segunda-feira, 27 de abril de 2020

ENTRE PRAGMATISMOS, DESEJOS E CATARSE

por Eduardo Paiva.

Não sei se por conta de um traço sonhador que tenho, não sei se por ser ansioso ou por outros traços que kinda desconheço em mim; tenho muita desconfiança de pragmatismos e discursos que querem se apresentar como sendo equilibrados, quase isentos. 

Vejo tentativas de sínteses (a meu ver muitas vezes um pouco pretensiosas) que carregam muito numa linha quase asséptica. É verdade que essa performance discursiva tem seu charme e também não deve ser desconsiderada. 

O que quero salientar aqui, não é o discursador, mais o discurso e sua pretensa eficácia para o termo do tema que se pretende tratar. Não se fala sem emoção e muito menos sem pretensão. Não se elabora uma ideia sem um objetivo e não se formula um objetivo sem um contexto e uma história. 

Mais ainda, não se é afetado por um tema desconsiderando aspectos emocionais, psicológicos, enfim, os afetos. Politicamente vivemos momentos de catarse, de raivas, de alegrias, de tristezas, de ódios e de paixões. A crise atual não será resolvida desconsiderando ou passando por cima dessas emoções e sentimentos. 

A meu ver uma das maneiras de colaborar com a superação disso tudo é transitar no meio disso tudo. Ao contrário da assepsia, penso que teríamos de embebermo-nos das emoções e dos afetos; ao mesmo tempo aprimoramos mais nossa capacidade de observação e elaboração interna e externa, no intuito de viver e não negar nossos afetos para ampliar nossa capacidade de vida. 

Para além dos disfarces e engodos pseudo civilizados. A civilização como compromisso afetivo e busca a efetiva, para compartilhar e construir relações proveitosas para todos os seres e ambientes. 

Eduardo Paiva 

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