domingo, 21 de novembro de 2021

Frei Cláudio van Ballen, profeta da ternura.

Foi com  uma profética ternura, que o frade Carmelita, Frei Cláudio Van Balen, nos cativou, desafiou, desconcertou, nos abrindo caminho para uma fé adulta, sem medo e preconceitos.  Frei Cláudio anunciou uma Igreja de portas abertas, acolhedora, onde as pessoas possam entrar e se sentirem em casa, onde o diálogo e a abertura falam ao coração.

Frei Cláudio, faleceu na tarde de sábado (20), aos 88 anos, por complicações de Covid-19. Ele estava com Alzheimer, a Covid evoluiu rapidamente e seu coração não aguentou.

Em sua vida, Frei Cláudio, sempre nos falou de um Deus próximo e não intervencionista. Deus no humano, no interior de cada um, na natureza, em tudo e em todos e todas. Nos convidou a superar essa ideia de um Deus que manda e proíbe, premeia e castiga. Nos mostrava que Deus não é nosso rival, a quem devemos pedir favores e buscar o prêmio. Ao contrário, Deus é afirmação da vida e promotor da realização humana.

"Deus é um sopro, uma brisa suave, que navega no íntimo da natureza, cultura, ciência, tecnologia, sobretudo da convivência humana e em cada ser humano. Então, ou você se faz receptivo e se deixa tocar pelo sopro, e com esse sopro você faz maravilhas. Mais do que você sozinho seria capaz. Habita em você um mistério que você não pode nem sondar." (Disse Frei Claudio no Programa do Jô)

Ele, no trabalho pastoral, reconheceu e incentivou o protagonismo dos leigos, dando atenção especial à formação de lideranças, grupos bíblicos e uma pastoral que articulava fé e a política.

No contexto litúrgico, sua pregação não era moralista, mas viva, falando ao coração das pessoas, porque as conhecia bem. Poderíamos aplicar nele o que o Papa Francisco recomenda na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: “Aquele que prega deve conhecer o coração da sua comunidade para identificar onde está vivo e ardente o desejo de Deus e também onde é que este diálogo de amor foi sufocado ou não pôde dar fruto.” (Evangelii Gaudium 137).  “A pregação puramente moralista ou doutrinadora e também a que se transforma numa lição de exegese reduzem esta comunicação entre os corações que se verifica na homilia e que deve ter um carácter quase sacramental: «A fé surge da pregação, e a pregação surge pela palavra de Cristo» (Rm 10, 17). Na homilia, a verdade anda de mãos dadas com a beleza e o bem.” (Evangelii Gaudium 142)

Frei Cláudio van Balen, nasceu em Wytgaard na Holanda em 26/09/1933, sexto de uma família de 11 filhos, residia no Brasil desde 1950. Era religioso Carmelita desde 1954.  Faleceu neste sábado, dia 21 de novembro de 2021.

Aos 17 anos, ele desembarcou no Brasil, sendo ordenado em 1959, em São Paulo, adotando o nome religioso de frei Cláudio. Na década de 1960, foi estudar em Roma, fazendo os cursos de pós-graduação e doutorado em teologia dogmática, com forte influência do Concílio Vaticano II e graduou-se em Psicologia Clínica. Escreveu mais de 40 livros, centenas de artigos, para revistas e jornais.

A partir de 1967 já estava em Belo Horizonte, na Igreja do Carmo. Desenvolveu  trabalho junto aos mais pobres, conquistando o respeito e a admiração de cristãos, líderes da sociedade civil e comunidades. Dois serviços muito importantes foram iniciados com ele, nessa paróquia, o Ambulatório Médico e a Escola Profissional. Foi agraciado com o título de Cidadão Honorário de Belo Horizonte em 1990. Foi durante muitos anos, pároco da Igreja Nossa Senhora do Carmo, em Belo Horizonte, onde viveu até seu falecimento.

Frei  Cláudio nos deixou, marcou muito a minha vida e de tantas outra pessoas, Fica conosco sua profética ternura, a beleza da vida, de uma Igreja que nos convida a ser feliz, um Deus que nos quer não pelo medo, mas pelo amor.

Frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, ofm

Um comentário:

  1. Quanta beleza na vida desse homem de Deus, o mundo está ecessitando de pessoas assim que vive com fidelidade o Santo Evangelho

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