“Então Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom” (Gn 1, 31)
De 1º de setembro – dia mundial de oração pela criação – a 4 de outubro – dia de São Francisco de Assis, patrono da Ecologia, vivemos o Tempo da Criação. Animados pelo Conselho Mundial de Igrejas, renovamos nossa relação com o Criador e com toda a criação, através de celebrações, da busca de um estilo de vida mais simples e do compromisso coletivo com ações concretas, no cuidado com a Casa Comum. Desde 1989, os ortodoxos, para os quais o ano litúrgico inicia-se em 1º de setembro, com a comemoração de como Deus criou o mundo, celebram o Tempo da Criação e, em 2015, o Papa Francisco acolheu também esse compromisso. Cada ano, há um tema escolhido pelo comitê ecumênico. Jubileu pela Terra: Novos Ritmos, Nova Esperança é a temática de 2020.
A urgência de inaugurar uma civilização da restauração, vivendo um verdadeiro jubileu em nosso planeta, para enfrentarmos as agudas crises sociais e ambientais pelas quais passamos, é ainda mais urgente no contexto da global Pandemia do Covid-19. Celebramos o Ano Laudato Sì e, como afirma o Papa Francisco, “não podemos pretender ser saudáveis num mundo doente. As feridas causadas à nossa mãe terra são feridas que também sangram em nós”. Por isso, buscamos sistemas sustentáveis e justos para que nosso bem-estar esteja interligado com o bem-estar de toda obra criada por Deus. São muitas iniciativas que já existem, mas ainda temos muito o que fazer e ninguém pode ficar de fora. Numa cultura capitalista neoliberal, com suas formas de economias que excluem e matam, é missão fundamental descobrir novos ritmos e fortalecer nossa esperança. Vejam, por exemplo, quantas agressões sofre nossa Casa Comum, com tragédias criminosas, como as de Mariana e Brumadinho, devastações das florestas, poluição da água, fazendo aumentar o sofrimento, sobretudo, das populações mais vulneráveis.
O Tempo da Criação, ao propor um jubileu pela terra, anima-nos a algumas atitudes concretas. Reforçar a oração, o louvor a Deus por todas as criaturas (Cfr Dn 3); rever nosso jeito de viver, eliminando acúmulos e desperdícios, como nos pede Jesus “aprendei dos lírios do campo, como crescem. Não trabalham, nem fiam, e, no entanto, eu vos digo, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só dentre eles” (Mt 6, 28-29); participar de redes que buscam caminhos alternativos, valorizando as sabedorias ancestrais, a agroecologia, as culturas indígenas e quilombolas; lutar nos municípios, estados e federação por políticas públicas, exigindo de nossos dirigentes a gestação e cumprimento de leis de proteção ambiental etc. A pior coisa seria a indiferença. Como não chorar ao ultrapassarmos o número de 120 mil mortos pelo Covid-19 no Brasil? Como não nos indignarmos com as imensas queimadas em nosso Pantanal brasileiro? Não podemos esperar faltar água em nossa torneira, ou o rompimento de mais uma barragem para nos convencermos de muitos estilos de extrativismo possuem dimensões criminosas.
Apressemos, portanto, em criar ou fortalecer atitudes de uma Igreja em saída. Na Arquidiocese de Belo Horizonte, sob a liderança de Dom Walmor Oliveira, alegramos com a ampliação de um promissor Vicariato Episcopal para Ação Social, Política e Ambiental. Uma bela frente interdisciplinar de lideranças. São redes de solidariedade que cuidam de tantas pessoas e comunidades, coletivo de fé e política, comitês para águas, para mineração, fóruns jurídicos, de bioética etc. Tudo isso mostra que nossa missão eclesial, no mundo, não se restringe a um olhar para dentro, mas nos impulsiona a olhar para fora e dialogar com todas as instâncias da sociedade, buscando a promoção humana e o cuidado com a Casa Comum, como nos pede a Doutrina Social e Ambiental da Igreja. Em âmbito nacional, a CNBB lançou, com apoio de outras instituições civis, o Pacto pela Vida. Ocasião preciosa para reforçar nossa democracia e lutar pelos direitos dos povos e do planeta. Lembramos, ainda, o importante movimento de jovens pela Economia de Francisco e Clara e o Pacto pela Educação. Eis alguns sinais que demonstram atitudes que, de fato, celebram o Jubileu pela Terra, com novos ritmos e nova esperança. Que sejamos corajosos, movidos pelo Espírito de Jesus, na construção de uma civilização da fraternidade e do cuidado com a criação.
Fonte: CNBB