segunda-feira, 21 de abril de 2025

Francisco, um Evangelho vivo

Na manhã desta segunda-feira, 21 de abril, o mundo se despediu de uma das vozes mais humanas e proféticas do nosso tempo. O Papa Francisco, aos 88 anos, partiu para a Casa do Pai, encerrando um pontificado que ficará gravado na história não apenas da Igreja Católica, mas da humanidade.

Francisco foi o Papa da proximidade, da escuta e da compaixão. Sua vida inteira foi dedicada ao serviço de Deus e da Igreja, mas com os pés no chão e o coração junto ao povo. Em seus doze anos como Bispo de Roma, fez questão de lembrar a todos que o Evangelho não se vive apenas nos altares, mas principalmente nas ruas, nas periferias, nas prisões, nos lixões, nos campos e nas favelas.

Com os Olhos da Compaixão, Um Papa ao Lado das Vítimas

Entre tantos gestos que marcaram o seu ministério, um dos mais tocantes para nós, no Brasil, foi sua solidariedade com as vítimas do crime-desastre da Vale, em Brumadinho (MG), em 2019. Ao receber, das mãos de Dari Pereira – sobrevivente do rompimento da barragem – e do irmão franciscano Rodrigo Péret, fotos com os nomes dos 270 mortos naquela tragédia crime, o Papa se comoveu profundamente. Abençoou as imagens, manifestou solidariedade às famílias e a todos os atingidos. Mais do que palavras, acolheu os rostos da dor com um gesto de carinho, respeito e justiça.

Dias depois, enviou um representante à comunidade de Brumadinho: Monsenhor

Duffé. E com ele, enviou também sua cruz peitoral – símbolo da presença espiritual e do compromisso do Papa com os que sofrem. O gesto foi entregue durante o "Sábado da Compaixão e da Solidariedade", nas regiões mais afetadas pelo crime. Um sinal claro: o Papa estava ao lado das vítimas, não dos poderosos.

Primeiro em Gestos, Profeta em Ações

Francisco também foi o primeiro em muitas coisas. O primeiro Papa jesuíta. O primeiro latino-americano. O primeiro a escolher o nome Francisco, inspirado no santo de Assis, patrono dos pobres e da ecologia. Foi o primeiro a morar fora do Palácio Apostólico, a visitar lugares nunca antes alcançados por um pontífice, como o Iraque. Foi o primeiro a assinar uma Declaração de Fraternidade com um líder islâmico e o primeiro a dar cargos importantes na Cúria a mulheres e leigos. Enfrentou com coragem os escândalos de abuso sexual, aboliu o segredo pontifício nesses casos e reformou o Catecismo, declarando inadmissível a pena de morte.

Papa Francisco sempre ressaltou que todos somos irmãos e irmãs, e que a fraternidade e a amizade social são caminhos essenciais para restaurar a dignidade de cada ser humano. Com seu espírito acolhedor e olhar misericordioso, ele deixou uma marca profunda ao propor respostas pastorais sensíveis e ousadas para desafios complexos da vida moderna. Estendeu sua escuta e cuidado aos idosos, aos que vivem na solidão, aos desempregados, migrantes, pessoas da comunidade LGBT, divorciados e tantos outros frequentemente esquecidos ou marginalizados pela sociedade e até mesmo pela própria Igreja.

Denunciou a ganância corporativa, a destruição da natureza, as guerras “em pedaços” que ensanguentam continentes. Mas foi no gesto, mais do que nas palavras, que sua humanidade se revelou com mais força.

Francisco foi o Papa que devolveu à Igreja seu rosto mais humano. Com suas "Sextas-feiras da Misericórdia", visitou presídios, hospitais, centros de acolhimento. Ligava de surpresa para pessoas doentes, pobres, solitárias. Encontrava-se com movimentos populares e dizia: "Terra, Teto e Trabalho são direitos sagrados!". Denunciou com firmeza a economia da exclusão e a cultura do descarte, clamando por uma globalização da esperança.

“Colocar a economia a serviço do povo, construir a paz e defender a Mãe Terra” – esse era o chamado que deixava às nações, aos movimentos e aos fiéis de todos os credos. Com a encíclica Laudato Si’, fez da ecologia integral uma bandeira espiritual e ética, reforçando que o cuidado da casa comum é uma exigência de fé e de justiça.

Partiu o Pastor, Ficam as Pegadas

Sua morte deixa um vazio imenso. Mas seu legado permanece. Francisco não foi apenas o líder da Igreja Católica; foi um profeta dos nossos tempos, uma consciência para o mundo. Sua voz, muitas vezes solitária, denunciou guerras, clamou pelos migrantes, defendeu os pobres, protegeu a natureza e nos lembrou que, no fundo, somos todos irmãos.

Descanse em paz, querido Papa Francisco. A sua vida foi um Evangelho vivo. E as sementes que lançou – com gestos, palavras e escolhas – continuarão florescendo nos corações e nas lutas do povo.

Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade - AFES

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