Reunidos na Cidade do Cabo, África do Sul, o grupo de referencia da Rede Diálogo dos Povos/ Peoples Dialogue está analisando a conjuntura internacional, avaliando as atividades da rede e planejando o trabalho de 2020.
Na pauta, a expansão, consolidação e intensificação do modelo de uso abusivo dos chamados “recursos naturais” (bens comuns) dos quais a mineração é um caso exemplar, em todo o mundo. A expansão desse modelo é a base de crescentes conflitos socioambientais, com perseguição e criminalização dos proponentes dos direitos socioambientais. Comunidades afetadas, especialmente mulheres, povos indígenas, movimentos de trabalhadores e ambientalistas, bem como acadêmicos e pesquisadores que investigam esses fenômenos, identificaram a necessidade de unir, articular e intensificar seus esforços freqüentemente isolados ou fragmentados. Isso não quer dizer que respostas muito localizadas e regionais não tenham surgido.
Na África Austral a recessão teve um efeito rotativo na região. A África do Sul experimentou um crescimento negativo. No Zimbabué, emitiram recentemente “títulos obrigacionistas” contra os quais o FMI emitiu um aviso e Moçambique não cumpriu os pagamentos da dívida, para mencionar alguns. A maioria dos países da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral ) enfrenta uma crescente desigualdade, desemprego e dificuldades econômicas. A região é um excelente exemplo de existência de abundância de um ou mais produtos primários, mas que parecem estar condenados ao subdesenvolvimento. A situação se torna ainda mais complicada para aquelas economias que dependem do petróleo e dos minerais para sua renda.
Na América Latina, em particular, a crise dos chamados governos “progressistas” exige dos movimentos sociais um período de reflexão e redefinição de suas estratégias de ação. No Brasil desde o golpe de 2016 se vive um retrocesso político e social, que se agrava a cada momento, após a eleição de Bolsonaro. Cada vez mais forte se impõem o fascismo e a violência como política de estado. Um processo de longo prazo está aberto e exige de todos nós a necessidade de rearticular alianças e, em alguns casos, a reconstrução das bases dos movimentos. Por outro lado, os níveis de violência e violação de direitos, incluindo aqueles conquistados em muitos anos de esforços, levam a uma multiplicidade de lutas locais, territoriais e localizadas.
Avaliou-se a participação de Dialogo dos Povos processo em curso após o Fórum Social Temático sobre Mineração e Economia Extrativista, na África do Sul, realizado em 12 a 15 de novembro de 2018, com o objetivo de consolidar um amplo movimento de resistência e controle social sobre as atividades extrativistas. bem como o lançamento da Campanha pelo “Direito de dizer não” a projetos social e ambientalmente degradantes.
Diálogo do Povo (PD) é uma iniciativa em nível da África Austral-América Latina que visa contribuir para o desenvolvimento e construção de uma metodologia que facilite o diálogo entre organizações e movimentos no sul global. Em nossa opinião, os obstáculos ao diálogo, à solidariedade e à ação coletiva não são apenas prejudicados pela geografia física, mas também por séculos e décadas de colonialismo, imperialismo e globalização. Diálogo dos Povos apoia organizações e comunidades do Sul Global expropriadas e ambientalmente afetadas pelo modelo extrativista de acumulação, estimulando debates sobre alternativas, incorporando aspectos relativos às experiências e lutas dessas organizações e comunidades, bem como a diversidade étnica, cultural, política e de gênero.
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