segunda-feira, 26 de abril de 2021

Dom André Witte: simplicidade e profecia


Faleceu neste domingo, 25 de abril, Domingo do Bom Pastor, dom André de Witte, bispo emérito de Ruy Barbosa (BA), presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e membro da Comissão Especial de Ecologia Integral e Mineração da CNBB. Internado no sábado (24) o com problemas de saúde e aguardava resultados de exames clínicos. Apesar de não apresentar sintomas característicos de Covid-19, o bispo havia sido testado e aguardava o resultado. Em nota divulgada nesta segunda-feira, a diocese informou que dom André foi vítima de choque séptico e celulite infecciosa.

Dom André, esteve sempre ligado ao trabalho com os camponeses e à defesa da terra, ele era formado em agronomia. Ele sempre foi uma pessoa de extrema simplicidade, pobre entre os pobres, com grande disposição para escutar e acolher todo mundo, um pastor com cheiro de ovelha. Ele sempre teve atitude profética em defesa do povo diante das injustiças, um compromisso do qual nunca abriu mão.

Luta sem fronteiras:

Dom André Witte, nas Nações Unidas, Genebra

Em outubro de 2018, nas Nações Unidas, em Genevra, ele se juntou à Franciscans International, durante a sessão do Grupo de Trabalho Intergovernamental da ONU sobre Direitos Humanos e Corporações Transnacionais para pedir um melhor acesso à justiça e recursos para as comunidades atingidas pelas atividades empresariais.

Durante esse evento, Dom André Witter (Brasil), Dom Ramazin (Guatemala) e o Reverendo Ralf Häussler (Alemanha) denunciaram os desafios de buscar reparação de violações de direitos por meio de mecanismos não vinculantes existentes e suas inadequações na prevenção de abusos aos direitos humanos.

Apesar da necessidade urgente de prevenir e reparar os abusos de direitos humanos cometidos por corporações transnacionais, o grupo de bispos denunciou que o progresso em direção à adoção de um instrumento legalmente vinculativo permanece lento, com muitos Estados economicamente poderosos se envolvendo apenas nominalmente nas deliberações ou boicotando todo o processo.

Dom André alertou para o fato de que projetos industriais de grande escala afetam desproporcionalmente aqueles que estão na base das cadeias produtivas globais, com consequências muitas vezes invisíveis para os que estão no topo.

Dom Witte testemunhou esses problemas a partir de sua própria diocese quando seus 50.000 paroquianos, esparsos por uma área maior do que muitos países europeus, encontraram sua vidas ameaçadas por projetos de mineração em grande escala. 

“Um pequeno trabalhador, que não possui as terras que cultiva, pode acordar uma certa manhã, e encontrar pequenas estacas ao redor de sua casa dizendo que agora ela é reivindicada por uma empresa de mineração. Isso não acontece com os poderosos”, disse André.

Dom André foi clao sobre o papel da a Igreja e a responsabilidade da mesma de desempenhar um papel importante no processo de construção de um Tratado Internacional Vinculante sobre Corporações Transnacionais e Direitos Humanos. 

“Precisamos participar dessas discussões porque nosso trabalho se apoia em dois pilares: um é a catequese, mas também devemos nos esforçar para criar uma sociedade igualitária e justa a serviço da vida. Em última análise, este tratado não é contra a economia ou contra as corporações transnacionais. Está a serviço das vidas das vítimas - está a serviço de todos nós".


Vida Missionária:

Dom André de Witte nasceu na Bélgica, em em 31 de dezembro de 1944, 3º filho de um casal
de agricultores familiares. Chegou ao Brasil no dia 12 de fevereiro de 1976, para trabalhar na Diocese de Alagoinhas, BA. Em equipe com um colega missionário trabalhou na Paróquia de Inhambupe e na Pastoral Rural da Diocese. Recebeu ainda a missão de Vigário Episcopal do Zonal do Sertão, Diretor Espiritual dos seminaristas, Coordenador Diocesano da Pastoral e Vigário Geral. Em 1994,  foi nomeado pelo Papa João Paulo II como bispo da diocese de Ruy Barbosa (BA). Adotou como lema episcopal “Cristo Sempre”. 

De 1995 a 2003 foi Presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM). Foi Presidente do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), em Juazeiro, BA, e representou a Igreja Católica na Diretoria da Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE).

Dom André ao completar 75 anos, no dia 31 de dezembro de 2019, teve seu pedido de renúncia aceito pelo Papa Francisco no dia 15 de abril de 2020. 

Dom André, esteve sempre ligado ao trabalho com os camponeses e à defesa da terra, ele era formado em agronomia. Dom André sempre foi uma pessoa de extrema simplicidade, pobre entre os pobres, com grande disposição para escutar e acolher todo mundo, um pastor com cheiro de ovelha. Ele sempre teve atitude profética em defesa do povo diante das injustiças, um compromisso do qual nunca abriu mão.

Fontes: CNBB, CPT, Franciscans International

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