico e teológico sobre a realidade dos territórios.
Muito nos espantou a agressividade das empresas, alicerçadas nos Governos, para controlar os territórios de vida, transformando-os em lucro e morte. São claros os sinais de que o atual modelo minerário está em profunda crise. Os exemplos dos crimes em Mariana e Brumadinho mostram isso. Mas além dos rompimentos de barragens, a mineração viola os direitos das comunidades, contamina e destrói águas e causa vários outros impactos que inviabilizam a vida e as possibilidades de alternativas econômicas nos territórios.
A cobiça das empresas não cessa. Não recua. Essas não reconhecem a catástrofe vivida pela sociedade.  Insistem em  avançar com este modelo. Está em curso um plano articulado entre empresas minerárias e os Governos Estadual e Federal, visando a liberação de diversas licenças ambientais (como da VALE/SAMARCO em Mariana), inclusive em áreas de extrema vulnerabilidade social e de escassez de água. Vimos, de forma bastante clara, que o setor minerário aprofunda uma economia neocolonial-extrativista degradadora, o que significa a intensificação de crimes e tragédias socioambientais. Como exemplo, citamos o abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte que está por um fio; o projeto de mineroduto da Chinesa SAM, na região semiárida, no Norte de Minas e Jequitinhonha. Essas são tragédias anunciadas.  
Muito nos alegraram os sinais vindos das comunidades, as quais resistem, enfrentando as mineradoras. A vida pulsa nos territórios de resistência, de defesa da vida, do bem comum e do bem-viver, que apontam um novo e necessário caminho.
Reforçamos nosso compromisso com a defesa da vida e com o enfrentamento dos problemas vivenciados pelas comunidades atingidas e ameaçadas. Colocamo-nos como missionários de uma “Igreja em Saída”, assumindo-nos como guardiões e guardiãs da Casa Comum, em com
unhão com a Encíclica Laudato Si’ e com o Sínodo da Amazônia.
João Monlevade, 18 de outubro de 2019.
CÁRITAS MG – CPT – CIMI – CPP - GT ECOLOGIA INTEGRAL E MINERAÇÃO DO REGIONAL LESTE II

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Nota de Solidariedade da CPT ao Povo do Equador

Comissão Pastoral da Terra (CPT) vem a público manifestar sua solidariedade às nações indígenas do Equador por sua coragem e determinação no enfrentamento aos desmandos e políticas governamentais perversas que submetem nossos povos aos piores conflitos possíveis. Tal dramática situação e a heróica resistência do povo equatoriano apelam à nossa sensibilidade pastoral e nos incitam a uma atitude de fé, esperança e solidariedade, confiantes no Senhor da História, que se põe nela junto dos pobres.
Acompanhamos há décadas diversas situações de traições políticas de dirigentes no Equador e o consequente peso sobre a população e os seus direitos corajosamente conquistados, como também a organização desses povos, representados pela Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE).
É triste sentir, nas diversas imagens que correm o mundo, a violência e o autoritarismo com que o governo tem tratado os povos indígenas, assim como a perda de direitos sociais e garantias do mundo do trabalho. Lenín Moreno foi eleito com um programa e governa com as propostas do rival banqueiro derrotado nas urnas e sob o comando do Fundo Monetário Internacional (FMI). A submissão ao capital tem tornado governos meros despachantes dos seus interesses, em detrimento da vida e direitos de suas populações.
A situação atual de pressão e violação de todos os direitos humanos, encabeçada por diversos governos, como por exemplo no Brasil e no Equador, em função da submissão às políticas neoliberais, tem significado, concretamente, perseguições e mortes aos povos tradicionais, além da diminuição significativa dos espaços democráticos. A esses povos sobra somente o direito de protestar, mobilizar e arriscar suas vidas no enfrentamento às polícias ou, ainda, às milícias armadas. No caso do Equador, a submissão ao FMI, com o corte dos subsídios do petróleo, Decreto 883, ameaçava gerar uma crise que afetaria brutalmente a vida de toda a população. Foi uma vitória parcial, mas contundente, que após 12 dias de luta, o povo organizado sob a coordenação da CONAIE saiu ganhador desta queda de braço com um governo que se porta fiel às políticas do Fundo Monetário Internacional.
Repudiamos toda ação violenta do governo equatoriano e o autoritarismo que tem tratado o problema. Manifestamos nossa solidariedade a todas as organizações políticas e sociais que perfilaram lado a lado com a CONAIE, que, imediatamente, após a derrogação do Decreto 883, retrocedendo o fim dos subsídios a derivados fundamentais de gasolina, passaram a ser alvos de acusações absurdas e perseguições injustificadas. Assim queremos oferecer todo o nosso apoio às organizações populares e indígenas do Equador, que têm se colocado na primeira linha dessa luta pela vida e pelos direitos.
Avante Povos Originários! Avante irmãs e irmãos latino-americanos! Em frente heróico povo equatoriano! Até a Vitória, sempre, companheiros e companheiras!!!
Coordenação Executiva Nacional da CPT
Goiânia (GO), Brasil, 17 de outubro de 2019.

domingo, 6 de outubro de 2019

A Igreja deve evitar "novos colonialismos: Papa Francisco, missa de abertura do Sínodo para a Amazônia


Abriu-se hoje a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Pan-Amazônica, de 6 a 27 de outubro, no Vaticano, em Roma. Como preparação, foram realizadas 57 assembleias, 21 fóruns nacionais, 17 fóruns temáticos e 179 rodas de conversa. No Brasil, foram realizadas 182 atividades. Como fruto desta escuta, a secretaria-executiva do Sínodo elaborou o Instrumentum Laboris (Instrumento de Trabalho) do Sínodo Amazônico, material a ser estudado pelos bispos como preparação ao evento.

Na missa abertura celebrada na manhã deste domingo (06/10) na Basílica de São Pedro, reafirmo a intenção da Igreja de caminhar juntos com os povos da Amazônia:  “Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja. Por eles, com eles, caminhemos juntos”. Disse ainda, que a Igreja deve evitar "novos colonialismos":  "Quando pessoas e culturas são devoradas sem amor e respeito - enfatizou o Papa Francisco - não é o fogo de Deus, mas o fogo do mundo. No entanto, quantas vezes o presente de Deus não foi oferecido, mas imposto, quantas vezes houve colonização ao invés de evangelização! Deus nos preserva da ganância dos novos colonialismos ". "O fogo causado por interesses destruidores, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho", acrescentou o papa. "O fogo de Deus é o calor que atrai e reúne a unidade. É nutrido por compartilhar. , não com ganhos. O fogo devorador, por outro lado, acende quando queremos levar adiante apenas nossas próprias idéias, formar nosso próprio grupo, queimar a diversidade para aprovar tudo e todos ", concluiu Francesco.


“Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja. Por eles, com eles, caminhemos juntos”, disse o Papa Francisco na missa de abertura da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, celebrada na manhã deste domingo (06/10) na Basílica de São Pedro

Vatican News - Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
“Reacender o dom no fogo do Espírito é o oposto de deixar as coisas correr sem se fazer nada. E ser fiéis à novidade do Espírito é uma graça que devemos pedir na oração. Ele, que faz novas todas as coisas, nos dê a sua prudência audaciosa; inspire o nosso Sínodo a renovar os caminhos para a Igreja na Amazônia, para que não se apague o fogo da missão.”

Foi o que disse o Papa Francisco na missa celebrada na manhã deste domingo (06/10) na Basílica de São Pedro, na abertura da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, evento eclesial que se realizará no Vaticano até o dia 27 deste mês, com o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.
No início da celebração, a longa procissão de entrada com os 185 padres sinodais, 58 do Brasil. Na assembleia, também representantes de comunidades indígenas. A Eucaristia foi concelebrada com os treze novos cardeais, criados no Consistório presidido pelo Santo Padre no sábado à tarde.
Fazer Sínodo, caminhar juntos
Dirigindo-se aos padres sinodais, bispos provenientes não só da região Pan-Amazônica, mas também de outras regiões, Francisco, referindo-se à segunda carta de São Paulo a Timóteo proposta nesta liturgia do XXVII Domingo do Tempo Comum, ressaltou que o apóstolo Paulo, o maior missionário da história da Igreja, ajuda-nos a ‘fazer Sínodo’, a ‘caminhar juntos’; e que “parece dirigido a nós, Pastores ao serviço do povo de Deus, aquilo que escreve a Timóteo”, observou.

Recebemos um dom, para sermos dom, disse o Pontífice, acrescentando:
“Um dom não se compra, não se troca nem se vende: recebe-se e dá-se de prenda. Se nos apropriarmos dele, se nos colocarmos a nós no centro e não deixarmos no centro o dom, passamos de Pastores a funcionários: fazemos do dom uma função, e desaparece a gratuidade; assim acabamos por nos servir a nós mesmos, servindo-nos da Igreja.”
A nossa vida, dom recebido, é para servir, continuou. “Colocamos toda a nossa alegria em servir, porque fomos servidos por Deus: fez-Se nosso servo. Queridos irmãos, sintamo-nos chamados aqui para servir, colocando no centro o dom de Deus”, exortou Francisco.

Dom que recebemos é amor ardente a Deus e aos irmãos
Para sermos fiéis a este chamado, à nossa missão, enfatizou, “São Paulo lembra-nos que o dom deve ser reaceso. O verbo usado é fascinante: reacender é, literalmente, ‘dar vida a uma fogueira’”, explicou o Papa. “O dom que recebemos é um fogo, é amor ardente a Deus e aos irmãos. O fogo não se alimenta sozinho; morre se não for mantido vivo, apaga-se se a cinza o cobrir.”

Passar da pastoral de manutenção a uma pastoral missionária
Em seguida, o Pontífice fez uma premente exortação aos Pastores a serviço do povo de Deus:
“A Igreja não pode de modo algum limitar-se a uma pastoral de “manutenção” para aqueles que já conhecem o Evangelho de Cristo. O ardor missionário é um sinal claro da maturidade de uma comunidade eclesial. Jesus veio trazer à terra, não a brisa da tarde, mas o fogo. O fogo que reacende o dom é o Espírito Santo, doador dos dons.”

Deus nos preserve da ganância de novos colonialismos
O fogo de Deus, como no episódio da sarça ardente, arde mas não consome). É fogo de amor que ilumina, aquece e dá vida; não fogo que alastra e devora. “Quando sem amor nem respeito se devoram povos e culturas, não é o fogo de Deus, mas do mundo. Contudo quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto! Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização! Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos.”
“O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros.”
Francisco exortou a reacender o dom; receber a prudência audaciosa do Espírito, fiéis à sua novidade, acrescentando que o anúncio do Evangelho é o critério primeiro para a vida da Igreja.
Irmãos amazônicos aguardam consolação do Evangelho

Convidando a olhar juntos para Jesus Crucificado, para o seu coração aberto por nós, o Santo Padre concluiu com mais uma exortação: “Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja. Por eles, com eles, caminhemos juntos”.