Dom Vicente de Paula Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, responsável por Brumadinho e vice presidente da Comissão Episcopal de Ecologia Integral e Mineração da CNBB, fez o seguinte pronunciamento, em Genebra, na Nações Unidas:
43ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos ONU
Item 3
Diálogo interativo com o relator especial sobre direitos humanos e meio ambiente
Março 2, 2019
Pronunciado por: Vicente de Paula Ferreira
Congratulamo-nos com o relatório do relator especial, Sr. Boyle. Também concordamos que proteger o meio ambiente contribui para o cumprimento dos direitos humanos e isso contribui para salvaguardar nossa casa comum.
Embora o Brasil tenha sido listado no seu relatório como um exemplo de boas práticas, a realidade difere do que o país possui em sua legislação, particularmente no acesso a informações ambientais. As comunidades geralmente não são consultadas quando da concessão de licenças para megaprojetos ou essas licenças são concedidas sem seguir o procedimento legal.
Nesse sentido, pedimos ao governo do Brasil que ratifique o Acordo de Escazú* e forneça informações, consultas e participação suficientes das comunidades e da sociedade civil no processo de licenciamento de megaprojetos, principalmente de mineradoras.
Faz um ano desde o rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho e cinco anos desde Mariana. Até agora, os dois desastres continuam produzindo efeitos nocivos nas comunidades e no meio ambiente locais e nada foi feito para impedir eventos semelhantes. Somente no estado de Minas Gerais, existem pelo menos 40 barragens com risco de colapso e grande risco de possíveis danos.
Não será possível realizar progressivamente o direito a um ambiente seguro, limpo, saudável e sustentável no Brasil se o governo não assumir suas obrigações internacionais, inclusive ao prevenir e garantir que as empresas sejam responsabilizadas e ao combater a impunidade como um impedimento para evitar que desastres criminosos aconteçam de novo e de novo.
Obrigado, Sr. Vice-Presidente,
* Entenda o Acordo Escazú
O Acordo de Escazú é o primeiro tratado ambiental de direitos humanos na América Latina e no Caribe. Foi aprovado em março de 2018 após uma negociação que durou cerca de seis anos. Desenvolve o Princípio 10 da Declaração do Rio de 1992 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que visa garantir o acesso à informação, a participação do cidadão e o acesso à justiça em questões ambientais. O Acordo de Escazú desenvolve esses três direitos e visa promover uma melhor governança dos recursos naturais na região. Vinte e quatro estados aprovaram seu texto final em março de 2018, uma cidade costarriquenha de Escazú, onde foi realizada a última das nove reuniões do Comitê de Negociação. O Brasil assinou, contundo não ratificou, o que o torna ineficaz, no país.
O Acordo de Escazú incorpora vários elementos inovadores. Primeiro, possui uma disposição específica sobre defensores de direitos humanos ambientais (DRHs) sem precedentes na região. Segundo, consagra uma abordagem baseada em direitos aos povos indígenas e populações vulneráveis, com disposições para favorecer o acesso à informação, a participação e o acesso à justiça por esses grupos. Terceiro, também responde ao espírito dos Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Negócios e Direitos Humanos em relação às obrigações específicas das empresas de respeitar os direitos humanos no contexto de suas atividades.
Obrigada Dom Vicente! As comunidades atingidas pelo descaso mineração agradecem seu cuidado.
ResponderExcluirDeus abençoe este profeta Dom Vicente
ResponderExcluirE muito importante este cuidado da nossa Diocese...Nossos governantes precisam rever suas atitudes ,ate agora so vemos distruicoes.. O empenho da Diocese vem somar os esforcos de pessoas quelutam em favor daVida ....
ResponderExcluirMuito obrigada Dom Vicente. Estudos apontam riscos estruturais em pelo menos cinco barragens no município de Itabira-Minas Gerais.
ResponderExcluirVamos cobrar do Congresso Nacional a ratificacao do Acordo de Escazu, já!!!!🙏
ResponderExcluirDemorou e muito...., Mariana qdo na tutela do governo de Dilma (senão dizer Lula), não fez nada.
ResponderExcluirMas antes tarde do que nunca e espero realmente que este governo que não faz "politicagem" (como anteriores) resolva ou ajude a resolver este e evitar novos desastres não só ambientais, mas as tragédias humanas ocasionadas por esta.
Verdade
ExcluirMuita força espiritual. E que continues na missão profética. Antonio Sidekum
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