quinta-feira, 24 de março de 2022

10 anos da chacina de sem terra em Uberlândia (MG)


EM MEMÓRIA

Em 24 de Janeiro de 2012, eram executadas, em uma emboscada, Valdir Dias Ferreira, 40 anos e Milton Santos Nunes da Silva, 52 e sua companheira Clestina Leonor Sales Nunes, 48, membros da Coordenação Estadual do Movimento de Libertação dos Sem Terra - MLST.  O carro das vítimas foi emboscado na estrada Uberlândia - Campo Florido (MGC-455), no distrito de Miraporanga, a 40 quilômetros de Uberlândia. As vítimas foram assassinadas com tiros na cabeça. O neto de Milton e Clestina, um menino de 5 anos, sobreviveu à execução. Ele foi abandonado pelos criminosos em estado de choque e passou a vagar perdido pela estrada. Ele foi encontrado pelas primeiras testemunhas do crime.

Os sem terra estavam acampados, com 80 famílias, na Fazenda São José dos Cravos, no município do Prata, Triangulo Mineiro/MG.  A Usina Vale do Tijuco Açúcar e Álcool (com sede na cidade de Ribeirão Preto/SP) havia entrado com pedido de reintegração de posse, exibindo apenas um contrato de arrendamento da fazenda. Aquele era um período em que diversas usinas de álcool  vinham expandindo a monocultura da cana de açúcar, região, e com crescia o trabalho degradante e o uso intensivo de agrotóxico, provocando destruição do meio ambiente.

Alguns dias antes, 8 de março de 2012, essa fazenda havia sido objeto de audiência no INCRA, quando não houve acordo entre as partes. Dezesseis dias depois dessa audiência, as três lideranças que tinham uma expressiva atuação na luta pela terra na região e eram coordenadoras do acampamento foram executadas.

A emboscada

Foto: Correio de Uberlândia 23/03/2012

Um dia antes do crime os que efetuaram os disparos e o motorista do veículo no dia do crime chegaram ao assentamento junto com o olheiro dizendo que queriam fazer parte do movimento. D
ois entraram no acampamento, almoçaram na casa da do casal Cleistina e Milton e levantaram todas as informações, quando ficaram sabendo que eles iriam para Uberlândia, na manhã do dia seguinte.

Todos os três lideres do MLST foram executados com tiros na cabeça após deixarem o acampamento

De acordo com a restituição, do crime, feita em 27 de junho de 2012, quando os sem terra saíram do assentamento, em direção à Uberlândia, os criminosos os esperaram de carro, na estrada de terra, no distrito de Miraporanga, próximo à ponte do Rio Cabaçal, na MGC 455, a 40km de  Uberlândia. Os criminosos deram sinal de luz para o carro ocupado pelos integrantes do movimento MLST, para  que parassem. Lado a lado, o atirador começou os disparos. Primeiro em Valdir, que era quem dirigia e, em seguida, no Milton, que estava a se lado e que  tentou fugir, mas levou mais um tiro. Depois o atirador voltou e deu mais um tiro no Valdir e, por fim, mais dois na cabeça de Clestina, que estava no banco detrás do veículo com seu neto, uma criança de 5 anos que não teve ferimentos, mas presenciou toda a ação.

Foto: G1 18/04/2012

Resistência

Após o crime, todos os meses, até a prisão dos  criminosos, sempre no dia 24, os movimentos de luta pela terra e organizações populares fizeram manifestações no local em que os sem terra forma executados. Ocupações em órgãos do sistema judiciário, fechamentos de rodovias e celebrações.



Os sem terra foram despejados

Mesmo diante de todo o contexto de sofrimento e luto,  3 dias depois, da execução dos sem-terra, no dia 27 de março de 2012, o então juiz da Vara Agrária de Minas Gerais, Octávio de Almeida Neves, deu parecer favorável para a reintegração de posse na fazenda São Jose à Usina Vale do Tijuco. A luta conseguiu suspender temporariamente a reintegração de posse.

Contudo, em 4 de julho de 2014, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, julgou procedente e tornou definitiva a liminar de reintegração de posse a favor da Usina Vale do Tijuco Açúcar e Álcool.

O Julgamento do criminosos


Em 2015, no dia 23 de junho, após 15 horas do início do julgamento, a Justiça de Uberlândia, o autor dos disparos foi condenado à 45 anos de prisão, por ter executado as vítimas. O mandante do crime foi condenado a 15 anos de prisão. O motorista do carro usado no crime e quem forneceu informações e fez escolta do veículo do crime, foram condenados 39 anos, cada um.

Segundo os autos do processo o alvo do crime era a Clestina que, supostamente, teria denunciado, em 2009, o tráfico na região que resultou na apreensão de 300 quilos de maconha. Apesar de o alvo ter sido a líder dos sem-terra no assentamento, os outros dois foram executados, por que poderiam testemunhar o crime.

Fotos à época do crime

Cartaz: 27/03/2012


Á Companheira Clestina e aos companheiros Valdir e Milton nosso mais profundo respeito e admiração. Vocês continuam vivos em nossa caminhada, lutas, esperanças e em cada terra conquistada..

CPT Triângulo Mineiro




quarta-feira, 9 de março de 2022

De Wall Street à Amazônia: grande capital financia desmatamento via mineração

Grandes instituições financeiras norte-americanas e brasileiras continuam financiando a destruição da Amazônia, investindo em mineradoras que fazem pressão para operar em territórios indígenas, diz um novo relatório.

Reportagem é de Jenny Gonzales, publicada por Mongabay, 07-03-2022.

Entre as grandes financiadoras estão a BlackRock, o Capital Group e a Vanguard, dos EUA, que juntamente com o fundo de pensões brasileiro Previ têm participações, empréstimos e outras formas de investimento financeiro em nove companhias de mineração, num total de US$ 54,1 bilhões.

As mineradoras citadas no relatório, entre elas a Vale, a Anglo American e a Rio Tinto, têm histórico de destruição ambiental e violações aos direitos humanos no Brasil e em outros países, e várias já estão operando perto de Terras Indígenas brasileiras, poluindo rios e prejudicando a saúde de comunidades.

Um projeto de lei que tramita no Congresso permitiria a mineração em Terras Indígenas, algo que atualmente é proibido pela Constituição; a Autoridade Nacional de Mineração (ANM), por sua vez, continua registrando pedidos de mineração em áreas que se sobrepõem a TIs.

Grandes gestores de investimentos, entre eles a BlackRock e o Capital Group, estão entre as mais de uma dúzia de instituições brasileiras e norte-americanas que financiam pesadamente empresas de mineração que estão destruindo territórios indígenas e o modo de vida de seus habitantes na Amazônia.

Esta é a descoberta de um relatório publicado em 22 de fevereiro pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) – a maior organização indígena do país –, a ONG Amazon Watch e o Projeto Amazônia Minada.

As 20 instituições de investimento destinaram um total de US$ 54,1 bilhões a nove conglomerados de mineração – incluindo as gigantes Vale, Anglo American, Belo Sun, AngloGold Ashanti e Rio Tinto – entre 2016 e outubro de 2021, de acordo com o relatório.

Desse montante, US$ 14,8 bilhões vieram apenas de três empresas norte-americanas – BlackRock, Capital Group e Vanguard – sendo que a Black Rock sozinha investiu US$ 6,2 bilhões nas mineradoras. (A BlackRock, o Capital Group e a Vanguard não responderam a pedidos de comentário feitos pela reportagem da Mongabay.)

As empresas sediadas nos EUA, segundo o relatório, “continuam sendo as principais financiadoras da destruição provocada pela mineração, com a posse de ações e títulos mais significativos, ou oferecendo os maiores empréstimos ou financiando as mineradoras”, diz o relatório.

Mina de ferro e ouro localizada a 32 km do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no Amapá. Foto: Daniel Beltrá/Greenpeace.

Sete das 20 instituições de investimento são brasileiras, lideradas pela Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, seguida pelo Banco Bradesco. A Mongabay entrou em contato com a Previ e o Bradesco, mas não recebeu resposta.

As mineradoras, por sua vez, apresentaram milhares de solicitações à Agência Nacional de Mineração (ANM) para prospecção em áreas que se sobrepõem a reservas indígenas e unidades de conservação totalmente protegidas na Amazônia. A mineração em reservas é proibida pela Constituição brasileira.

Essas empresas estavam entre as 570 mineradoras, grupos internacionais e associações do setor que juntos tinham 2.478 pedidos de mineração pendentes em 261 territórios indígenas registrados na ANM em novembro passado, diz o relatório. Os pedidos abrangem um total de 10,1 milhões de hectares de terras, uma área maior do que a Coreia do Sul.

“Os valores para as operações dessas companhias no Brasil [fornecem] uma visão mais detalhada dos interesses que as instituições financeiras têm no país”, diz Rosana Miranda, assessora de campanha da Amazon Watch. “É uma rede complexa, não só devido aos meandros que envolvem as mineradoras subsidiárias, mas também pela falta de transparência do setor financeiro, que costuma ser usada como ferramenta para evitar a responsabilização por investimentos potencialmente destrutivos.”

O relatório também contextualiza a crescente financeirização do setor de mineração, dado o aumento do preço de várias commodities minerais. Isso levou a um novo boom, com o valor de mercado das 50 maiores mineradoras do mundo subindo de mais de US$ 1 trilhão durante o primeiro ano da pandemia de covid-19 para US$ 1,4 trilhão em julho de 2021, de acordo com o relatório.

Miranda diz que muitos bancos e gestores de ativos justificam esses investimentos como “passivos”, sobre os quais eles têm pouca influência. “Isso é uma ideia falsa, não só porque eles podem (e devem) ter mais controle sobre seu portfólio, mas também porque os fundos indexados têm critérios de seleção que são criados pelos gestores dos fundos – e se este critério não está levando em conta o futuro do planeta, então precisa ser revisto”, diz ela.

Entre 2016 e 2021, os cinco maiores financiadores de mineradoras destacados no relatório eram empresas do Brasil e dos Estados Unidos. (Imagem: Amazon Watch/APIB/Profundo Research and Advice)

“As áreas indígenas sempre estiveram sob muita pressão por parte do setor da mineração, mas o que está acontecendo no governo Bolsonaro é um ataque coordenado no momento dessa pressão”, diz Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, uma rede de organizações da sociedade civil brasileira que defende ações para evitar as mudanças climáticas.

Astrini observou que o PL 191 – um projeto de lei que está tramitando no Congresso Nacional com o objetivo de liberar as atividades de mineração em territórios indígenas – veio logo depois de conversas com mineradoras. “Agora também há investidores, como mostra o relatório, colocando dinheiro nessa agenda de invasão das áreas indígena. Os povos indígenas no Brasil estão passando por um dos momentos mais delicados porque há várias forças econômicas e políticas contra essas populações.”

O Projeto de Lei 191/2020, que tramita no Congresso, permitiria a mineração em Terras Indígenas – uma atividade que atualmente é proibida pela Constituição –, negando o direito de veto dos povos originários. Se o projeto for aprovado, o impacto na Amazônia será imensurável, alertam ativistas. Imagem: Amazon Watch.

Financistas afetam a vida dos povos indígenas

Em 2021, o desmatamento associado à mineração na Amazônia brasileira aumentou 62% em relação a 2018, o ano anterior à posse de Jair Bolsonaro como presidente. Apesar da atividade de mineração nos territórios indígenas ser ilegal, empresas têm pressionado para que isso seja permitido.

Entre elas está a Vale, a maior mineradora do Brasil e a quinta do mundo em termos de faturamento. A Vale, junto com a Samarco e a BHP, foi responsável pelo colapso de uma barragem de rejeitos no município de Brumadinho (MG) em 2019, que desencadeou um dos maiores desastres da mineração do mundo. Embora a Vale tenha anunciado em setembro passado que abriria mão de todos os seus pedidos de mineração em Terras Indígenas, no mês seguinte a empresa apresentou dois novos pedidos de prospecção em áreas adjacentes à TI Xikrin do Cateté, no Pará, lar dos povos Kayapó e Xikrin. Em novembro passado, a Vale tinha 75 solicitações pendentes junto à ANM que se sobrepunham a Terras Indígenas da Amazônia.

Desde 2011, a Vale vêm extraindo níquel perto da Terra Indígena Xikrin do Cateté. Um estudo da Universidade Federal do Pará (UFPA) encontrou níveis excessivos de contaminação por metais pesados em todas as amostras retiradas dos habitantes da comunidade, e alertou que, sem medidas para conter a poluição no Rio Cateté causada pela mina Onça Puma, “estaremos vendo o fim da etnia Xikrin”.

A Vale nega que sua mina seja responsável pelos impactos identificados pelos pesquisadores da UFPA na comunidade indígena.

Em um comunicado, a Vale afirmou que não tem direitos sobrepostos a reservas indígenas no Brasil. “Em 2021, a Vale renunciou a todos os seus direitos minerários em Terras Indígenas no Brasil, tendo, ainda, desistido dos pedidos de autorizações para pesquisa e concessões para lavra (extração) mineral.”

A companhia acrescentou que mantém pedidos de permissão de exploração e concessões de mineração em áreas vizinhas a Terras Indígenas “sem qualquer interseção com áreas demarcadas no país, em plena conformidade com a legislação vigente no Brasil.”

Além disso, a Vale disse que as acusações de contaminação no Rio Cateté são “improcedentes”, citando relatórios de especialistas que comprovam “não haver causalidade entre a operação de mineração de Onça Puma e a suposta contaminação.”

A ANM não respondeu aos pedidos de comentário da Mongabay sobre por que continua registrando pedidos para atividades de mineração em terras que se sobrepõem a reservas indígenas. Uma portaria de 2015 exige que as operações de mineração mantenham um distância de pelo menos 10 quilômetros de terras indígenas.

O Rio Paraopeba, em Minas Gerais, depois do colapso da barragem de rejeitos de mineração das empresas Vale, Samarco e BHP. Até hoje, o rio continua contaminado com ferro, manganês e cobre. Foto: Christian Braga/Greenpeace

“Companhias como a Vale declararam que retirariam os pedidos feitos à ANM e, ao mesmo tempo, receberam um financiamento gigantesco nos últimos anos”, disse Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Apib, à Mongabay.

“Mesmo que elas se mudem para áreas próximas [às reservas indígenas], conforme permite a Portaria 60/2015, essas atividades contaminam nossas terras de qualquer forma, uma vez que os metais pesados associados à mineração acabam alcançando os leitos dos rios que correm pelas reservas”, acrescenta Dinamam Tuxá.

Angohó Pataxó, líder comunitária e uma dos 222 indígenas cujas terras e vidas foram afetadas pelo desastre da barragem de Brumadinho, disse à Mongabay que a Vale não reconhece que os impactou diretamente [com o desastre].

“Eles argumentam que nós não vivíamos perto da barragem, mas a cerca de 20 quilômetros dali”, disse ela em entrevista por telefone. “O Rio Paraopeba, contudo, que corre pela aldeia, foi contaminado, bem como nossas terras. Não podemos mais pescar ou caçar, vivemos de doações. E não podemos batizar as crianças que nasceram desde o desastre porque o rio está morto.”

NOTA: Em e-mail enviado em 7 de março de 2022, após a publicação da reportagem, a AngloGold Ashanti informou que “não opera e não tem interesse em operar em Terras Indígenas”. Segundo a nota de posicionamento, a empresa solicitou requerimentos de pesquisa mineral em diversas regiões no país na década de 1990. “Três dessas áreas posteriormente foram demarcadas como Terras Indígenas, o que levou a companhia a desistir das mesmas. No entanto, como não houve atualização do processo no sistema da ANM, a AngloGold Ashanti ratificou a retirada do requerimento de pesquisa em 21 de junho de 2021.”

No Tapajós, garimpo ilegal destrói sítios arqueológicos que jamais serão conhecidos

Fonte: MONGABAY

Mais reportagens da Mongabay sobre mineração aqui.

segunda-feira, 7 de março de 2022

CNBB e organismos da Igreja, contra projetos de lei de mineração em terras indígenas


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e organismos da Igreja do Brasil divulgaram nesta segunda-feira, 7 de março, uma mensagem contra o Projeto de Lei (PL) nº 490/2007, que dificulta a demarcação de terras indígenas, e o PL 191/2020, que regulariza a mineração em terras indígenas.

No documento, as organizações manifestam “preocupação com as iniciativas econômicas ligadas à mineração” e fazem um chamado para que todos os cristãos “protejam a vida, os povos originários e as florestas”. O texto afirma ainda que “ministros e lideranças do governo falam há dois anos em ‘passar a boiada’ enquanto o povo está ‘distraído’ e que “agora, com o planeta olhando com atenção à guerra que acontece na Europa, parlamentares governistas querem apreciar em regime de urgência essas proposições, a começar pelo PL 191/20”.

Para as organizações, a não promoção de uma discussão ampla com o conjunto da sociedade brasileira esconde o verdadeiro desastre social, ambiental e trabalhista que tem sido recorrente nas atividades mineradoras, se agravando os conflitos com povos indígenas. Assinam a carta os presidentes da Comissão Episcopal Especial para a Ecologia Integral e Mineração, a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM-Brasil e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

Leia a carta na íntegra

Povos indígenas na casa comum: um direito inviolável

Louvado sejas, meu Senhor, que no Cântico das Criaturas recordas que a Terra, a nossa Casa Comum, se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços. Nós mesmos somos terra (cf Gen 2,7; LS 1-2).

Desde o processo que culminou na promulgação da Constituição Federal de 1988, está havendo uma investida para apropriação dos territórios indígenas – seja por mineradoras ou por empresários do agronegócio. Nos dois últimos anos, o Parlamento brasileiro tem tentado permitir a mineração em territórios indígenas, por meio dos Projetos de Lei 490/2007 e 191/2020, que se tornaram prioridades anunciadas pelo Governo Federal, por meio da Portaria nº 667, de 9 de fevereiro de 2022.

O primeiro projeto permite exploração mineral, turismo, agronegócio e cria o marco temporal, enquanto o segundo propõe a permissão de pesquisa e da lavra de recursos minerais e hidrocarbonetos, bem como o aproveitamento de recursos hídricos para geração de energia elétrica em terras indígenas, e institui a indenização pela restrição do usufruto de terras indígenas.

Não é à toa que ministros e lideranças do governo falam há dois anos em “passar a boiada” enquanto o povo está distraído. Agora, com o planeta olhando com atenção à guerra que acontece na Europa, parlamentares governistas querem apreciar em regime de urgência essas proposições, a começar pelo PL 191/20. Sem discussão com o conjunto da sociedade brasileira, esconde-se o verdadeiro desastre social, ambiental e trabalhista que tem sido recorrente nas empresas de extração mineral, se agravando os conflitos com povos indígenas.

Reiteradamente, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem manifestado preocupação com as iniciativas econômicas ligadas à mineração, para alterar os territórios preservados em nosso País. É um chamado a todos os cristãos para que protejam a vida, os povos originários e as florestas. Não aceitamos a legalização da poluição dos rios e das populações com mercúrio, a destruição dos barrancos e dos igarapés, a abertura de novas frentes de desmatamento da Amazônia e o genocídio dos povos.

A vida está em primeiro lugar, perante qualquer tipo de argumentação para o desenvolvimento econômico. Para qualquer iniciativa, se faz muito necessário um amplo e irrestrito debate com o conjunto da sociedade brasileira, principalmente os povos indígenas, que bem-informados precisam decidir sobre os usos do território, respeitando-se seus direitos já consagrados na Constituição e nos Acordos e Convenções internacionais dos quais o Brasil é signatário.

A crise no equilíbrio climático, os fenômenos meteorológicos extremos, a contaminação de territórios até agora protegidos, a criminalização e perseguição de lideranças que defendem suas comunidades e territórios são fruto dos projetos gananciosos do extrativismo predatório, associados a grandes empresas e bancos internacionais. Parar a tramitação desses projetos e iniciar um debate aberto e profundo é o mínimo que exigimos de nossos parlamentares.

Brasília-DF, 4 de março de 2022.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Dom Sebastião Lima Duarte

Presidente da Comissão Episcopal Pastoral Especial Ecologia Integral e Mineração

Dom Erwin Kräutler

Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM-Brasil

Dom Roque Paloschi

Presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI)

Fonte: CNBB

terça-feira, 1 de março de 2022

Honduras cancela mineração a céu aberto

Foto: EFE

O governo de Honduras anunciou nesta segunda-feira (28) que foram canceladas as permissões de explorações extrativas e declara todo o território hondurenho livre da mineração a céu aberto, com base nos princípios de justiça climática, respeito e proteção dos recursos naturais.

Como parte do Programa de Governo 2022-2026 do Presidente Xiomara Castro, a agência afirmou em comunicado que: "A aprovação de licenças de exploração extrativista está cancelada, pois são prejudiciais ao Estado de Honduras, que ameaçam os recursos naturais, a saúde pública e limitar o acesso à água como um direito humano". O comunicado também afirma uma moratória mineira para a exploração e extração metálica e não metálica, para uma uma revisão, suspensão e cancelamento de licenças, alvarás e concessões ambientais.

Abaixo, o comunicado governo hondurenho:




Fonte: Red Iglesias y Mineria, TeleSurTv